Mamãe,
Como você não me protegeu daquele que me abusou e o chama de filho até hoje, eu tirei minhas mãos das suas e corri para o outro lado da rua.
Como você me oprimiu tirando meus sorrisos e escritos que tanto dediquei com a minha alma, eu fugi para procurar uma outra família.
Você me poupou de momentos incríveis, me afastou do meu Criador. O que eu acho tão injusto é que você não faz ideia da gravidade de seus atos e pensa religiosamente que invento as coisas. Mas eu sei muito bem criar um universo e fazer com que ninguém saiba qualquer coisa sobre ele.
Saiba que eu não preciso mais dos remédios que um dia eu tive que tomar por sua causa – porque sim, mais da metade dos meus problemas psiquiátricos se devem a ti -. Meu Criador fez o que quatro psicólogos e dois psiquiatras não fizeram: tirou a escuridão da minha cabeça que você ajudou a impor.
Eu nunca fui influenciado por qualquer meio de comunicação, tudo partiu de mim mesmo. A linguagem corporal é natural. O desinteresse social é natural. O desânimo não é desânimo e sim conservação de emoções. Eu sei que você não me aceita e procura desculpas para mascarar o que está bem à sua frente. Eu sei que você não aceita meu transgenerismo, nem meu asperger. Não aceita que minha dificuldade em matemática não é mera falta de foco e sim a discalculia desencadeada pelo asperger. Você finge muito mal e diz que eu sou o ator da história.
E como você não entende a dor que me traz, eu resolvi me desprender dos seus parâmetros e tirar seu nome do meu.
Não se preocupe, não precisa mais me chamar de nomes que sua mente fantasia serem verdade. Falta pouco para eu limpar meu armário e ir embora.
domingo, 20 de dezembro de 2015
Mamãe
domingo, 20 de setembro de 2015
Eu estou bem. Depois de um período intransponível de insegurança, medo, ódio e tristeza, agora posso abrir as nuvens e ver o Sol brilhar.
Por quê?
Porque eu simplesmente parei de tomar meus remédios. Eles estavam me fazendo mal ao invés de ajudar. É incrível como os problemas podem se cruzar, mas agora estou ficando bem, me recuperando de uma quarentena extremamente difícil. É como sair de uma prisão.
Mas é claro que é só o início do caminho.
sábado, 12 de setembro de 2015
Os gêmeos
O Sol se punha na Terra. Infelizmente, no umbral, o tempo se esgotara para aqueles dois pais ficarem com seus gêmeos acordados. O que cuidava da garota voltou ao plano físico para certificar-se de que estava tudo bem com as famílias criadoras. O que cuidava do garoto, queria mantê-los num único lugar para que se mantivessem aquecidos, juntos e dessem menos trabalho.
Quando Leviatã chegou, levou a mão ao rosto e indagou:
- Satã, que diabos é isso?
- O que foi? Eles cabem aí dentro! Isso é o que importa.
sábado, 8 de agosto de 2015
Eu te espanco
Eu te espanco e você gosta
Eu arranco seus lábios e você quer me beijar de novo
Eu puxo o seu cabelo e você implora pelo meu corpo
Você me segue engatinhando pela casa
Marcada e molhada
Eu vou fundo sem piedade e você grita que me ama
Você se ajoelha e me satisfaz
Eu te jogo no chão e você pede mais
Você desmaia de prazer e eu saio em paz
domingo, 26 de julho de 2015
Perverso
- Ontem foi a primeira vez que vi meu irmão mais velho depois de tanto tempo. Quando ele se mudou, eu tinha 8 anos e ele 16, então fiquei com seu quarto.
- Nossa, Matheus, deve ter sido um grande reencontro! - exclamou Sara.
Matheus franziu os lábios e balançou a cabeça negativamente.
- Na verdade, não. Preferia nunca mais tê-lo visto. - ele abaixou os olhos e Sara esperou que o amigo terminasse - Pra começar, ele analisou meu quarto de cima a baixo e disse 'meu quarto não é mais o mesmo'. Brinquei respondendo 'é porque não é mais seu', só que ele me olhou como se estivesse prestes a esmagar-me e retrucou com 'o que é meu nunca deixa de ser'. Meu irmão é psicopata, patologicamente falando.
