terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Carmen

Eu era apenas um garotinho italiano de 10 anos de idade quando conheci Carmen, a única mãe que eu poderia ter.
Ela havia se encantado com meu jeito sofrido, a minha magreza, meus grandes olhos azuis e meus compridos cabelos negros. Carmen não era exatamente uma mãe, mas me dava carinho. E por causa desse carinho hoje não mato pessoas como um maníaco. Ela é tão importante que me permitirei alguns minutos para contar nossos momentos juntos.
Começamos em Florença, onde eu morava num casebre com meu padrasto. Apenas com ele, pois havia matado minha mãe com as próprias mãos. Ainda acho que fez aquilo porque ela nunca iria deixar eu ser estuprado.
Quando sento para beber um bom vinho, lembro de meus gritos sendo abafados enquanto um homem nojento se enterrava em mim gritando coisas obscenas. Morávamos num lugar mal iluminado e fedendo a urina.
Eu me virava para poder sobreviver como podia, pedindo um pedaço de pão ali, alguns trocados por lá... e geralmente me davam sem nem ao menos olhar em meus olhos. Melhor. A vida de um garoto de rua era assim.
Uma vez roubei uma maçã da quitanda e o vendedor notou no último segundo. Eu devia estar lerdo naquele dia. Mas corri como nunca e a maldita fruta escapou de minhas pequenas mãos. As ruas de paralelepípedos pareciam não terminar, até que cheguei nos fundos de uma casa de shows. Melhor que isso, encontrei uma mulher de um longo vestido vermelho brilhante me fitando por detrás de um semblante superior. Seus olhos eram extremamente misteriosos e brilhavam com a pouca iluminação da rua estreita.
- Venha aqui, garotinho. - ela sussurrou. Sua voz parecia ter saído de um filme maravilhoso.
Eu não consegui hesitar nem dar um passo atrás, obedeci sem desviar o olhar dela.
- Meu nome é Carmen. - ela se inclinou e me sorriu. Meu coração se aqueceu com aqueles lábios avermelhados mostrando os dentes brancos em pura humildade.
Eu não resisti e sorri de canto.
- Eu sou Giovanni... - murmurei com timidez.
- Hmm... lindo nome para um lindo menininho. - riu com simpatia. - Deve estar com fome. Venha comer em meus aposentos.
Ela se virou e adentrou a casa de shows pela porta dos fundos. Eu a segui segurando uma ponta do vestido. Ele pinicava em meus dedos.
O salão estava cheio de pessoas, lotado de ricos e mulheres aproveitadoras, mas ninguém mexia comigo ao me verem com Carmen. Subimos uma escada coberta por um tapete vermelho e seguimos em direção a um corredor repleto de portas. Para mim na época parecia estranho, pois tudo cheirava ao casebre onde eu morava depois de uma noite de dor...
Entramos no número 19 e me vi no quarto mais luxuoso que poderia ter ido na infância. Ah, como amo minha mãe.
Havia uma cama de casal posta sobre o piso branco, um tapete caro no centro, uma poltrona avermelhada e um bar.
A mulher pegou alguns biscoitos doces nos quais eu sonhava todas as madrugadas ter pelo menos uma migalha e me deu. Não conti um susto e ela riu. Sua risada parecia de D'us. Eu sempre via crianças comendo aqueles doces do outro lado da ponte, me deixando com água na boca.
- Pode comer, criança. Tem mais. - seu sorriso rubro não se esvaía. E isso me acomodou de certa forma. Não parecíamos estranhos um para o outro apesar de termos nos conhecido há segundos atrás.
Seus cabelos castanho avermelhados ondulavam em moldura com seu rosto de traços finos e pontudos. Uma mulher de poder e imponência.
Eu pisquei e comi o primeiro pedaço do primeiro biscoito.
- Da onde você vem, menino? - ela de repente perguntou, com a mesma calma de início.
Olhei para o chão e pensei no silêncio. Talvez pudesse contar.
- Moro com meu padrasto... - respondi sem fita-la. Não era um assunto agradável.
- Hm... entendi. E sua mãe?
- ...
- Ah, desculpe. Sinto muito.
Continuei a comer os biscoitos com certa urgência. Aquilo estava me deixando nervoso.
Logo acabei de comer e limpei as mãos em minhas roupas já sujas. Foi aí que percebi que poderia estar sujando a cama, mas Carmen parecia não se importar, na verdade, ela aparentava estar gostando.
- Por que me convidou? - perguntei, depois de minutos sem qualquer diálogo.
- Eu vi algo em você. - ela sorriu e apanhou um licor no bar, despejando-o num copo. - Algo que se passa dentro desses seus olhinhos azuis sofridos. Querido, nós compartilhamos do mesmo sofrimento. Mas queremos transformar nossas vidas em obras de arte. Temos nosso próprio brilho.
As palavras de Carmen se organizaram em minha cabeça fazendo um enorme sentido pela primeira vez desde que nasci. Algo fazia sentido.
Meu desejo de sair daquele casebre e dos abusos me consumiam como fogo. E a mulher à minha frente entendia o que era querer liberdade.
- Tenho que ir... - anunciei saltando da cama.
Ela voltou-se para mim e lenta e graciosamente caminhou até mim e pegou minha mão.
- Vamos.
Seu vestido vermelho mais uma vez me ofereceu cobertura para aquele ambiente lotado com cheiro de pecado.
Quando chegamos à rua, ela se inclinou até ficar na altura dos meus olhos:
- Volte para o seu sofrimento, meu querido Giovanni... mas volte amanhã... se quiser. - beijou minha testa.
Tive vontade de abraça-la, mas o medo de amassar suas vestimentas era maior.
Girei os tornozelos e voltei para minha casa.
No caminho, encontrei a maçã que tanto tentei furtar e a juntei do chão. Uma boa lavada a tornaria boa para comer.
Naquela noite, meu padrasto não dormiu em casa e pude sonhar com o sorriso de Carmen me acolhendo como um bebê.

Hoje em dia não sei do paradeiro de meu padrasto. Saí do casebre com 17 anos, a idade que Carmen tinha quando nos encontramos pela primeira vez. Eu tive mais sorte que ela, tornando-me o que sempre quisemos: um cantor famoso nos quatro cantos do mundo.

