domingo, 20 de janeiro de 2013
sábado, 19 de janeiro de 2013
Saint Mary-Ann
O tempo está lindo lá fora, não é mesmo, Mary-Ann?
Borboletas trotando
Abelhas colhendo o milho
Os tempos de loucura estão acabando
Eu vou ter alta
Eu vou ter alta
E continuar andando sozinho além da escuridão
A noite está tão clara lá fora, Mary-Ann
Aaaah, pare de me cutucar
A mulher tinha cabelo negros e me olhava com aqueles olhos vazios contrastantes com a pele cor de osso. Seu vestido branco e um pouco manchado de sangue não me amedrotavam, na verdade, a achava bela e inteligente.
- Venha, Mary-Ann, estou escrevendo sobre você. - sorri.
Ela deu um grito ensurdecedor abrindo sua boca internamente negra forçando o maxilar a quebrar. Eu ri, vendo-a se aproximar.
- Não precisa disso para chamar minha atenção. - falei, mostrando o caderninho.
Ela leu lentamente e sorriu para mim, mostrando os dentes serrados, pontudos e enegrecidos.
"Aaah falei que ela iria gostar" disse Samael.
"Nem precisava dizer" respondi de volta.
"Cale-se, Samael" retrucou Rafael.
- CALEM A BOCA! - berrei. - Nãão Mary-Ann, não é com você, minha querida! É com o Samael e o Rafael, aqui dentro... - apontei para minha cabeça. - Caalma, não gritei por querer... Ah, não chore... - peguei em sua mão extremamente fria. - Você quer deitar? Me desculpe por pegar sua cama, eles não conseguem te ver.
Ela sentou-se ao meu lado, seus olhos começaram a escorrer sangue.
- Não chore, minha linda. - peguei sua cabeça e a pus em meu ombro, ninando-a com delicadeza.
Karoline entrou em meu quarto com meus remédios. Mary-Ann assistia atenta. Tomei os remédios silenciosamente com os olhos vidrados. Karoline fitou minha mesa de trabalho.
- Belos chapéus... onde está aquele colorido? - indagou. Eu atirei o copo de plástico contra a parede.
- Dei para a Mary-Ann. Ela fica linda com cores vivas. - respondi, estressado.
- Mary-Ann está morta.
- Mary-Ann é mais viva do que muitos vivos por aí. Ela é uma menina doce e cheia de vida e amor. É a minha melhor amiga aqui.
- Ela está aqui?
- Sim, ela está apertando meu braço.
- Então ela não é uma pessoa boa se está te machucando.
- Ela está apertando meu braço porque tem medo de você.
Karoline pareceu engolir em seco.
- Mary-Ann não existe, não tem motivos para ficar com medo de mim.
- ENTÃO POR QUE FICASTE NERVOSA? - gritei, fazendo-a pular. - ME DIGA!
- Não fiquei nervosa, mas que droga. Não vou discutir com um retardado.
- EU NÃO SOU RETARDADO! VIM PARA CÁ PORQUE O MALDITO DO MARIDO DA MINHA MÃE ACHOU QUE EU ERA LOUCO POR VER A VADIA DA AVÓ DELE VAGANDO PELA CASA! - Mary-Ann agora chorava entre soluços em meu ombro, apertando meu braço como nunca, como se me impedisse de avançar na doutora. Eu não deixaria de acatar um pedido dela.
Karoline continuava com cara de idiota, nem ligava para o copo caído perto da minha mesa de trabalho.
- Você quer que eu pergunte a ela o motivo de ter medo? - perguntei, calmo.
- Não quero nada com os mortos da sua cabeça. - ela recolheu o copo e antes de sair, disse: - Ana Flavia virá daqui a pouco.
- SÉRIO? - exaltei-me junto de Mary-Ann. Ela adorava minha filha.
Ana era minha filha postiça, apesar de termos quase a mesma idade. Nos conhecíamos desde a infância.
- Estão te tratando bem aqui? - perguntou Ana, fitando as paredes brancas acinzentadas do meu quarto.
- Na verdade quase não falam comigo. Só a Mary-Ann que me faz companhia.
- Desde quando ver espíritos é loucura? Espero que quando chegar o século XXI essas coisas estejam muito bem enterradas nas memórias dos mais velhos.
- Duvido... - olhei para Mary-Ann, ela batia palmas enquanto vomitava um treco escuro e viscoso em enorme quantidade.