- Deixa de besteira, o que te faz pensar isso?
- Bom... Quando ele tinha 13 anos, esmagou o pintinho de estimação com as próprias mãos porque o pobre animal fazia muito barulho. Pelo que meus pais me contaram, com 5 anos já usava os coleguinhas para brincadeiras sexuais e era muito fácil de haver explosões de raiva. Tentou matar a mamãe botando veneno em sua comida. Pelo menos nutria respeito pelo nosso pai. Ah, a minha cicatriz no queixo foi quando ele tentou me matar com uma tesoura.
Sara ficou boquiaberta, então Matheus continuou:
- Ele ama ver a destruição. É aquela pessoa que quando chega, todos ficam vulneráveis, todos são presas fáceis. Infelizmente, consegue atuar emoções e gentileza muito bem e poucos acreditam na verdadeira história. Estou com medo. Medo de ser torturado ou até mesmo morto por esse perverso que é meu irmão mais velho. O juiz disse que devo ficar sob sua guarda até que eu alcance a maioridade ou tenha vida estável independente.
- Wow. Isso vai ser difícil. Vamos lá, é só não ficar em seu caminho. Saia mais de casa, evite sua companhia o máximo possível. Se saírem juntos, deixe que ele fale e infle seu ego. Minha mãe estuda psicopatas e me ensinou como agir para não ser um alvo tão fácil. Você vai se dar bem, é ótimo ator.
Nem assim Matheus sentiu-se confortável.
terça-feira, 21 de julho de 2015
Infância corrompida
Eu adoro a capacidade que tenho de atuar sentimentos. Nunca senti nem uma pontada de amor ou carinho pelos meus pais, nunca foram minha segurança, mas consigo convencê-los do contrário.
Adoro isso.
É a maior facilidade do mundo manipular gente sensível.
Eu adorava machucar animais quando criança. Adorava o miado de desespero do gato quando eu o erguia pela cauda. Matar a galinha e despejar seu sangue nos filhotes. Eu ria com as reações deles.
Minha infância não foi normal, definitivamente. Meu florescimento sexual foi extremamente precoce. Com cinco anos eu já estava vendo pornô. Com oito eu já me masturbava furiosamente: chegava a 10 vezes por dia, parava o que estava fazendo para ir ao banheiro.
Ah... Eu adoro falar de mim. Falar sobre a minha superioridade. A verdade está tão enterrada que eu nem mesmo lembro quem sou às vezes. No entanto, minha verdadeira identidade aparece quando vejo sofrimento ou imponho medo. É delicioso. Eu tenho o maior prazer do mundo em te ver sangrar. Eu amo a sua cara de preocupação quando falo que estou mal. Você me dá a mão, mas eu engulo até seus ombros. A humanidade é meu instrumento e sempre irei querer mais e mais, até restar uma versão anêmica de ti.
E não pense que irei mudar.
Eu já tentei.
domingo, 19 de julho de 2015
O que meus pais biológicos me ensinaram
O que meus pais biológicos me ensinaram: Arrogância, egoísmo, ignorância, extrema individualidade, irritabilidade precisa reinar.
Conto nos dedos as vezes em que me chamaram para elogiar. A maior parte eram críticas, farpas, repreensões. Sempre trancado. Sempre isolado. Sempre alienado.
Eu nunca achei que um dia poderia ser feliz dentro da casa deles. E sempre acharei.
sábado, 13 de junho de 2015
Quem é?
Três da madrugada. A casa de repente ficou muito fria. Algo se aproximava perigosamente. Mas as luzes encontravam-se acesas, isso é algo bom, não é?
Não.
A criatura fazia piscar cada lâmpada, obrigando as sombras a engolirem qualquer luz que teimasse sobreviver.
O espelho na sala refletiu os chifres pontudos do ser que acabara de adentrar a casa, e sua forma alta e maligna. O próprio mal, o terror e a desgraça.