No dia seguinte não me contive e fui me encontrar novamente com Carmen. Ela estava com um vestido vermelho justo ao corpo escultural. Seus olhos nunca paravam de brilhar. Devia ser o reflexo de sua mente de diamantes. Ela parecia feliz em me ver e me convidou para entrar.
Subimos de novo até o quarto 19 e aquele cômodo se tornou minha casa por um período de tempo suficiente para que eu pudesse determinar um lar.
- Você sabe ler? - ela me perguntou de um jeito doce característico.
Eu, ainda tímido, acenei que não. Nunca havia pisado numa escola até então, e ninguém nunca se incomodou em me ensinar. Eu era apenas uma escória social. Nada mais que isso.
Mas Carmen teve paciência e não se importou em andar contra a multidão, buscando seus livros e versos de ingressos para que eu pudesse aprender e escrever. A caneta bambeou em minhas mãos. Eu não tinha ideia do que fazer com aquilo.
E mais uma vez, Carmen me sorriu e me instruiu docemente. Deu a determinação necessária para que eu pudesse aprender em um mês, e logo depois me ensinou a cantar tão lindamente quanto ela. As dores de minhas noites sendo violado pouco importavam naqueles momentos tão simples e importantes ao lado de minha mãe. Minha amada mãe.

As portas se abriram desde que a conheci, foi um presente de D'us. E eu não passei fome quando estava com ela, pois pegou o costume de me empanturrar de comida e me fazer sair com mais comida ainda. Eu escondia embaixo do assoalho gasto de madeira, pois se meu padrasto descobrisse não iria ser nada agradável. Ficava com poeira e sujo, mas bastava limpar um pouco.
Hoje em dia ajudo muito crianças na mesma situação pessoalmente quando paro um pouco no trabalho.

Depois de quase um ano, percebi que Carmen já não usava mais vestidos colados ao corpo - estava ficando mais inchada.
- Estou esperando um filho. Ou uma filha, quem sabe - ela explicou com um sorriso doce enquanto acariciava a barriga de leve.
Eu tinha raiva de mulheres grávidas, menos de minha mãe. Então pousei minha pequena mão em sua barriga e senti um chute. Nós rimos.
- Já pensou em um nome? - perguntei.
- Primeiro pensei em Giovanna... se for menina - ela me olhou sugestivamente. - Ainda não pensei em um nome masculino. Sinto que será menina.
Então batidas na porta me sobressaltaram.
- Entre! - permitiu Carmen.
Rapidamente me pus de pé perto dela e um homem de terno, cabelos lisos e penteados, olhos amendoados, barba por fazer e pele clara adentrou o quarto. Alexchander, marido de Carmen. Outro padrasto.
Ele foi até ela e lhe sussurrou algumas coisas, me olhou de esgueira e saiu. Não gostávamos um do outro, no entanto, nos respeitávamos. Atualmente acredito que ele teria sido um bom pai para mim se eu tivesse iniciado uma conversa agradável.
Mamãe olhou para a parede absorta em pensamentos e coçou o queixo de leve.
- O que ele falou? - perguntei, após dois minutos.
Ela sacudiu a cabeça e me sorriu.
- Nada com que tenha que se preocupar.

Os meses iam se arrastando e no natal fui convidado para o banquete da ceia. Foi meu primeiro e melhor natal de verdade que já tive. Os adultos da casa me trataram como se eu fosse a única criança que já viram na vida, me deram presentes ótimos nos quais tive um certo trabalho de esconder debaixo do assoalho do casebre. Até Alexchander pareceu gostar de minha presença e me serviu o peru. Carmen comprara roupas novas para eu ir à ceia como um verdadeiro menino afortunado, sentamos juntos à mesa. Ela já estava com 9 meses de gestação.
Havia mais ou menos 13 pessoas comendo conosco e acabei me divertindo bastante. À meia noite, mamãe me levou até o familiar quarto 19 e me botou para dormir com um sorriso brincalhão nos lábios.
- Lhe acordarei depois, querido. Papai Noel só vai deixar seus presentes se estiver dormindo.
Eu assenti com a cabeça e me encolhi embaixo dos cobertores.

Quando senti seus dedos delicados em meus cabelos abri os olhos lentamente e a vi acompanhada de Alexchander. Ambos portavam uma alegria no rosto. Eu sorri também e me levantei. Descemos as escadas e árvore de natal, antes vazia, agora estava carregada de embrulhos. Havia cinco com meu nome.
Sentei no chão e hesitei.
- Vamos, abra - Effie, amiga de mamãe, exclamou para mim. - Esse rosa aí é meu. Abre o meu primeiro.
Eu ri de seu jeito estabanado e peguei o embrulho médio. Não tive ideia se devia desenlaçar ou rasgar logo o papel de presente. Carmen me ajudou e sentou junto comigo, rasgando o papel com as unhas.
Nem acreditei quando vi: um navio de brinquedo. Eu nunca havia ganhado um brinquedo na vida.
Eu o peguei entre minhas pequenas mãos e olhei para Effie agradecendo em euforia e abri os outros embrulhos com a ajuda de mamãe, que gargalhava às minhas custas. Ganhei mais brinquedos e um livro infantil. Nunca fiquei tão feliz.
- Falta os nossos - disse Carmen, me passando um pingente circular dourado e uma caixinha preta. - Alexchander fez o do pingente. Eu dei a ideia. E o da caixinha é meu.
Abri primeiramente a caixa e encontrei um anel prateado maior que meu dedo. Havia um relevo escrito "Giovanni" encima e "Carmen" na debaixo.
- Ainda é grande para o seu dedo, mas quando for mais velho ele servirá - disse mamãe. - Agora abra o pingente.
Eu alcancei o fecho do objeto dourado e o abri. Tinha dois fotos. Na esquerda era uma minha e na direita havia Carmen e Alexchander olhando para mim com alegria.
As lágrimas escorreram em minha face antes mesmo que eu percebesse e senti braços me rodeando.

Alguns dias depois, Carmen entrou em trabalho de parto. Giovanna nasceu saudável e com cabelos pretos iguais aos do pai - e foi a única coisa que herdou do mesmo.
Eu a segurei nos braços e peguei em sua mãozinha estendida. Ela gostou de mim.
- Vocês serão muito unidos um dia - disse mamãe, nos olhando da cadeira de balanço nos lançando mais um de seus sorrisos de D'us. Às vezes me pergunto se ela se divertia de verdade.

Após alguns meses, meu padrasto havia mudado um pouco de postura, claro que não para melhor. Parecia reparar mais em meu corpo. Mais silencioso e sorrateiro. Uma cobra de olho na presa. Aquilo me incomodava. E depois de cinco dias fui descobrir: ele havia me posto à venda e o comprador já tinha aparecido. Quando soube, fui correndo até Carmen quando a noite caiu, aos prantos.
- Por quanto ele te vendeu?
- Por mil e quatrocentos.
Seus olhos de diamante de repente ficaram desenhados em um olhar ferino, não menos belo.
Ela me acolheu num abraço quente e maternal, então todos os meus problemas tinham sumido. Aspirei o cheiro doce de seus cabelos sentindo-me no paraíso. Um paraíso efêmero.
- Vou dar um jeito nisso, querido - ela murmurou baixinho para que Giovanna não acordasse.