- Sinto frio do meu lado direito. É como se um iceberg estivesse do seu lado. - disse Ana.
- É só Ann. Ela é muito fria às vezes... principalmente quando está vomitando! - dei tapinhas em suas costas.
- Não se pode dizer o mesmo de você... - disse Ana, esfregando as mãos.
- Hein?
- Foi colocado neste quarto por mal comportamento! Sabe que os pacientes que vieram para esse, enlouqueceram muito mais e surtavam violentamente, não aguentando ficar aqui.
- Eles não sabiam apreciar uma bela companhia.
- Hm... se continuar assim, não vai ter alta nunca.
- E negar a existência da minha melhor amiga?
- Você pode leva-la para casa!
- Hm... - olhei para Mary-Ann. Ela pareceu gostar da ideia. - Certo.
- Te dou uma semana para se ajeitar.
- Estarei ajeitadinho e prontinho até lá. - sorri abertamente.
Quando ela foi embora, tomei banho e tentei parecer o mais apresentável possível.
Karoline veio ver como eu estava e se surpreendeu.
- Nossa, não sabia que iria a alguma festa. - ela disse.
- Que nada. - sorri. - Só quero ser mais apresentável. Ah, já te falei que cada vez menos estou vendo espíritos? - indaguei, confiante.
- Sério? Então está melhorando. Isso é bom. Irei repassar seu relatório ao diretor. - virou-se para sair. - Descanse.
- Obrigado.
Assim que ela saiu, Mary-Ann começou a dançar pelo quarto. Eu a aplaudi da cama e fui até a mesa de trabalho. Fazer chapéus era gratificante.
"Chapéus? Faça bandanas!" - disse Samael, inquieto e me mostrando texturas de cores mentalmente.
- Certo, farei bandanas também. O que você acha, Rafa?
"São lindas!"
Mary-Ann alegremente ficou tentando cantar, mas só conseguia sair algo esganiçado de sua boca. Ela ficara frustrada e começou a chorar copiosamente. Eu parei o que fazia e me virei para ela, olhando em seus olhos vazios.
- Ah, minha querida, eu gosto quando canta. Não se sinta frustrada.
Ela deu um belo sorriso e recomeçou a cantar agudamente.
- Você precisa de uma roupa bem colorida... Vou fazer um vestido novo pra você. - ditei, tornando minha expressão paterna.
Mary-Ann bateu palmas. Ela era tão simpática... como não gostavam de ficar perto dela?
- Você tem outro sapato? - perguntei.
Olhou para baixo por alguns minutos, então tornou a me fitar e acenar positivamente com a cabeça.
Duas semanas se passaram. Eu fingia não ver Mary-Ann quando Karoline ou o diretor vinham em visitar, ela entendia o motivo de ignora-la em tais ocasiões. Às vezes ela se incomodava quando Karoline passava a mão em meus cabelos e dizia "logo estará livre da gente", mas eu não ousava perguntar o por quê.
- Ele disse que eu vou ser liberado amanhã, Mary! - exclamei para minha melhor amiga, quando o diretor tinha saído do meu quarto. Ela pareceu preocupada, mas tentou mostrar-se feliz. - O que foi, minha Sweet Ann? -
Karoline bateu à porta e Mary-Ann soltou seu habitual grito grotesco que deixaria alguém normal de cabelo em pé.
- Olá, Karoline. - falei, atento.
- Vim lhe pedir para ir dormir. Amanhã será um grande dia para você.
- Tens razão. Devo mesmo me recolher. Obrigado.
- Não quer um remédio? - perguntou como quem não queria nada.
- Não aguento mais ver remédios na minha frente. - respondi, calmo. Mary-Ann parecia nervosa ao meu lado.
- Mas é só um remédio para dormir melhor. Não pode acordar no meio da madrugada.
- Eu não acordo no meio da madrugada, não se preocupe. Meu sono sempre foi tranquilo.
- Tem certeza? Tenho um ótimo.
- Eu já disse que não preciso. Por favor, me deixe dormir sossegado, estou me estressando.
- Certo. - deu-se por vencida. - Boa noite.
- Buona sera. - respondi e ela saiu.
Mary-Ann pareceu mais aliviada.
- Calma, vai acabar tudo bem. Amanhã, quando eu acordar vou te dar o vestido prometido.
Fui me deitar e pude contemplar pela primeira vez as estrelas através da janela.
"Não achaste suspeito a atitude da doutora?" perguntou Rafael.
"Eu ficaria mais esperto se fosse você" disse Samael.
