terça-feira, 15 de maio de 2012

23ºEncontro com o medo



Toquei a campainha daquela antiga casa. Afastei-me um pouco quando percebi que a porta seria aberta.
Um homem de mais ou menos 25 anos apareceu. Tinha um porte atlético, olhos amendoados e cabelos castanhos. Sua pele não se diferenciava da minha, era um cara bonito, mas com um ar frio.
 - Bom dia... - ditei.
 - Você é o Diego? - indagou, analisando-me de cima a baixo. Sua voz era firme e grossa, mas me passava segurança.
 - Sim. Você deve ser o...
 - Harry, mas todos me chamam de Rex. - um grande cachorro surgiu atrás dele, com as mesmas características do dono: grandes e espessos pelos castanhos e olhos amendoados. Esses lobisomens estão brotando de tudo quanto é lado...
 - Posso entrar?
 - Claro. Seu lobisomem bateu na minha porta ontem e me explicou tudo. - entrou, eu o segui.
A casa era de fato antiga, o piso de madeira empoeirado. Ele me guiou até o quarto, onde havia  uma cama de solteiro com um lençol branco, paredes com um tom bege. No canto havia uma escrivaninha de mogno e cadeira do mesmo material. Tinha uma janela na frente da cama.
 - Sobre o que exatamente eu vim tratar? - indaguei.
 - Sheldon não lhe explicou? - o lobisomem saltou na cama, aninhando-se com o rosto na minha direção. A voz dele era ainda mais grossa e firme que a de Rex.
 - Não. Ele nunca me fala nada.
 - Junior... deixe que eu falo. - disse o moreno, convidando-me para sentar na cama. - Eu não consigo lhe descrever... Eu nunca consegui me recuperar do acontecido... - sentou-se na cadeira.
 - Então...?
 - Eu escrevi o que aconteceu depois que consegui fugir. Guardo até cicatrizes do passado.
 - Mostre-me então. - pedi.
Ele tateou até uma gaveta da escrivaninha e pegou uma folha de papel antiga. Entregou-me com as mãos trêmulas.
 "Já estou deitado há horas. São 5:10 da manhã agora e não há nada que eu possa fazer.
 Estou no mesmo quarto que meus pais. Eles ficam olhando para mim e não posso fazer nada senão olhar de volta e me segurar para não chorar ou gritar. Há um cheiro forte de sangue no ar e estou paralisado de medo.
 A coisa está aqui. O momento em que eu apresentar qualquer sinal de que não estou dormindo mais, estou condenado. Vou morrer e não há ninguém por perto para me salvar.Pensei em uma forma de fugir mas a única ideia que eu tive foi alcançar a porta de entrada e sair correndo pedindo ajuda. Esperando que algum vizinho possa me ouvir. É arriscado, mas se eu ficar aqui, com certeza vou morrer.
 Ele está me esperando acordar e ver sua obra-prima.
Você deve estar se perguntando o que está acontecendo. Eu mesmo me pergunto isso às vezes.
Há três horas atrás...
Eu ouvi um grito do outro lado da casa.
Levantei e fui checar para ver o que foi aquele som, quando olhei para fora da porta do meu quarto, vi sangue no carpete.
Fiquei muito  assustado e corri de volta para minha cama, me escondendo sob os lençóis.
Tentei me forçar a voltar a dormir, e que tudo não se passava de algum sonho realístico ou algo assim.
Mas escutei a porta do meu quarto se abrindo. Como a criança assustada que eu era, espiei por debaixo dos lençóis para ver o que era. Pude ver alguma coisa arrastando meus pais mortos para dentro do quarto. Não era humano, isso eu posso dizer.
A coisa colocou meus pais na beira da minha cama e os fez me encararem. Depois começou a esfregar as suas mãos contra as paredes, manchando-as com sangue. Depois desenhou um círculo com o pentagrama do diabo dentro. O resultado poderia ser chamado de obra-prima.
Para terminar, escreveu uma mensagem na parede que eu não conseguia ler no escuro.
A coisa então se posicionou sob minha cama, esperando para atacar.
A parte mais assustadora é que meus olhos já se acostumaram com a escuridão desde então e agora posso ler a mensagem na parede. Não quero olhar pra ela, porque é assustador pensar nisso.
Mas eu sinto que preciso ver isso antes de morrer.
Espiei a obra-prima da criatura.
'Eu sei que você está acordado'"
(http://docepsicose.blogspot.com.br/2012/05/obra-prima.html)
Olhei para frente, Junior havia sentado perto de Rex.
 - E o que aconteceu depois? - indaguei.
 - Aqui está. - entregou-me outro papel, igualmente antigo.
 "Eu pensei que a criatura tinha avançado, mas algo avançou na criatura, saltei com isso, mas não gritei, apenas fiquei tentando o que se passava.
Com meus olhos acostumados com o escuro, pude fitar não uma, mas duas criaturas. Uma delas, com aparência andrógina e cabelos negros caindo até a cintura havia saltado contra a primeira, de aparência irreconhecível, pois a segunda estava encima.
Era a minha chance de fugir, enquanto todos estavam distraídos. Empurrei o lençól e pulei para fora da cama, fazendo barulho.
Corri até a porta, mas algo arranhou minha barriga, rasgando meu pijama. Senti uma dor excruciante tomando conta de mim, uma ferida tinha sido aberta. Pude ver que o agressor fora arremessado para longe de mim pela figura andrógina, que me empurrou para fora do quarto e ficou para lutar contra a primeira criatura.
Um enorme alívio tomou conta de mim, apesar de minhas pernas ainda estarem bambas. Corri desesperadamente para fora de casa, pisando em sangue. Bati com toda a força na porta do vizinho, que demorou um pouco para abrir. Ele viu meu estado e rapidamente tomou providências, a polícia foi chamada.
Vi o meu ferimento, o arranhão era de uma unha desumana, imensa e felídea, digamos assim. A mulher do vizinho cuidou disso.
A polícia chegou com um colar de pentagrama para mim. Eles disseram que não seria legal eu olhar novamente a casa.
Cá estou, relatando o acontecido enquanto as memórias estão assustadoramente vívidas em minha cabeça."
 - Você foi ver o que havia na casa? - perguntei.
 - Sim... Eu ultrapassei as faixas, entrei no meu quarto, os corpos tinham sido retirados. Vi na parede a obra-prima da criatura, e também mais traços de sangue na parede, como se tivessem lutado violentamente ali. Hoje eu tenho apenas uma pista de quem tinha sido meu salvador naquela noite, mas eu ainda quero respostas.
 - E quem você acha que foi?
 - Lúcifer.

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