domingo, 6 de maio de 2012

21ºEncontro com o medo


Com o dinheiro que eu estava acumulando fazia anos, consegui pagar alguns contatos para que fizessem uma varredura no casarão dos espelhos. Eu começaria a cumprir com a minha promessa.
 - Então, o que vamos fazer hoje, Sheldon? Lucy? - indaguei, largado no sofá.
 - Nem pensei nisso... - o lobisomem se espreguiçou com um bocejo.
 - Tenho uma ideia... - disse Lucy, levantando a mão.
 - Diga... - falei.
 - Vamos atrás da Kuchisake-onna... Quero ver quem ela é de verdade...
 - Quem é essa? - perguntei, sentando-me.
 - Dizem que aparece como uma mulher com fissura imensa na boca. Na rua ela vem com um lenço escondendo a ferida, te pergunta se a acha bonita. Se você responder não, ela te mata. Se responder sim, ela tira o lenço e pergunta mais uma vez. Se responder afirmativamente ela te mata por achar que você está mentindo, se responder negativamente te mata. O aconselhável é responder "talvez" ou "mais ou menos", daí a Onna vai ficar confusa e dará tempo pra você fugir.
 - Ok, agora estou com medo de sair na rua à noite... Mas como ela conseguiu a fissura?
 - O marido da mulher era muito ciumento, um dia a encontrou conversando com o vizinho e se enfureceu. Horas depois disse que ia pegar algo na cozinha e voltou com uma tesoura.
 - Então vamos... - declarei, esbaforido.
Lá fora a Lua mostrava todo seu esplendor, bela como pérolas ao céu acompanhada de estrelas que aumentavam sua beleza.
 Com as mãos nos bolsos, fui caminhando até a esquina, seguido de Lucy e Sheldon.
 - Minha vida não poderia ser normal, não? - indaguei de repente.
 - Não, você foi o culpado disso tudo. - eles disseram em uníssono.
 - Ok.
Havia umas prostituas logo a frente, uma luz fraca iluminava a rua. Uma delas, de cabelos ruivos e roupas minúsculas aproximou-se, de fato era bela.
 - Desculpe, não quero nada... - falei.
 - Huhuhu, não me reconhece?
Gelei. Olhei para trás, Sheldon tinha os olhos azulados, o que me assustou mais ainda.
 - Succubus... Mal sinal... - ditou ele. - Você é uma personificação da Dama Vermelha...
 - Acertou, lobisomem... Sua Lua está brilhante... Mas no momento quero perguntar se quer um programa.
 - É óbvio que não. - intrometeu-se Lucy. Ela não sofria encantos femininos.
 - HAHAHAHA - a personificação riu. - Queria mesmo avisar que não é Kuchisake-onna que vai assombra-los esta noite. - crispou seus lábios vermelhos.
 - O que quer dizer com isso? - perguntei.
 - Tenho que ir. - ela se foi, junto com suas outras amiguinhas pra Deus sabe onde.
Então de repente a rua ficou escura, a luz se apagara. As prostitutas antes presentes não deram sinal de vida, parecia que nunca estiveram ali.
Tudo esfriou, Sheldon ainda detinha os olhos azulados, que por sinal, brilhavam bastante na escuridão.
 - Por que está assim? - indaguei.
 - Segredo. - respondeu.
Bufei.
Lucy de repente começou a tremer, lágrimas acendiam seu olhar.
 - O que foi? - perguntei.
 - O-O-Olhem... - apontou, o dedo tremendo muito.
Olhei para onde estava apontando, e meus pelos se eriçaram.
Vinha uma jovem de olhos puxados, tinha um lenço cobrindo abaixo do nariz. Ela trajava um Kimono branco floral, segurava algo atrás de si.
Esperamos ela se aproximar, eu abracei Lucy para conforta-la.
 - Vocês me acham bonita? - então perguntou, há menos de um metro de nós.
 - Sim. - respondeu Sheldon.
Ela então tirou o lenço. Nos horrorizamos com o que havia ali, uma fissura enorme, rasgando suas bochechas.
 - E agora?
 - Você continua linda, tenha certeza disso. Nunca vi alguém mais linda. Quer casar comigo? - olhei incrédulo para o lobisomem, ele parecia ser sincero, Lucy fez o mesmo.
A Kuchisake-onna arregalou os olhos, ouvimos um som metálico no chão. Olhei rapidamente para a origem do barulho, uma imensa tesoura havia caído. A fissura começou a desaparecer, suas bochechas reapareceram, sua boca restituiu-se delicada e bela. Era uma linda moça japonesa, aparentava 20  e poucos anos.
 - Lucy, Diego, vão. - disse ele.
 - Vamos... - Lucy me puxou para a direção de casa.
Andei receoso, o que aconteceria com Sheldon?
Fiquei pensando nisso, confuso. Cheguei em casa repentinamente, não fomos tão longe.
 - AAAAAAAAAAHHHHHHHHHH - era meu pai.
Eu e Lucy corremos para o andar de cima, tentando abrir a porta do quarto dos meus pais.
 - PARE POR FAVOR, NÃO FAÇA ISSO! - era minha mãe.

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