"Por que ela faria alguma coisa contra mim? Se quisesse me matar, por exemplo, já teria o feito"
"Não duvide do diabo, pois o diabo não duvida de você" os dois disseram em coro. Arrepiei-me com tal frase, será que tinham razão?
Fitei Mary-Ann encolhida perto da minha cama, ela estava aparentemente tentando aguçar os sentidos atrás de qualquer perigo que pudesse aparecer.
- Até você, pequena? - perguntei. Ela virou pra mim e baratas saíram de sua boca. Seus olhos vazios e escuros como um abismo focaram-se em mim. - Não fique nervosa, vai dar tudo certo.
Minha visão desfocou de sono e pude descansar o corpo, pela primeira vez depois de chegar no sanatório.
Sonhos, sonhos... Encontrei Samael discutindo com Rafael sobre algo, apenas me aproximei e sentei na grama. Os dois costumavam brigar por qualquer coisa, afinal um era anjo e outro demônio, vai entender...
- Parem de brigar... - pedi, sonolento.
Eles me olharam por alguns segundos e então fizeram uma expressão que me fez levantar.
- Não é o grito da Mary-Ann? - indagaram os dois.
Acordei e vi Karoline numa versão monstruosa encima de mim. Antes que eu pudesse perguntar ou dizer alguma coisa, senti uma faca sendo cravada em meu ombro, com certeza estava mirada para o meu coração, mas o escuro noturno não permitia enxergar com clareza. Segurei seu punho para não ir mais fundo, visto que era sua intenção e a joguei para longe de mim.
Tirei a faca do meu ombro, pela pouca luz que a lua minguante concedia percebi o líquido vermelho brilhando na lâmina - que por sinal, denunciava ser de cozinha. Joguei-a para debaixo da cama.
- VOCÊ É MUITO CEGA! - berrei para Karoline, caída perto da minha mesa de trabalho. Havia batido a cabeça violentamente contra o pé de ferro da mesa. Mary-Ann a olhava com ódio... tanto que pela primeira vez fiquei com medo dela.
Sangrando muito e com dor, aproximei-me da doutora que tentava se levantar. Peguei sua cabeça com o braço bom e o rebati novamente contra o ferro, desta vez desacordando-a.
- Cuide dela, Mary-Ann... - pedi. Com a mão direita tentava impedir o sangue de sair e com a esquerda, apoiava-me na parede em direção ao quarto do inspetor do andar.
Bati à porta e logo fui atendido - eu sabia que Frank ficava até tarde jogando GTA ou Minecraft.
- Mas o que aconteceu com você? - pegou em meu ombro, preocupado.
- Primeiro cuide disso aqui, depois respondo... Mande alguém ficar de olho em Karoline...
- Agora eu sei o motivo da Mary-Ann ter ficado nervosa quando aquela doutora do demone veio me oferecer remédio. - ditei, contemplando os pontos no lugar do corte. Ana me fitava com revolta no olhar. - Huhuhu parece que sou um imã para hospitais.
- Não tem graça! Ainda bem que ela foi presa...
- Aliás, descobri que Mary-Ann foi morta por Karoline... só que como era ingênua, aceitou os remédios e morreu sem reagir. - bufei, levantando-me e vestindo a camisa.
- Como conseguiu joga-la tão longe?
- Esqueceu que eu era o mais forte da turma? - ri secamente.
- Claro que lembro. "Tão forte capaz de virar um carro de cabeça pra baixo". - devolveu o riso. Parecia que tínhamos fumado maconha.
Saímos do hospital e encontrei o carro de Victor nos esperando na garagem.
- VICTOR? - corri até ele como um cachorro que há anos não via o dono.
- Calma, Sr. Jones. - acariciou minha cabeça, dando um sorriso cínico. Ha, eu sabia que ele estava tão exaltado quanto o cachorro aqui.
- Quando chegou de viagem?
- Faz umas quatro horas.
- AAAAAAH QUE CARINO! Vindo aqui só pra me ver!
- Que tal entrarmos no carro?
Victor era um amigo de infância, como Ana.
Mary-Ann sentara-se ao meu lado no veículo. Usava o vestido colorido e uma sapatilha branca como sua pele.
O dia estava lindo, era maravilhoso ver a luz do sol livremente, sem médicos pra todo lado... Nem portões impedindo a aproximação do mundo exterior.
