Eu tinha um baú no sótão cheio de bonecas que esvaziei para guardar meus "itens".
- Faca de dois gumes, duas cartas, correntes, máscara, luvas, bastão de beisibol... está certo... - conferi, com o olhar curioso de Sheldon ao meu lado.
- Você está ganhando vários presentes e nem é seu aniversário. - comentou, feliz. - Cadê seus pais?
- Saíram.
- Que bom... - voltou à forma humana. - Você está com olheiras profundas... legal que elas estão marcando bem seus olhos...
- Hmm, seu gay. - brinquei. - você tem olheiras mais profundas que as minhas.
- Tá, tá, você venceu. - sentou-se na cama. - Foi uma tarde e tanto.
- É... tanto que eu saí cortado do queixo pra baixo.
- Ah, eu também sofri... algumas escoriações...
Olhei-o com se estivesse com vontade de socá-lo, e eu realmente estava.
- Tá, valeu... - tranquei o baú e guardei a chave. - Meus pais perguntaram o que tinha acontecido comigo e eu falei que tinha caído sem querer nuns cacos de vidro.
- E eles acreditaram?
- Só podiam acreditar. - deitei no chão. - Estive pensando na Dama Vermelha... do que ela tem medo mesmo?
- Pode parecer estranho mas são espelhos.
- E-espelhos? - sentei. - Nem me fale disso, já chega de reflexos por hoje. - franzi a testa.
- Calma aí, não precisamos falar disso agora. Acho que você precisa mesmo é dormir.
- E Ben?
- Ele ainda está fraco e eu vou ficar aqui do seu lado.
- Okay. Sai da minha cama. - levantei e deitei-me na cama.
.......
- DIEGO! - ouvi na escuridão. - DIEGO NÃO FAÇA ISSO! - era a voz de Sheldon, desesperada.
Sentia um gosto metálico na boca, um gosto de sangue.
Eu estava com medo de ser mais uma daquelas malditas possessões que Ben tinha a horrível mania de fazer. Mas consegui abrir os olhos com facilidade, o que estranhei logo de cara.
- O que aconteceu? - perguntou meu cachorro.
Estava tudo na mais perfeita ordem, eu ainda descansava meu corpo na cama, deitado como de início.
- Eu que pergunto. - falei.
- Hm... Você que estava esperneando na cama. - olhou-me preocupado.
- Sinto gosto de sangue... - estreitei os olhos, prestando atenção em meu próprio paladar.
- Você sonhou com algo?
- Flashs, apenas flashs... Ouvi você gritando para não fazer algo... Muito estranho... Estou com um gosto horrível de metal...
- Lave sua boca, teremos que analisar o acontecido. - falou.
Levantei-me e fui em direção ao banheiro, mas antes virei-me para perguntar:
- Por quanto tempo eu dormi?
- 30 minutos.
- Grunf... - resmunguei. Eu poderia ter descansado mais.
Olhei-me no espelho acima da pia, minhas olheiras estavam mais profundas do que antes.
- Que droga...
- Diego, eu queria te apresentar uma garota... Lucy. - Sheldon apareceu na porta do banheiro.
- Quem é? - virei o rosto para fitá-lo.
- Ela... ela fez o mesmo que você há dois anos atrás, só que tem uma diferença.
- Qual?
- Ela conseguiu derrotar o medo antes que ele pudesse se manifestar.
Olhei-o apreensivamente. Até que enfim alguém que me entende - e que seja humano -.
As batidas na porta fizeram-me despertar no sofá e corri para atender.
Era uma garota bem menor que eu, cabelos loiros acizentados, olhos de um tom que eu nunca tinha visto - eram acizentados também -.
- Oi. - eu disse. - Você é a Lucy Grass?
- S-sim... - ela parecia um pouco perturbada.
- Está com frio? - indaguei.
- ... - ela balançou a cabeça positivamente.
- Entre, por favor. - abri espaço para ela entrar.
- Onde está o lobisomem? - perguntou ela, baixinho.
- Como sabe dele?
- Eu tenho capacidades psíquicas, comuniquei-me com ele. - respondeu de costas para mim, estava analisando a casa.
Emburrei a cara, por que todos envolta eram tão diferentes de mim? Por que ELA tem capacidades psíquicas e eu não?
- SHELDOOOON! - berrei, Lucy cobriu os ouvidos com as mãos.
- Não grite, por favor. - pediu ela.
Sheldon chegou à sala na forma humana, fazendo os olhos da garota se arregalarem.
- Nunca encontrei um lobisomem tão... bonito...
Emburrei a cara mais ainda, deixa o meu cachorro em paz!
- Hm, obrigado! - sorriu. - Diego, relaxa cara. - percebeu meu semblante não-amigável.
Sentei de frente para Lucy, ela preferiu ficar no chão. Sheldon sentou-se ao nosso lado.
- Conte-me sua história. - pedi.
- Eu fiz igual você, consegui entrar no quarto branco... Então o monstro veio...