No dia seguinte, meu padrasto me tirou de casa para roubar alguma comida ou dinheiro. Fiquei sentado num barril e o observei tentando persuadir uma senhora a dar-lhe trocados. O sol teimava em não querer queimar minha pele.
Então, um brilho me chamou a atenção do lado esquerdo da rua.
- Carmen? - sussurrei.
Ela vinha com uma fúria incrustada nos olhos de diamantes. Usava um vestido preto de corte simples. Partiu meu coração vê-la naquele ambiente. Alexchander vinha logo atrás, tentando alcançar a esposa irreparável.
Quando mamãe encontrou meu padrasto, não consegui conter a tragédia: um tapa fora desferido nele enquanto Alexchander tentava parar sua fúria. Logo uma discussão se iniciou.
- ELE É APENAS UMA CRIANÇA! NÃO PODE VENDÊ-LO COMO UM OBJETO, SEU VERME! - gritou mamãe, fazendo todos ao redor pararem para ver.
Os homens se assustaram com a força dela. Eu corri até ela, abraçando-a sem perceber que as lágrimas caíam em minha face infantil.
Carmen parou de gritar por um momento e acariciou meus cabelos mal cuidados num ato de extremo carinho de despedida. Eu entendi que aquela seria a última vez que nos veríamos e a abracei com todas as forças que consegui, expulsando minha própria alma para que se mesclasse com a dela. Aquela foi a primeira e única vez em que soube o significado de "despedidas são difíceis".
Meu padrasto assistia a tudo querendo me esganar, mas Alexchander o puxou para um canto e conversaram de forma civilizada.
Carmen me afastou alguns centímetros para que pudesse ver meus olhos azuis marejados e começou a chorar também.
- Alex vai nos levar embora... - disse ela, entre soluços. - Eu e Giovanna...
Enterrei meu rosto novamente em seu vestido preto e chorei como nunca havia feito na vida.
- Eu te amo tanto, meu amor... - ela dizia, acariciando os meus cabelos num gesto que faria muita falta.
- Eu também te amo, mamãe! - respondi, olhando-a com uma cara inchada.
Depois de quase uma hora, ela foi embora definitivamente, amparada pelo marido, que dera uma quantia em dinheiro suficientemente grande para que meu padrasto mudasse de ideia quanto à minha venda pelo resto da vida. Mas de qualquer forma, eu queria Carmen, eu necessitava de Carmen para me manter são. Hoje sei que aquilo foi necessário para que eu pudesse ter o impulso certo na carreira de cantor.

Agora estou me preparando. Já me disseram que em cinco minutos aparecerei abrindo o evento com um de meus singles.

Passo os dedos no anel que Carmen me presenteara no natal e o coloco, junto com o pingente: meus amuletos da sorte. Uso a técnica de esvaziar rapidamente os pensamentos que aprendi com ela e subo ao palco.
Os aplausos animados preenchem o ar, junto com o grito enlouquecido de fãs famosas. Sorrio de canto e começo a cantar, sentindo a música se espalhar na minha alma.
Quando termino, mais um rompante de aplausos acontece e caminho em direção à plateia, indo sentar para aproveitar as premiações.
E no mesmo instante que subi o 19° degrau me deparo com algo que me paralisou.
Ali estava ela: olhar sedutor, batom ressaltando os lábios, uma cópia perfeita de Carmen senão fosse pelos cabelos escuros.
Ela me fitou e abriu um sorriso:
- Giovanni! Há quanto tempo! - disse Giovanna.
E eu sorri junto.

sábado, 30 de novembro de 2013

Querido Misantropo

Estou com dor de cabeça. E sinto o mais profundo desprezo para com a minha mãe e minha própria vida. Minha garganta queima querendo gritar. Minha vontade é de quebrar a cabeça no espelho do banheiro e cortar a boca com os cacos. Não duvido que isso aconteça algum dia. Sou um perigo para a sociedade devido aos meus problemas psicológicos. Odeio cada pedaço do corpo humano. É nojento.
Sou ingrato e muito grato pelas coisas que tenho. Sou regido pelo ódio e comecei a odiar a humanidade não pelo o que ela é. Mas pelo o que fez comigo.
Depois de cortar minha boca com o caco de vidro, mutilarei meu corpo e sorrirei com toda a loucura que me reflete como diamantes. E talvez assim as vozes se calarão.

sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Grazie.

Eu acordei e me vi em suas costas
O deserto atravessamos
E o Ártico conquistamos

Acabamos com os tolos
Gritamos nosso hino de fúria
Em meio à luta construímos uma fortaleza de tijolos
E em seus olhos azuis a sua luz me acendeu

Devo lhe agradecer por ficar
Entoamos juntos o desejo de amar e matar
As armas carregadas e prontas para atirar
No fim o demônio que a todos só fez enganar e estuprar

O frio não atingiu nosso fogo santo
Nossos ossos descansaram para mais um dia de batalha
A tropa acorda com seu belo canto
Atingimos o pescoço do inimigo com nossa navalha

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Nosferatu

Hoje Nosferatu veio me visitar
Tão belo e debochado veio a me acariciar
Sugou o sangue pelos pés e riu
Eu não duvido de sua maldade cor de anil

Hoje Nosferatu se deitou comigo
E disse que estou a beira da morte
Gargalhamos e ele se tornou meu amigo
Alucinado e perdido, ele conseguiu aliviar meu corte

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Jade's Lullaby

Eu estou remando contra a maré no mar frio e agitado
Eu estou tentando te manter aquecida
Dentro do seu coração depressivo e avoado
Tento manter curada a sua ferida

Aqui é frio e com criaturas tímidas
Aqui é onde eu quero permanecer
Protegendo suas fraquezas íntimas
Sem abandonar você

Ao pôr do sol eles saem das tocas para lhe atormentar
De aura negra e má intenção
Uma pressão que você tem que aguentar
Eu gostaria de ser a sua proteção

Eu posso me esconder embaixo da cama
Para você não se sentir tão sozinha
Sou um monstro que te ama
Tapando os ouvidos para não ouvir os tambores da casa vizinha

Oh, por que não pode mudar?