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
Vivendo morto
Eu sinto que não estou vivendo
Apenas um morto se fingindo de vivo
Esperando a hora de começar a viver
Eu choro todos os dias
Molhando o asfalto escuro
Não iluminado pela luz da lua
Eu finjo um sorriso
Coloco uma máscara
E todos acreditam
Não sabem...
Não entendem...
Não quero permanecer aqui
Sentado esperando o tempo passar
Reprimido pelas pessoas que deveriam dar apoio
Eu não estou vivendo
Estou passando a tristeza na loucura
Meus olhos ardem, mãe
E você não faz nada
Não vê a desesperança remoendo em minha alma
Quando eu vou parar de imaginar uma vida feliz
Para vivê-la de fato?
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
quarta-feira, 9 de janeiro de 2013
Kiss My Eyes And Lay Me To Sleep
Kiss My Eyes And Lay Me To Sleep
This is what I brought you,
This you can keep.
This is what I brought
You may forget me.
I promise to depart,
Just promise one thing,
Kiss my eyes and lay me to sleep.
This is what I brought you,
This you can keep.
This is what I brought you,
May forget me.
I promise you my heart,
Just promise to sing,
Kiss my eyes and lay me to sleep.
Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh
Kiss my eyes and lay me to sleep.
This is what I thought,
I thought you need me.
This is what I thought,
So think me naive.
I promised you a heart,
You promised to keep,
Kiss my eyes and lay me to sleep.
Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh
Kiss my eyes and lay me to... Sleep.
terça-feira, 8 de janeiro de 2013
Na real...
Eu quero que você me diga que foi real
Eu quero que você me diga que não estou louco
Eu quero que você me diga que não foi uma mentira
Somos amigos mesmo?
Espere, "fomos"?
Eu quero ver seus cabelos dourados novamente como as primeiras coisas que eu via pela manhã
Eu quero ter essa certeza, meu amigo morto
Será que foi só imaginação?
Eu entendo sua morte e reação
Estava sozinho e você veio conversar
Não dá pra esconder sua aura de compaixão
A sua carta?
Eu nem sabia dela
Mas você me contou o último trecho
E vi que era verdade
Você não gosta da minha companhia
Duvidam de ti
Sua filha?
Eu pensava que se dava bem com a mãe
Mas você me contou que não era bem assim
Era bestial como eu sabia por ti
Mas mesmo assim ninguém acreditava
Eu não ligo
Desde que você prove que realmente isso tudo foi verdadeiro
Sua voz é bonita sim
Diverte-me
Tenha coragem para provar a verdade em seu coração falecido
Eu sei que você continua tendo
Seu humano nunca extinguiu
Eu quero que você olhe para mim com seus profundos olhos azuis
E diga que está tudo bem
Que eu soube confiar na pessoa certa
Not Afraid
Aquilo nas minhas mãos era sangue... Sangue!
Logo uma tonteira me fez cair, e tudo se apagou.
Acordei lentamente, como se ainda não tivesse acordado. Vi dois rostos próximos do meu, como se estivessem me esperando. Um era pálido, possuía olhos semelhantes a ônix, cabelos lisos um pouco ondulados e negros, curtos, só que mais compridos na frente para deixar poucas mechas na testa.
O outro era mais amorenado, olhos cor de chocolate, cabelos castanhos que se formavam em belos cachos nem grossos nem finos, estes caíam-lhe sobre os olhos. Ambos eram crianças de aparentemente 7 anos.
Sentei e os fitei. O de cabelos negros usava roupas inteiramente pretas. O amorenado usava calça jeans escura, camisa preta e tênis vermelho.
- Quem são vocês? - perguntei.
- Eu sou Ben. E esse é o Diogo. - respondeu o "gótico". - E você?
- Zero... Sued...
- Parece perdido. Não é daqui, né? - indagou Diogo.
- Acho que não... - falei, tentando levantar. Eles fizeram o mesmo.
Foi então que percebi. Minha estatura não estava como devia estar. Eu com certeza diminuí. Olhei para as minhas mãos, pareciam encolhidas.
- Alguém tem um espelho? - perguntei. Minha voz soava infantil, como aqueles seres que me faziam companhia.
- Eu tenho. - Ben tirou um espelho do casaco que usava.
Quase caí para trás, minha aparência era a mesma da de 8 anos atrás... Eu tenho certeza que fiz 15 ano passado... Acho que ainda não acordei.
Devolvi o espelho e olhei em volta: era um campo.
A grama alcançava meu tornozelo e o céu era de um azul bem vivo, o sol estava baixo.