"Deparei-me com a criatura que fazia dos meus sonhos um inferno. Um ser de aparência indescritível. Ele sentou-se à minha frente. Fiquei inquieta. Eu queria correr. Meu subconsciente mandava-me correr. Mas mantive-me calma. Perguntei o que eu queria saber. Porém, quando ele começou a falar, quase entro em pânico. Mesmo estando em um sonho suei frio, estremeci. Sua voz realmente me arrepiava até a alma, me destruía por dentro de tanto medo. Sua voz era múltipla. Agudos, graves, gritos, rugidos, berros, choro... Estava tudo junto e sincronizado à voz dele. Foi difícil, mas me mantive calma até o fim. Ele parou de falar, apoiou a cabeça sobre o punho direito e eu disse:
— Eu entendo. Eu sou merecedora de saber?
Ele pediu para ver minha mão. Quando dei minha mão a ele, ele percebeu que eu estava trêmula, porém, não hesitei. Ele colocou algo em minha mão e eu não quis nem ver o que era. Após isso, acordei. Olhei o relógio, era exatamente 07h00min. Ao verificar minha mão, vi que não tinha nada lá. De imediato liguei o computador e reli o texto. E como eu temia, eu morreria na próxima vez em que dormisse. Meus pais ainda não tinham voltado de viagem.
Eu estava apavorada, horrorizada, trêmula, desesperada. Não levantei da cama pra nada. Eu não tirava o olho do relógio, contando as horas para que meus pais chegassem. Entardeceu, anoiteceu e eu não saí da cama desde que acordei. Às 22h00min comecei a ouvir barulhos pela casa, estrondos. À meia-noite os barulhos se juntaram a gritos de mulheres, como se estivessem sendo torturadas, e choros de crianças. Eu já não tinha mais lágrimas para derramar. Exatamente à 01h00min os barulhos foram embora. O silêncio era tudo o que se ouvia naquela casa, exceto os soluços de meu choro. Quando o relógio marcou 1h28min os sussurros começavam, vozes... Ouvi a voz, que tanto me dava medo, chamar meu nome.
Eu senti a presença daquela criatura por trás da porta. Eu sabia que ele não faria nada se eu não hesitasse, se eu não me manifestasse. Ele dizia coisas que me aterrorizavam:
— Não adianta. Você vai ter que cair no sono.
Até que eu gritei:
— NÃO TENHO MEDO DE VOCÊ!
Ouvi um rugido macabro de trás da porta. Não dá pra descrever o medo que eu senti. A porta abriu bruscamente, ele entrou e violentamente avançou contra mim. Senti um cheiro forte. Era diferente do cheiro que eu senti no sonho. Era um cheiro repugnante, um cheiro forte, cheiro de carne podre, morta, cheiro de morte. A criatura berrava insanamente em minha frente. Eu fiquei apavorada. A criatura me infernizava assim como em meus sonhos, mas não era sonho, era real. Apesar do pavor que estava em mim permaneci firme, sem entrar em pânico. Fechei os olhos, abaixei a cabeça e falei pra mim mesma, baixinho:
— Não tenho medo. Não tenho medo. Não tenho medo.
O barulho sumiu e quando abri os olhos, já era dia e havia tudo desaparecido. Senti um calor na minha nuca, um calafrio, um arrepio. E logo após uma voz ecoava pelo local dizendo:
— Voltarei.
Um dia depois meus pais voltaram de viagem e eu ainda permanecia na cama. Sem dormir. Quando me viram naquele estado ficaram horrorizados. Cuidaram de mim. Só dormi depois de quatro dias depois do que aconteceu e na cama de meus pais. Eu não disse para eles nada do que ocorreu. Recuperei minha sanidade pouco a pouco. Eu não quis tocar no assunto e eles perceberam que eu não queria falar do que ocorreu. Acho que eles pensaram que eu tive um pesadelo muito forte, ou algo do tipo, porém, resolveram me levar a um psicólogo. Faz dois anos que isso aconteceu e a criatura ainda não voltou desde aquele dia, mas durante as noites de lua nova, ainda posso sentir sua presença e ouvi-lo chamar me nome. "
- Hm... eu devo ter feito algo errado, algo muito errado...
- Ou você foi digamos... que um escolhido. - disse Lucy. - Ou o seu monstro é muito temperamental.
- Obrigado pela injeção de ânimo... - sorri de mal gosto.
- De nada. - ela respondeu.
- Como adquiriu esse dom?
- Eu nasci com isso, sei ler cartas de tarô... Mas as coisas afloraram de vez quando Sabbath apareceu.
- Sabbath... é o meu Ben?
- Isso.
- Ainda tem muita coisa a se desenrolar...
- Hm, estou atrás de um livro de magia raro, é próprio pra mim. Eu... posso ficar aqui com vocês? Me sentirei mais segura.
- Tudo bem... - suspirei ao final. - Vá até em casa pegar suas coisas...
- Obrigada!
- Ah, vamos te ajudar a encontrar o tal livro. - disse Sheldon, animado.
(http://creepypastabrazil.blogspot.com.br/2012/02/criatura.html)(http://creepypastabrazil.blogspot.com.br/2012/03/criatura-pt-2-experiencia.html/)
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