- Ontem foi a primeira vez que vi meu irmão mais velho depois de tanto tempo. Quando ele se mudou, eu tinha 8 anos e ele 16, então fiquei com seu quarto.
- Nossa, Matheus, deve ter sido um grande reencontro! - exclamou Sara.
Matheus franziu os lábios e balançou a cabeça negativamente.
- Na verdade, não. Preferia nunca mais tê-lo visto. - ele abaixou os olhos e Sara esperou que o amigo terminasse - Pra começar, ele analisou meu quarto de cima a baixo e disse 'meu quarto não é mais o mesmo'. Brinquei respondendo 'é porque não é mais seu', só que ele me olhou como se estivesse prestes a esmagar-me e retrucou com 'o que é meu nunca deixa de ser'. Meu irmão é psicopata, patologicamente falando.
- Deixa de besteira, o que te faz pensar isso?
- Bom... Quando ele tinha 13 anos, esmagou o pintinho de estimação com as próprias mãos porque o pobre animal fazia muito barulho. Pelo que meus pais me contaram, com 5 anos já usava os coleguinhas para brincadeiras sexuais e era muito fácil de haver explosões de raiva. Tentou matar a mamãe botando veneno em sua comida. Pelo menos nutria respeito pelo nosso pai. Ah, a minha cicatriz no queixo foi quando ele tentou me matar com uma tesoura.
Sara ficou boquiaberta, então Matheus continuou:
- Ele ama ver a destruição. É aquela pessoa que quando chega, todos ficam vulneráveis, todos são presas fáceis. Infelizmente, consegue atuar emoções e gentileza muito bem e poucos acreditam na verdadeira história. Estou com medo. Medo de ser torturado ou até mesmo morto por esse perverso que é meu irmão mais velho. O juiz disse que devo ficar sob sua guarda até que eu alcance a maioridade ou tenha vida estável independente.
- Wow. Isso vai ser difícil. Vamos lá, é só não ficar em seu caminho. Saia mais de casa, evite sua companhia o máximo possível. Se saírem juntos, deixe que ele fale e infle seu ego. Minha mãe estuda psicopatas e me ensinou como agir para não ser um alvo tão fácil. Você vai se dar bem, é ótimo ator.
Nem assim Matheus sentiu-se confortável.
domingo, 26 de julho de 2015
Perverso
terça-feira, 21 de julho de 2015
Infância corrompida
Eu adoro a capacidade que tenho de atuar sentimentos. Nunca senti nem uma pontada de amor ou carinho pelos meus pais, nunca foram minha segurança, mas consigo convencê-los do contrário.
Adoro isso.
É a maior facilidade do mundo manipular gente sensível.
Eu adorava machucar animais quando criança. Adorava o miado de desespero do gato quando eu o erguia pela cauda. Matar a galinha e despejar seu sangue nos filhotes. Eu ria com as reações deles.
Minha infância não foi normal, definitivamente. Meu florescimento sexual foi extremamente precoce. Com cinco anos eu já estava vendo pornô. Com oito eu já me masturbava furiosamente: chegava a 10 vezes por dia, parava o que estava fazendo para ir ao banheiro.
Ah... Eu adoro falar de mim. Falar sobre a minha superioridade. A verdade está tão enterrada que eu nem mesmo lembro quem sou às vezes. No entanto, minha verdadeira identidade aparece quando vejo sofrimento ou imponho medo. É delicioso. Eu tenho o maior prazer do mundo em te ver sangrar. Eu amo a sua cara de preocupação quando falo que estou mal. Você me dá a mão, mas eu engulo até seus ombros. A humanidade é meu instrumento e sempre irei querer mais e mais, até restar uma versão anêmica de ti.
E não pense que irei mudar.
Eu já tentei.
domingo, 19 de julho de 2015
O que meus pais biológicos me ensinaram
O que meus pais biológicos me ensinaram: Arrogância, egoísmo, ignorância, extrema individualidade, irritabilidade precisa reinar.
Conto nos dedos as vezes em que me chamaram para elogiar. A maior parte eram críticas, farpas, repreensões. Sempre trancado. Sempre isolado. Sempre alienado.
Eu nunca achei que um dia poderia ser feliz dentro da casa deles. E sempre acharei.