As nuvens me escondem de ti
A Lua refulge e ofusca ilusão
O mago foge da floresta para te encontrar
Porque você é a única pessoa capaz de amar
Nossos corpos estão em ebulição

É mágico
É aconchegante
É divino para um sádico

Nos encontraremos na campina
E ainda não revelarei meus segredos
Despirei suas roupas e encontrarei minhas lágrimas em teu corpo

Oh, sempre será assim
Oh, por que não pode mudar?
Meus sonhos tomam conta deste pesadelo insano

Querida, por que não tende a me deixar?
Ah, querida, não deixarei ninguém lhe tocar
Será que terei que ao passado voltar?
Tenho que redescobrir o poder de amar
Para nossos ossos poderem descansar
E sobre a rocha poderemos dormir
Abraçados, esperando a hora de partir
O mar beija os meus pés
O vento assovia entre as montanhas

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

Eu não estou embriagado.

Eu o puxei para perto de mim, ninguém se importava, mas todos podiam ver. Estávamos sob uma luz escura e laranja naquela boate. A música do Black eyed peas tocava e traduzia tudo o que eu queria dizer.
Ele ficou parado, olhando para frente, talvez achando que eu estava bêbado, tentando se convencer de que eu estava chapado, que tudo ficaria bem. Afinal, eu o abracei por trás encostando o nariz em sua nuca.
Tenho certeza de que sou o único a sentir o perfume único e viciante que provinha de sua pele. Era um perfume que cada pessoa tinha, mas que apenas o apaixonado sentia, uma evolução humana útil. Uma mágica que tendia a não ser recíproca.
Não aguentei e descansei minha cabeça em seu ombro. Estava totalmente embriagado com seu cheiro. Era onde eu queria estar o tempo inteiro. Quanta infelicidade.
- Você... Você é uma droga. E eu te amo. - murmurei, soltando-o.

Apegado às lembranças

Era um sem nome, sem esperanças
Andava na grama, em companhia de crianças
Tudo o que ele queria era ser como elas, afogado em lembranças

Sozinho, vivia rindo
Na esperança da morte estar vindo
E o alívio da dor que estava sentindo

Suspirando, vagando em direção ao mar
Para na água poder mergulhar
E nunca mais voltar a respirar

Eu devia amar como os outros amam

Eu vou matar você
Sem dar chance pra se esconder
Eu não ligo se me prender
Meu amor, eu não consegui te esquecer

Eu devia te amar como te amava
Eu sou um louco que precisa do seu amor
Lembro que quando abria a boca eu me calava
Sua morte é minha cura
E minha dor

Você me mesmeriza
Mas acho que deve correr
Você é a dor que me agoniza
E por isso tem que morrer

Enterre uma faca no meu peito
Que não vou reclamar
Fico até sem jeito
Porque foi um pecado te amar

O Patrão

Eu não posso conviver com isso
Eu não posso viver com a sua morte
Se eu estivesse lá poderia te proteger
Mas não se preocupe, senhor
Eu não tenho medo de morrer
No céu, no inferno, sua companhia vou seguir

Não lembro quando fechei a janela
O sol queimava os olhos dela
E eu a protegi desde então
Ambos estamos tristes
Aceite minhas flores e este cartão

Grafitamos o muro com seu nome
Ela correu para o banheiro com lágrimas sem conter
Segurei em sua mão e ouvi o senhor dizer
Cuide dela, pois não pode me ouvir
Me desculpe, senhor, não precisa nem pedir

Ele continua sem se importar
Andando em círculos sem parar num lugar
Às vezes tudo o que eu queria era morrer
Mas o senhor mais uma vez ordenou ao tempo para me prender
Às vezes tudo o que faço é obedecer
Às vezes tudo o que faço é proteger

Eu canto dos seus lábios para ela dormir
Ela o ama muito, comecei a perceber
Mas depois ela vai ver
Que tenho o dom de desaparecer

Às vezes tudo o que eu queria era voltar no tempo
... E ainda quero voltar
Às vezes eu me recordo de que quem me protegia de mim mesmo
Era o senhor
Às vezes ela só quer desabafar
E eu juro que não quero me aproveitar

Ela dormiu querendo chorar
Uma história fui lhe contar
Para que pela madrugada ela não pudesse gritar
Às vezes eu tenho certeza de que ela só faz te amar

Então, Andy, você vai para o aniversário?

Andy desembaçou o espelho do banheiro, os olhos azuis brilhavam foscamente. Seu coração batia nervoso e uma falta de ar apossou seus pulmões, mas não era hora de voltar atrás numa decisão tão importante.
O vocalista vestiu-se e perfumou-se como de costume (preto e lavanda), não falaria nada a ninguém sobre sua saída, mas todos já sabiam o que aquela data representava.
Pegou o carro e dirigiu calmo, prestando atenção à sinalização e às pessoas que passavam. Olhou para o lado e avistou uma loja de animais e uma gaiola com coelhos. Suspirou pesadamente. A dor alojou-se em seu coração.
Quando chegou até a casa olhou para o banco de trás e pegou o envelope. Apertou o papel contra os dedos receoso, ainda havia uma coisa que precisava pegar do banco de trás, uma pipa engenhosa estampada com o símbolo do Nirvana. Afinal, aprendera com ele a gostar de pipas, e graças às suas habilidades recém-descobertas, soube fazer uma em seus próprios moldes. Pelo menos agora o autismo brando servira para algo, mas isso não importava. O envelope continha poucas declarações, apenas um feliz aniversário. Andy sabia que o outro era demasiado esperto para entender.
Após deixar os itens silenciosamente, voltou para o carro... E para a vida monótona de sempre.

Luto - Lad

Tudo o que eu queria era te levar para casa
Na segurança da sua família
Debaixo da minha asa
Mas você teve que ir tão rápido como um pássaro

Você perdeu a cabeça muito velho
Mas seu coração continua quente e pulsante dentro de nós
Seu sério arrogante

No seu último segundo
Ouvimos ele gritar e quase desabar
Foi quando sentimos você deixar este mundo
E nós mesmos

Você nunca foi a pessoa perfeita
Mas foi aquela que nos protegeu da loucura bem feita
Você sempre olhou nos meus olhos
Mas eu nunca quis desviar dos seus

Tudo o que eu queria era ouvir você me chamando de puro e casto novamente
E sentir seus braços me acolhendo num estado amável
Eu nunca fui de ser carente
Mas você bagunçava meus cabelos num ato afável

E agora como poderei dormir
Sem seu olhar poder sentir
Por que você teve que tão rápido ir?

Por que quando vemos a pessoa que amamos o tempo parece travar na paz?

