- Existe um casarão aqui perto... Nenhum cidadão aparece para comprá-la. - começou Sheldon, quando acordou.
- Hm... Já imagino o motivo... Mal-assombrada, certo?
- Isso. A maior aparição é a de uma garotinha aparentemente de 6 anos... Se não me engano... morreu sufocadada.
- Sufocada com o quê?
- Não sei, mas parece que houve um vazamento de gás. Hm... quando a família dela se mudou outros moradores apareceram, mas as crianças foram morrendo... e depois delas os pais... Desde então o casarão não recebe mais nenhuma visita, até os ratos fogem de lá.
- Vamos ter que ir até lá, né? - indaguei, mesmo sabendo a resposta.
- Uhum.
- Okay.
- Pai, vou passear com o Sheldon.
- Vá. Mas chegue antes de anoitecer.
- Tá. - saí com meu cachorro atrás.
O céu estava nublado, as nuvens acizentadas tapavam a luz do Sol, criando um ambiente frio e até mesmo melancólico.
Caminhamos por quase 20 minutos até chegarmos a um portão enferrujado. Atrás dele, havia um jardim muito mal cuidado e um casarão com aparência horripilante. Suas cores estavam descascadas, a maioria das janelas tinham rachaduras e algumas eram tapadas por tábuas de madeira.
- Bem, é aqui. - disse meu cachorro.
- Hm... - empurrei o portão, que abriu-se pesadamente.
Um frio na espinha fez minhas pernas bambearem, mas eu já estava me acostumando com isso.
Senti que estava sendo observado, olhei para cima, para uma das janelas. Um vulto branco desapareceu quando eu voltei meus olhos para lá.
- Sheldon... Eu vi algo lá em cima... - ditei, preocupado.
- Normal para um casarão mal-assombrado, pelo menos não atiraram facas ainda. Eu estou aqui contigo, não fique com medo. - respondeu, subindo as escadas para a varanda.
Bati na porta e percebi que estava aberta.
- Bem, vamos entrando. - falei, deixando Sheldon adentrar primeiro.
- Huum... - farejou o ar.
O piso era de madeira, os móveis estilo vitorianos estavam empoeirados. Mais à frente havia um piano de cauda. A escada com certeza rangia, devido sua aparência desgastada.
- Aqui existe uma sala de espelhos, com certeza é a que tem mais atividade paranormal.
- Hm... - minha respiração encontravasse um pouco ofegante devido o nervosismo.
- Diego, controle a respiração, eles são capazes de te rastrear pelo medo...
- Sim.
Algo me impulsionou para subir as escadas. Com a mão no corrimão, andei cautelosamente até o andar superior.
Havia várias portas e a sensação de estar sendo observado voltou. No canto tinha uma janela com a metade tapada por tábuas de madeira manchadas por algo vermelho, sangue talvez. Sheldon vinha logo atrás, olhando e farejando tudo quanto era canto.
- MAMÃE... MAMÃE... NÃO ME DEIXA AQUI SOZINHA... MAMÃÃEE... - uma voz arrastada, infantil e fantasmagórica ecoou no recinto, alertando-me. Então ouve-se um choro. - PARAAAAAAA! PARA! NÃO CONSIGO RESPIRAR!
Um instinto protetor fez com que eu esquecesse meu medo e abrisse a primeira porta. Era a cozinha.
Na parede o símbolo da Anarquia estava escrita com tinta vermelha, mas ao lado as inscrições "Fora anarquistas" estava escrito com sangue.
Um cheiro putrefato invadiu minhas narinas, atraindo-me para olhar o outro lado do balcão.
Receosamente andei até lá, com uma ânsia de vômito. Não pressentia algo bom.
- Argh! - vomitei na pia quando vi um cadáver com larvas na boca e facas atravessando o pescoço.
- Diego, se quiser sair daqui... - disse Sheldon.
- Não. Eu preciso ajudar aquela garotinha... - cambaleei até chegar ao seu lado.
Parecia que meus pesadelos haviam ganhado vida, mas eu tinha que prosseguir ali. Meu consciente gritava para ir embora e esquecer tudo aquilo, mas algo em mim queria libertar aqueles espíritos de um jeito ou de outro.
- Vamos procurar a sala dos espelhos. - ditei, saindo da cozinha.
Abri a segunda porta, entrando num quarto infantil rosa com cheiro de Naftalina. Era tudo bem arrumado, tudo bem "criança".
Sentei na cama, nada no cômodo parecia abandonado, mas sim muito antigo, os móveis não eram do século XXI.
De repente, um sentimento depressivo bateu em meu peito e comecei a chorar. Era algo repentino, mas uma tristeza profunda, como se estivesse ali o tempo inteiro.
- Você está bem? - perguntou Sheldon, lambendo minhas lágrimas.
- Acho que sim. - respondi, abraçando-o.
Fiquei mais ou menos 10 minutos na mesma posição, quando decidi que não poderia mais ficar assim e levantei-me, saindo do quarto.
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