No andar de cima, um bebê sentiu a presença do ser e ficou quietinho ali. Parece que sabia que o melhor era fingir que não existia. Sua mãe repousava tranquila no quarto ao lado, vulnerável debaixo do cobertor azulado, sem desconfiar de nada.
Mas a criatura farejou o cheiro de criança e ajeitou a capa negra para subir as escadas sem fazer barulho. Conforme subia, as sombras o acompanhavam, inundando a tranquilidade de caos capaz de enlouquecer qualquer um. O cachorro da casa acordara, no entanto, tremia de medo em baixo do sofá, enquanto torcia para não ser percebido. Sabe como é. O instinto de sobrevivência extrema canta mais forte.
Ele chegou ao topo da escada, o cheiro de criança mais perto. As garras podres abriram a maçaneta do quarto infantil e o bebê ficou em pé no berço para ver quem era.
A criatura se aproximou, sorrindo com aqueles dentes pontudos e fantasmagóricos.
O bebê estendeu os braços e disse "Pa-Pai".
domingo, 7 de junho de 2015
O Mar
O Mar era um homem alto, de barba por fazer que emoldurava seu rosto tempestuoso, cabelos negros, longos no meio das costas e constantemente úmidos que pareciam flutuar como se sempre estivesse debaixo d'água. Usava várias camadas de roupas por baixo de um sobretudo preto fechado e uma bota que escondia seus pés muito diminutos em relação ao resto do corpo.
Ele reinava nas profundezas da água, escondido dos olhares humanos e tentava a todo custo proteger as criaturas marinhas. Anos e anos assim, até que ele decidiu ser a hora de ter alguém que reconhecesse seus cuidados.
Dessa forma, subiu até a superfície e escolheu a família que conceberia seu herdeiro. O Mar iria acolher a criança com todo o carinho e dá-la dons especiais.
Nove meses depois, uma surpresa: era uma menina. Uma menina com os mesmos aspectos do senhor do mar, grande e saudável.
Ele a acompanhou de perto, pois frequentemente ficava sozinha. Deu a ela um irmão espiritual que serviria de escudeiro e melhor amigo.
A menina cresceu com os ensinamentos do pai, mas algo estava errado: ela tinha medo do mar. Amava a água, mas tinha medo de afundar.
Descobriram que ela tinha asas e assim não seria possível nadar, pois nascera para conquistar o céu. Esse seria seu grande legado.
E como todo pássaro que sai do ninho, ela deixou o dela para construir o próprio.
Eutanásia
Eu acordo todos os dias gritando para a morte me buscar. Imploro a Deus, porque já cansei de tentar me matar e não dar certo. Meus primeiros pensamentos do dia são voltados para o fim da minha existência. Eu não aguento.
Os dias passam se arrastando, sou um morto vivo. E se de repente alguém me disser "isso é egoísmo", digo que depois de um tempo nem frases escassas como essa me fazem repensar. Viver tornou-se um fardo tão doloroso que depressão agora é uma doença terminal.
segunda-feira, 1 de junho de 2015
Você colhe o que planta
Ben usava luvas de jardineiro marrons para plantar uma muda num buraco de terra circular. Seu sorriso não era sarcástico como na maioria das vezes e sim afetuoso.
- Você colhe o que planta. Esta, por exemplo, é uma espécie própria do que os encarnados chamam de submundo. Ela aprisiona almas do umbral e assim suas folhas são revestidas. Quanto maior o pavor e o desespero, mais forte a árvore ficará. Essa aqui que estou plantando é sua. É minha oferenda de proteção a ti, minha criança. Quando alguma entidade quiser lhe machucar, eu a prenderei na sua árvore.
Olhei para aquela muda aparentemente inofensiva, verde e de folhas ovaladas.
- Veja - ele apontou para as bordas das folhas. -, já está criando a essência.
Uma névoa negra circundava as bordas e sorri de volta.
segunda-feira, 16 de março de 2015
Sr. Misterioso
O que seus olhos escondem, Sr. Misterioso?
O que faz o toque de suas mãos deixarem um monstro receoso?