- Filha? Por que quando vemos a pessoa que amamos o tempo parece travar na paz?
- Porque a pessoa é tão maravilhosa que consegue fazer o tempo parar mas ao mesmo tempo passar tão rápido que horas parecem minutos
Passei anos e anos descobrindo mágicas cada vez mais poderosas, uma fazia o tempo parar, outra fazia a alegria surgir do nada. Fui muito burro em gastar tanto tempo. Só agora eu fui perceber que a maior e mais poderosa magia está aqui do meu lado. A magia em que você me prendeu. O amor.

Aquele que sempre ousa lhe salvar

Dias iguais
Noites iguais
E você está fodidamente entediado
O paraíso pode estar distante

Ah, vida
O que mais pode me dar
Neste círculo vicioso
E cubicular?

Há muito tempo o ar virou obrigação
Não tenho mais forças para brigar com meu pulmão
Grande reclamação se ouve quando ouso gritar
As pessoas olham e voltam a andar

A morte chega e senta ao meu lado
Com seu capuz não consigo enxergar
Os seus olhos frios a me fitar
Ela vem apenas para lembrar que sou um mero derrotado

Sem jamais me levar
Eu tentei várias vezes lhe beijar
Ela ria e começava a se afastar
"Você não tem coragem de se matar
Com aquele que sempre ousa lhe salvar"

terça-feira, 26 de março de 2013

Yesterday...

I don't love you... Like a did yesterday...
Aquela frase ainda está na minha cabeça
Fresca e decorada
Para voltar e me assombrar cada vez que ouço

Ela foi embora
E me deixou uma névoa em forma de lebre de olhos verdes
Eu a deixei na proteção dos monstros embaixo da cama
E fui embora
Ela ficou a mercê de Deus

Eu olhei de relance para trás e a vi chorando de ódio
Meus passos enfraqueceram e não consegui respirar

O ballet da tristeza eu aprendi
A dança da frieza eu dancei
E ela assistia sentada

Aqui não há espaço para arrependimentos
Mas meu amor estraçalhado te acompanha sem saber exatamente onde você está
E eu ainda choro
Porque o verdadeiro amor não morre

sexta-feira, 15 de março de 2013

Céu azul

O céu não está azul para mim
Eu não quero que seja assim
Eu não quero que seja assim

Eu quero que todos os seus sonhos se realizem
Num lugar que eu não possa tocar
Num lugar que o pote de ouro se encontra no final do arco-íris

Eu quero só você
Eu quero você aqui

Eu não tenho um plano B para isso
É você e pronto
Você não pode se prender a mim e ao meu mundo de loucura

Eu não tenho um plano B para isso
É você e pronto
Você não pode se prender a mim e ao meu mundo de loucura

Eu sou um homem mal que pega o coração do outro e o amassa entre os dedos
Mas agora estou sensível
Sem forças
Sem cores

E você, sopro de luz
Você me tornou uma pessoa melhor
Quando você me beija
Tudo fica bem
Mas hoje
Nada disso importa

quinta-feira, 14 de março de 2013

Kaito x Gakupo

Cheguei em casa tarde da noite vindo da academia e encontrei a casa com as luzes acesas. Berrei um "Querido, cheguei", mas ninguém respondeu, tampouco ouvi passos eufóricos até mim. Sorri cansado e tomei banho. Quando saí do banheiro com uma calça de pijama, caminhei lentamente até o quarto que estava com a luz acesa. Kaito dormia como um gatinho mal embrulhado e senti-me frustrado por ele ter dormido antes de eu chegar.
Desliguei a luz deixando uma fraca iluminação da sala atravessar a porta. Deitei ao lado de Kaito e o embrulhei, ele se remexeu um pouco e abriu os olhos, embebido em sono.
- Gakupo... - chamou-me. Afaguei sua nuca e o pus para dormir novamente. Afastei algumas mechas azuis de seu rosto e beijei carinhosamente sua bochecha.
Percebi o anel dourado na mão que o afagava, o símbolo da nossa união que me deixava feliz mesmo numa onda de imensa tristeza, Kaito sem dúvida era o início, o meio e o fim da minha alegria.
Tal alegria que consegui após conhecê-lo e ele abriu meus olhos e me fez jurar nunca mais ser um cafajeste, eu o devia muito, mas acho que a quantidade de amor que lhe dou é o suficiente.
Resolvi parar de afaga-lo para deixá-lo dormir melhor e deitei de barriga para cima. Batalhei tanto para ser independente das pessoas e acabei obrigado de bom grado a proteger aquele ser com medo de escuro, já podia ser considerado o paraíso na Terra.
Mas e se um dia Kaito resolvesse passar pela porta com suas coisas e nunca mais voltar?
Involuntariamente, lágrimas brotaram dos meus olhos e comecei a soluçar sem premeditação. Enxuguei a água e ele remexeu-se mais uma vez ao meu lado, abraçando-me.
- Você está chorando? - perguntou com a voz rouca e embargada.
- Nada, nada... Apenas não me deixe... - abracei-o forte e assim adormecemos.

domingo, 10 de março de 2013

Jogada no mar

Fui jogada no mar, tranquila e empurrando o desespero para um canto do cérebro. Calmamente, fui afundando, vendo meus longos cabelos castanhos flutuarem a minha frente pelos meus olhos semi cerrados.
Bolhas escapavam de minha boca. Era tudo tão surreal dentro da água... Parecia um sonho. Enquanto via meus braços a frente e a superfície cada vez mais longe, mentalizei o rosto da pessoa amada e pensei "eu te amo". O oxigênio estava acabando depressa. Concentrei-me em meus batimentos cardíacos, o coração que travara uma batalha entre bater devagar ou rápido, mas sabia que não devia me desesperar.
Então uma figura masculina e descamisada entrou na água, nadando rápido para me puxar pelo braço e interromper aquela tão encantadora e bizarra cena de quase afogamento. Rapidamente fui levada até a superfície e meu bumbum encontrou-se com a superfície dura do piso de madeira do deque.
Captei o máximo de ar que consegui por várias vezes até focar a visão no rosto de Stefan.
- O que foi isso, Elena?
Suspirei e saí o mais rápido que pude.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Doce mentira

Estou preso no banheiro
Sem conseguir encarar a face da humilhação
A face que me olha como se eu fosse uma aberração

Sem palavras, o sangue escorrendo fala por mim numa linguagem muda
Eu não acredito num novo amanhã

O que você fez para merecer isso?
O que o escuro da perdição lhe diz sobre aquela alucinação?

A sua doce infância
Repleta de pétalas de rosa
E as rosetas de água que escorrem ao seu nascimento
Você lembra da alegria?