- Venha conosco! Vamos pegar nossos bichos de estimação com o Palhaço Pedro.
- Opa, opa, eu não gosto de palhaços, não gosto mesmo. - ditei, tendo calafrios.
- Não tem problema, Pedro é bom e adora crianças. Ele é dono do pet shop. - argumentou Ben, sorrindo.
- Qualquer coisa saímos correndo. - ajudou Diogo, sorrindo da mesma maneira.
- Tudo bem. - suspirei. Eles conseguiam me passar segurança.
Seguimos por um caminho de terra até um pequeno estabelecimento. O ar cheirava a orvalho. Pela vitrine pude ver o palhaço anotar algumas coisas num bloco de notas. Diogo e Ben perceberam minha hesitação e puseram-se ao meu lado (Ben do esquerdo, Diogo do direito).
Entramos na loja e o palhaço olhou para nós.
- Ben, Diogo! Quem é seu amiguinho?
- Zero Sued. - respondeu Diogo, animado. - Onde estão?
- Aqui. - o palhaço pegou uma cobra preta e um pássaro vermelho de trás do balcão. Deu a cobra a Ben e o pássaro a Diogo. Ele me olhou bem e me entregou um coelho branco. - Você parece muito nervoso, Zero. - sorriu bondosamente. - Acho que o coelho combina com o senhor.
- Ah... Obrigado! - tentei retribuir o sorriso, mas este saiu torto demais para ser natural.
A cobra havia se enroscado na cintura de Ben, e o pássaro se mantia em pé no ombro de Diogo.
Nos viramos para ir embora, quando um outro palhaço, desta vez com aparência ameaçadora (peruca vermelha e dentes de tubarão), adentrou a loja com uma cesta coberta com um pano branco na mão.
Meus novos amigos prosseguiram e eu não quis ficar para trás. Quando nos aproximamos o bastante, o palhaço nos cumprimentou com um sorriso horrível, mostrava seus dentes amarelados de tubarão ameaçadoramente.
- Olá, crianças. - disse, com uma voz analasada. - Peguem, por favor. - tirou três pirulitos da cesta e nos entregando.
Fiquei com um vermelho, Diogo com verde e Ben com um azul. Agradecemos em coro e saímos da loja.
Afinal, palhaços não eram tão ruins assim... E o pirulito estava muito bom.
- Está escurecendo... - comentei, olhando para o céu.
- Hora de ir para casa. - disse Ben. - Aqui fica totalmente escuro à noite, uma cegueira. Por sorte, sabemos o caminho de casa sem nem mesmo precisar da visão.
No caminho terminamos os pirulitos e o céu já estava acizentado, e eu... Gradualmente ficando com medo.
- Podemos nos apressar? - indaguei, tremendo a voz sem querer. Coloquei meu coelho dentro da blusa. - O céu muda de cor muito rápido...
Os dois me deram as mãos, um de cada lado.
- Zero, a partir de agora você não vai enxergar nada devido a chegada da noite sem lua, então não solte nossa mão. E se soltar, guie-se pela nossa voz. Não vamos parar de cantar. - disse Diogo. - Acima de tudo, a escuridão não vai conseguir te machucar.
- Certo. - respondi, amedrontado, mas determinado. Aquelas duas pessoinhas me passavam uma imensa segurança.
E realmente não consegui enxergar mais nada: o breu tomava conta dos meus sentidos.
- Se essa rua, se essa rua fosse minha... - começaram a cantar uma música infantil. Pareciam anjos cantando. Relaxei e andei junto deles.
A escuridão parecia tão indefesa com eles por perto que poderia dançar... Não, seria inapropriado no momento.
Após curvas e caminhos diretos, topamos com uma grande casa. As luzes eram muito brilhantes.
- Chegamos. - disse Diogo.
Atravessamos o portão e entramos. Já sentia o aconchego. Tirei meu coelho do casaco e o olhei bem, era lindo e gordo. Aninhei-o no colo.
- Muito obrigado, acho que ninguém nunca foi tão bom comigo. - falei aos dois, que soltavam seus animais pela casa.
- Que isso, Zero-chan. - Ben deu tapinhas em meu ombro.
- Lembre-se: Sempre estaremos com você. Nunca deixará de ser nosso amigo. - completou Diogo.
- Nunca me esquecerei de vocês. - ditei, com os olhos úmidos. - Mas agora estou com sono...