O que faz a sombra da lua nova fechar os olhos da maioria
E que deixa a sua beleza exposta em demasia?
Me diga, Sr. Misterioso
O que faz a sua presença deixar um monstro receoso?
Em seus dedos a geleira se desfaz
E costura feridas que o homem faz
Me diga, Sr. Misterioso
O que faz a sua boca deixar um monstro receoso?
domingo, 1 de fevereiro de 2015
Obrigado.
Obrigado por me calar dizendo "engole o choro" quando sua intenção era me fazer forte diante das tristezas. Obrigado por atrapalhar nos meus relacionamentos quando queria o melhor para mim.
Obrigado por sempre estar do meu lado quando tudo o que eu tinha era um buraco no peito e o costurou lentamente enquanto me ensinava o quanto o mundo lá fora é cruel.
Obrigado por ser o meu alicerce, a minha muralha, a minha segunda mãe.
Obrigado, Ben.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2015
Minha donzela
Aproximei-me do corte no braço de Karen e pedi, com os olhos pidões, para encostar meus delicados lábios famintos sobre sua pele morena.
Ela acenou positivamente com a cabeça, os cabelos azuis movendo-se com o simples movimento.
Quando quebrei o contato visual, pus meus dedos nodosos em seu braço direito macio e levei o corte à boca.
Minha língua tateou a primeira gota de sangue. Sua forma líquida tornou-se uma pesada e sólida barra de ferro que passou pelo meu paladar ansioso até o fundo da minha garganta clemente. E do mesmo fundo, um ronrono ressoou inebriado pelos meus lábios selados em sua pele.
Minha sede sorveu cada gota, até que seu ferimento cicatrizou e recebi tapinhas na nuca simbolizando que devia parar.
Quando dei por mim, encontrei os olhos heterocromáticos de Karen um pouco assustados.
- Está tudo bem... - falei, ainda com o gosto do fluído vital abraçando minha garganta.
quarta-feira, 14 de janeiro de 2015
Meus pés frios...
Minha mente permeia um muro de solidão fria
Onde os entalhes de tristeza recebem toda a luz do dia
Os arrepios da morte tocam meus ombros doloridos
Uma tinta cinza pinta meus sonhos descoloridos
Meu sangue congela em minha veia
Meu mundo cabe na minha banheira cheia
Meus pés molhados destoam gota a gota
Minha cabeça pende no colo da minha garota
Canto para a morte desde criança
O laço da minha forca é feito com minha trança
Minha voz sufoca o ar que não quer entrar
Meus pulmões reclamam não querendo mais respirar
Minha doença assola minha mente
Tornando-me mero paciente
Envolto em roupas escuras
Tento encontrar meu fim em todas as ruas
sábado, 10 de janeiro de 2015
Hoje eu me senti tão triste...
Hoje eu deitei minha cabeça no travesseiro
E fechei os olhos esperando nunca mais abri-los
As pessoas dizem que eu sou um guerreiro
As portas se fecharam me deixando sem abrigo
Minha mente dá voltas e pulo em um buraco negro
Tenho pena de mim mesmo
Sou como uma lagarta procurando ar fresco
Meu amor é suicídio
Onde mergulho num mar rubro de ondas e desespero
Tento abraça-lo e só consigo me sufocar
Um reino inquebrável de gelo
segunda-feira, 5 de janeiro de 2015
Depressão
Está sendo cada vez mais difícil aguentar essa maré. A depressão me atinge tirando todas as minhas forças e alicerces sólidos, logo não tenho chão, apenas uma escuridão infinita no vazio de um mundo repleto de dor.
A vida é uma pressão muito grande para eu suportar. Uma pressão que faz meus pulmões ruírem ao inflar, meu coração doer ao bater.
Há momentos em que eu desabo no chão, puxando meus cabelos e a ponto de chorar compulsivamente. Há momentos em que essa dor só desaparece com cortes, mas para começar tudo de novo outra vez.
Sinto-me no fundo de um oceano, onde eu não consigo subir, apenas descer cada vez mais abissal. Mas não morro, fico entre a vida e a morte.
No final, nem eu sei o que está a acontecer comigo.