O mundo estraga
Apodrece e te leva junto
Aquela sua inocência levada embora
Substituída pelo olho da solidão

O coração da sua mãe floresce em felicidade
Ela acreditava em seus vários anos de vida
Ela acreditava que não seriam interrompidos
Doce mentira

O rosto do estuprador
Você lembra muito bem
O sorriso e o toque salgado do desespero
O que te faz ter ódio dele?

A vontade de agradecer aos seus amigos só faz aumentar
O veneno à sua frente te faz pensar

Eu achei amigos bons e verdadeiros
Eu encontrei problemas pelo caminho
Eu encontrei o caminho da doença
E eu não sei se encontrarei o sol amanhã

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Adam's Song - Blink 182



Adam's song

I never thought I'd die alone
I laughed the loudest, who'd have known?!
I traced the cord back to the wall
No wonder it was never plugged in at all
I took my time, I hurried up
The choice was mine, I didn't think enough
I'm too depressed to go on
You'll be sorry when I'm gone


I never conquered, rarely came
16 just held such better days
Days when I still felt alive
We couldn't wait to get outside
The world was wide, too late to try
The tour was over we'd survived
I couldn't wait till I got home
To pass the time in my room alone


I never thought I'd die alone
Another six months I'll be unknown
Give all my things to all my friends
You'll never step foot in my room again
You'll close it off, board it up
Remember the time that I spilled the cup
Of apple juice in the hall?
Please tell mom this is not her fault


I never conquered, rarely came
16 just held such better days
Days when I still felt alive
We couldn't wait to get outside
The world was wide, too late to try
The tour was over we'd survived
I couldn't wait till I got home
To pass the time in my room alone


I never conquered, rarely came
Tomorrow holds such better days
Days when I could still feel alive
When I can't wait to get outside
The world is wide, the time goes by
The tour is over I survived
And I can't wait till I get home
To pass the time in my room alone

Canção do Adam

Eu nunca achei que morreria sozinho
Sempre fui o que ria mais alto, quem iria saber?!
Eu segui o cabo atrás da parede
Não me surpreende ele não estar plugado
Fiz tudo ao meu tempo, me apressei
A escolha foi minha, eu não pensei direito
Estou muito deprimido pra continuar
Você vai ser arrepender quando eu não estiver aqui

Nunca realizei algo, quase não vivi
Aos 16 os dias eram mais fáceis
Dias em que eu ainda me sentia vivo
Mal podíamos esperar pra ir lá fora
O mundo era grande, tarde demais pra tentar
O passeio acabou, nós sobrevivemos
Eu mal esperava pra chegar em casa
E passar o tempo sozinho no meu quarto

Eu nunca achei que morreria sozinho
Mais seis meses e eu serei desconhecido
Dê as minhas coisas a todos meus amigos
Você nunca mais pisará no meu quarto
Você o fechará, o trancará
Lembra quando eu cuspi um copo
De suco de maçã no hall?
Por favor, diga a mamãe que não é culpa dela

Nunca realizei algo, quase não vivi
Aos 16 os dias eram mais fáceis
Dias em que eu ainda me sentia vivo
Mal podíamos esperar pra ir lá fora
O mundo era grande, tarde demais pra tentar
O passeio acabou, nós sobrevivemos
Eu mal esperava pra chegar em casa
E passar o tempo sozinho no meu quarto

Nunca realizei algo, quase não vivi
O amanhã guarda dias melhores
Dias em que eu poderia me sentir vivo
Quando eu mal consigo esperar pra ir lá fora
O mundo é grande, o tempo passa
O passeio acabou, eu sobrevivi
E eu mal posso esperar pra chegar em casa
E passar o tempo sozinho no meu quarto



sábado, 2 de fevereiro de 2013

Mr. Jones, sou sua noiva.

Aquele sorriso safado, misturado com o clima boêmio de Paris não me deixava relaxar. Seus negros cabelos repicados até a nuca, caídos sobre a face, os olhos pretos, o corpo forte, porém sem músculos contrastavam-se com a roupa que usava -camisa de botões, calça, paletó sobre os ombros e sapatos sociais, todos da cor preta-, tudo me hipnotizava. Olhava-me de canto, encostado num muro, nunca conheci alguém como Mr. Jones.
- Lílian - chamou-me com a voz suave.
Estremeci. Forcei um sorriso de canto, deixando claro que tinha escutado.
Cambaleei encima do salto alto, indo até ele nervosa.
- Ora, vamos... Não é a primeira nem a segunda vez que nos encontramos. - ditou.
Era verdade. E Mr. Jones sabia dar amor como ninguém. Eu era sua noiva, sua feliz noiva.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Saint Mary-Ann


O tempo está lindo lá fora, não é mesmo, Mary-Ann?
Borboletas trotando
Abelhas colhendo o milho
Os tempos de loucura estão acabando
Eu vou ter alta
Eu vou ter alta
E continuar andando sozinho além da escuridão
A noite está tão clara lá fora, Mary-Ann
Aaaah, pare de me cutucar