- Você pode dormir no meu quarto. Suba as escadas e verá meu nome na primeira porta à direita.
- Ok. Boa noite.
- Boa noite. - responderam em coro.
Subi as escadas e entrei no quarto de Diogo. Logo caí na cama macia e adormeci.
Acordei abrindo lentamente os olhos. Ali percebi que não era o quarto de Diogo. Sentei na cama e vi Alice suspirar aliviada ao me ver acordado.
- Você me deu um susto! - ela disse, me abraçando. - Não pode sair desmaiando sempre que vê sangue...
- Você sabe que tenho medo...
- Eu cortei sem querer o dedo, mas foi uma coisinha de nada.
- Cadê? - perguntei, pegando suas mãos. Logo vi uma ferida, ainda escarlate. Não senti tonturas, nem vontade de vomitar, tampouco me paralisou.
- Você não tem mais medo? - ela indagou, franzindo a testa.
- Acho que não... - respondi confusamente.
- Isso é bom... Aliás, quando cheguei no quarto vi um coelho. Por que não me contou que tinha um?
- Como assim?
- Aqui. - ela pegou um coelho branco, lindo e gorducho do chão e colocou em meu colo.
- Er... Achei que tinha contado... - inventei uma desculpa.
Lilium
E sua língua proclamará o julgamento.
Bem Aventurado o homem que suporta a tentação
Pois quando for reconhecido como bom,receberá a coroa da vida.
Senhor, chama divina, tenha Piedade.
Oh, quão santa! Quão serena!
Quão benigna! Quão sorridente!
Oh! Lírio de castidade!
domingo, 6 de janeiro de 2013
Quem dera...
Quem dera que se preocupassem com suas próprias vidas
Quem dera que não me encaixassem numa apertada jaula
Onde cresce a mais alta desilusão de ódio
Com um sorriso cínico e hipócrita
Eu sei quando você se esconde
Em seu próprio mundo perfeito
Mas o meu não é perfeito
Eu sei que estou sendo perseguido até meus pesadelos
Paranóico, esquisito
Não consigo escapar
Até encontrar o basilisco
O basilisco e aquele guerreiro
Bravo guerreiro
O basilisco protegeu o meu mundo
O bravo guerreiro o fez
A cada naipe flechado
O bosque se abre cada vez mais
E uma vez que se entra
Talvez saia vivo
Acatado pela raiva
Destruído pela proteção errada
O bravo guerreiro se pôs a tentar controlar
Mas o basilisco chegara primeiro
Fechando-se numa breve prisão atrás das árvores
Graças a quem devia ser unido
Continuamos a andar atrofiados
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
Much Funny
Essa casa tem 7 mil fechos
Aqui estou perdido
Bem enlouquecido
Ardendo de febre
O amanhã não acontece
Much funny
Sou tão feliz aqui
Que poderia rasgar minha boca num sorriso
Com uma faca cega
Sem sentir a dor
Que lindo, uma borboleta passando
Não vou persegui-la
Mas eu bem que queria ser ela
Aqui estou doente
Mas ninguém quer saber
Ninguém quer me ajudar por aqui
Um círculo de hipocrisia
Eu queria andar sozinho
Ou mesmo acompanhado
Mas eu queria sair pelo menos um pouco
Camas cheias de sangue
Asfixia engajada... Na minha cabeça
Sonhando encontro um lugar
Ah, queridos sonhos
Sorria! Sorria!
Estamos te monitorando e manipulando
É tão engraçado! É para o seu próprio bem!
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
John...
Enquanto estava com você
Eu sabia quem eu era
Me sentia a pessoa mais amada do mundo
Num recanto infantil de sorrisos
E eu me pergunto como posso te amar tanto
Eu prefiro sofrer a te ver magoado
Apenas me diga pela última vez que me ama
E me dê um simples abraço
Um simples abraço para aquecer
E relembrar os momentos mais felizes que já tive
Apenas se lembre que lhe dei todo o meu amor
Mas nenhum perigo vai lhe atingir se estiver longe de mim
Tome cuidado consigo mesmo
Eu disse que queria te proteger
É o que estou fazendo
Onde estão seus olhos verdes agora?
Têm que brilhar para outra pessoa
Você está livre de um monstro
Um monstro que queria te matar
Aproveite, meu amor
Você tem que ser feliz
Vá atrás dos seus sonhos
Minhas bochechas?
Sentem falta do seu toque
Ah, não ligue para as lágrimas escorrendo por elas
Estou feliz por te ver bem