A mulher tinha cabelo negros e me olhava com aqueles olhos vazios contrastantes com a pele cor de osso. Seu vestido branco e um pouco manchado de sangue não me amedrotavam, na verdade, a achava bela e inteligente.
 - Venha, Mary-Ann, estou escrevendo sobre você. - sorri.
Ela deu um grito ensurdecedor abrindo sua boca internamente negra forçando o maxilar a quebrar. Eu ri, vendo-a se aproximar.
 - Não precisa disso para chamar minha atenção. - falei, mostrando o caderninho.
Ela leu lentamente e sorriu para mim, mostrando os dentes serrados, pontudos e enegrecidos.
"Aaah falei que ela iria gostar" disse Samael.
 "Nem precisava dizer" respondi de volta.
 "Cale-se, Samael" retrucou Rafael.
 - CALEM A BOCA! - berrei. - Nãão Mary-Ann, não é com você, minha querida! É com o Samael e o Rafael, aqui dentro... - apontei para minha cabeça. - Caalma, não gritei por querer... Ah, não chore... - peguei em sua mão extremamente fria. - Você quer deitar? Me desculpe por pegar sua cama, eles não conseguem te ver.
Ela sentou-se ao meu lado, seus olhos começaram a escorrer sangue.
 - Não chore, minha linda. - peguei sua cabeça e a pus em meu ombro, ninando-a com delicadeza.
Karoline entrou em meu quarto com meus remédios. Mary-Ann assistia atenta. Tomei os remédios silenciosamente com os olhos vidrados. Karoline fitou minha mesa de trabalho.
 - Belos chapéus... onde está aquele colorido? - indagou. Eu atirei o copo de plástico contra a parede.
 - Dei para a Mary-Ann. Ela fica linda com cores vivas. - respondi, estressado.
 - Mary-Ann está morta.
 - Mary-Ann é mais viva do que muitos vivos por aí. Ela é uma menina doce e cheia de vida e amor. É a minha melhor amiga aqui.
 - Ela está aqui?
 - Sim, ela está apertando meu braço.
 - Então ela não é uma pessoa boa se está te machucando.
 - Ela está apertando meu braço porque tem medo de você.
Karoline pareceu engolir em seco.
 - Mary-Ann não existe, não tem motivos para ficar com medo de mim.
 - ENTÃO POR QUE FICASTE NERVOSA? - gritei, fazendo-a pular. - ME DIGA!
 - Não fiquei nervosa, mas que droga. Não vou discutir com um retardado.
 - EU NÃO SOU RETARDADO! VIM PARA CÁ PORQUE O MALDITO DO MARIDO DA MINHA MÃE ACHOU QUE EU ERA LOUCO POR VER A VADIA DA AVÓ DELE VAGANDO PELA CASA! - Mary-Ann agora chorava entre soluços em meu ombro, apertando meu braço como nunca, como se me impedisse de avançar na doutora. Eu não deixaria de acatar um pedido dela.
Karoline continuava com cara de idiota, nem ligava para o copo caído perto da minha mesa de trabalho.
 - Você quer que eu pergunte a ela o motivo de ter medo? - perguntei, calmo.
 - Não quero nada com os mortos da sua cabeça. - ela recolheu o copo e antes de sair, disse: - Ana Flavia virá daqui a pouco.
 - SÉRIO? - exaltei-me junto de Mary-Ann. Ela adorava minha filha.
Ana era minha filha postiça, apesar de termos quase a mesma idade. Nos conhecíamos desde a infância.
 - Estão te tratando bem aqui? - perguntou Ana, fitando as paredes brancas acinzentadas do meu quarto.
 - Na verdade quase não falam comigo. Só a Mary-Ann que me faz companhia.
 - Desde quando ver espíritos é loucura? Espero que quando chegar o século XXI essas coisas estejam muito bem enterradas nas memórias dos mais velhos.
 - Duvido... - olhei para Mary-Ann, ela batia palmas enquanto vomitava um treco escuro e viscoso em enorme quantidade.
 - Sinto frio do meu lado direito. É como se um iceberg estivesse do seu lado. - disse Ana.
 - É só Ann. Ela é muito fria às vezes... principalmente quando está vomitando! - dei tapinhas em suas costas.
 - Não se pode dizer o mesmo de você... - disse Ana, esfregando as mãos.
 - Hein?
 - Foi colocado neste quarto por mal comportamento! Sabe que os pacientes que vieram para esse, enlouqueceram muito mais e surtavam violentamente, não aguentando ficar aqui.
 - Eles não sabiam apreciar uma bela companhia.
 - Hm... se continuar assim, não vai ter alta nunca.
 - E negar a existência da minha melhor amiga?
 - Você pode leva-la para casa!
 - Hm... - olhei para Mary-Ann. Ela pareceu gostar da ideia. - Certo.
 - Te dou uma semana para se ajeitar.
 - Estarei ajeitadinho e prontinho até lá. - sorri abertamente.
Quando ela foi embora, tomei banho e tentei parecer o mais apresentável possível.
Karoline veio ver como eu estava e se surpreendeu.
 - Nossa, não sabia que iria a alguma festa. - ela disse.
 - Que nada. - sorri. - Só quero ser mais apresentável. Ah, já te falei que cada vez menos estou vendo espíritos? - indaguei, confiante.
- Sério? Então está melhorando. Isso é bom. Irei repassar seu relatório ao diretor. - virou-se para sair. - Descanse.
 - Obrigado.
Assim que ela saiu, Mary-Ann começou a dançar pelo quarto. Eu a aplaudi da cama e fui até a mesa de trabalho. Fazer chapéus era gratificante.
"Chapéus? Faça bandanas!" - disse Samael, inquieto e me mostrando texturas de cores mentalmente.
 - Certo, farei bandanas também. O que você acha, Rafa?
"São lindas!"
Mary-Ann alegremente ficou tentando cantar, mas só conseguia sair algo esganiçado de sua boca. Ela ficara frustrada e começou a chorar copiosamente. Eu parei o que fazia e me virei para ela, olhando em seus olhos vazios.
 - Ah, minha querida, eu gosto quando canta. Não se sinta frustrada.
Ela deu um belo sorriso e recomeçou a cantar agudamente.
 - Você precisa de uma roupa bem colorida... Vou fazer um vestido novo pra você. - ditei, tornando minha expressão paterna.
Mary-Ann bateu palmas. Ela era tão simpática... como não gostavam de ficar perto dela?
 - Você tem outro sapato? - perguntei.
Olhou para baixo por alguns minutos, então tornou a me fitar e acenar positivamente com a cabeça.
Duas semanas se passaram. Eu fingia não ver Mary-Ann quando Karoline ou o diretor vinham em visitar, ela entendia o motivo de ignora-la em tais ocasiões. Às vezes ela se incomodava quando Karoline passava a mão em meus cabelos e dizia "logo estará livre da gente", mas eu não ousava perguntar o por quê.
 - Ele disse que eu vou ser liberado amanhã, Mary! - exclamei para minha melhor amiga, quando o diretor tinha saído do meu quarto. Ela pareceu preocupada, mas tentou mostrar-se feliz. - O que foi, minha Sweet Ann? -
Karoline bateu à porta e Mary-Ann soltou seu habitual grito grotesco que deixaria alguém normal de cabelo em pé.
 - Olá, Karoline. - falei, atento.
 - Vim lhe pedir para ir dormir. Amanhã será um grande dia para você.
 - Tens razão. Devo mesmo me recolher. Obrigado.
 - Não quer um remédio? - perguntou como quem não queria nada.
 - Não aguento mais ver remédios na minha frente. - respondi, calmo. Mary-Ann parecia nervosa ao meu lado.
 - Mas é só um remédio para dormir melhor. Não pode acordar no meio da madrugada.
 - Eu não acordo no meio da madrugada, não se preocupe. Meu sono sempre foi tranquilo.
 - Tem certeza? Tenho um ótimo.
 - Eu já disse que não preciso. Por favor, me deixe dormir sossegado, estou me estressando.
 - Certo. - deu-se por vencida. - Boa noite.
 - Buona sera. - respondi e ela saiu.
Mary-Ann pareceu mais aliviada.
 - Calma, vai acabar tudo bem. Amanhã, quando eu acordar vou te dar o vestido prometido.
Fui me deitar e pude contemplar pela primeira vez as estrelas através da janela.
"Não achaste suspeito a atitude da doutora?" perguntou Rafael.
"Eu ficaria mais esperto se fosse você" disse Samael.
"Por que ela faria alguma coisa contra mim? Se quisesse me matar, por exemplo, já teria o feito"
"Não duvide do diabo, pois o diabo não duvida de você" os dois disseram em coro. Arrepiei-me com tal frase, será que tinham razão?
Fitei Mary-Ann encolhida perto da minha cama, ela estava aparentemente tentando aguçar os sentidos atrás de qualquer perigo que pudesse aparecer.
 - Até você, pequena? - perguntei. Ela virou pra mim e baratas saíram de sua boca. Seus olhos vazios e escuros como um abismo focaram-se em mim. - Não fique nervosa, vai dar tudo certo.
Minha visão desfocou de sono e pude descansar o corpo, pela primeira vez depois de chegar no sanatório.
Sonhos, sonhos... Encontrei Samael discutindo com Rafael sobre algo, apenas me aproximei e sentei na grama. Os dois costumavam brigar por qualquer coisa, afinal um era anjo e outro demônio, vai entender...
 - Parem de brigar... - pedi, sonolento.
Eles me olharam por alguns segundos e então fizeram uma expressão que me fez levantar.
 - Não é o grito da Mary-Ann? - indagaram os dois.
Acordei e vi Karoline numa versão monstruosa encima de mim. Antes que eu pudesse perguntar ou dizer alguma coisa, senti uma faca sendo cravada em meu ombro, com certeza estava mirada para o meu coração, mas o escuro noturno não permitia enxergar com clareza. Segurei seu punho para não ir mais fundo, visto que era sua intenção e a joguei para longe de mim.
Tirei a faca do meu ombro, pela pouca luz que a lua minguante concedia percebi o líquido vermelho brilhando na lâmina - que por sinal, denunciava ser de cozinha. Joguei-a para debaixo da cama.
 - VOCÊ É MUITO CEGA! - berrei para Karoline, caída perto da minha mesa de trabalho. Havia batido a cabeça violentamente contra o pé de ferro da mesa. Mary-Ann a olhava com ódio... tanto que pela primeira vez fiquei com medo dela.
Sangrando muito e com dor, aproximei-me da doutora que tentava se levantar. Peguei sua cabeça com o braço bom e o rebati novamente contra o ferro, desta vez desacordando-a.
 - Cuide dela, Mary-Ann... - pedi. Com a mão direita tentava impedir o sangue de sair e com a esquerda, apoiava-me na parede em direção ao quarto do inspetor do andar.
Bati à porta e logo fui atendido - eu sabia que Frank ficava até tarde jogando GTA ou Minecraft.
 - Mas o que aconteceu com você? - pegou em meu ombro, preocupado.
 - Primeiro cuide disso aqui, depois respondo... Mande alguém ficar de olho em Karoline...

 - Agora eu sei o motivo da Mary-Ann ter ficado nervosa quando aquela doutora do demone veio me oferecer remédio. - ditei, contemplando os pontos no lugar do corte. Ana me fitava com revolta no olhar. - Huhuhu parece que sou um imã para hospitais.
 - Não tem graça! Ainda bem que ela foi presa...
 - Aliás, descobri que Mary-Ann foi morta por Karoline... só que como era ingênua, aceitou os remédios e morreu sem reagir. - bufei, levantando-me e vestindo a camisa.
 - Como conseguiu joga-la tão longe?
 - Esqueceu que eu era o mais forte da turma? - ri secamente.
 - Claro que lembro. "Tão forte capaz de virar um carro de cabeça pra baixo". - devolveu o riso. Parecia que tínhamos fumado maconha.
Saímos do hospital e encontrei o carro de Victor nos esperando na garagem.
 - VICTOR? - corri até ele como um cachorro que há anos não via o dono.
 - Calma, Sr. Jones. - acariciou minha cabeça, dando um sorriso cínico. Ha, eu sabia que ele estava tão exaltado quanto o cachorro aqui.
 - Quando chegou de viagem?
 - Faz umas quatro horas.
 - AAAAAAH QUE CARINO! Vindo aqui só pra me ver!
 - Que tal entrarmos no carro?
Victor era um amigo de infância, como Ana.
Mary-Ann sentara-se ao meu lado no veículo. Usava o vestido colorido e uma sapatilha branca como sua pele.
O dia estava lindo, era maravilhoso ver a luz do sol livremente, sem médicos pra todo lado... Nem portões impedindo a aproximação do mundo exterior.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Vivendo morto

Eu sinto que não estou vivendo
Apenas um morto se fingindo de vivo
Esperando a hora de começar a viver

Eu choro todos os dias
Molhando o asfalto escuro
Não iluminado pela luz da lua

Eu finjo um sorriso
Coloco uma máscara
E todos acreditam

Não sabem...
Não entendem...
Não quero permanecer aqui
Sentado esperando o tempo passar
Reprimido pelas pessoas que deveriam dar apoio

Eu não estou vivendo
Estou passando a tristeza na loucura

Meus olhos ardem, mãe
E você não faz nada
Não vê a desesperança remoendo em minha alma

Quando eu vou parar de imaginar uma vida feliz
Para vivê-la de fato?

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Soft Kitty


Dois caminhos


Kiss My Eyes And Lay Me To Sleep



Kiss My Eyes And Lay Me To Sleep


This is what I brought you,
This you can keep.
This is what I brought
You may forget me.

I promise to depart,
Just promise one thing,
Kiss my eyes and lay me to sleep.

This is what I brought you,
This you can keep.
This is what I brought you,
May forget me.

I promise you my heart,
Just promise to sing,
Kiss my eyes and lay me to sleep.

Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh

Kiss my eyes and lay me to sleep.

This is what I thought,
I thought you need me.
This is what I thought,
So think me naive.

I promised you a heart,
You promised to keep,
Kiss my eyes and lay me to sleep.

Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh Oh-oh

Kiss my eyes and lay me to... Sleep.


Beije meus olhos e me ponha pra dormir


Isto é o que eu te trouxe,
Isso você pode guardar.
Isto é o que eu trouxe
Você pode me esquecer.

Eu prometo me afastar,
Só prometa uma coisa,
Beije meus olhos e me coloque para dormir.

Isto é o que eu te trouxe,
Isso você pode guardar.
Isto é o que eu te trouxe,
Você pode me esquecer.

Eu prometo a você o meu coração,
Só prometa cantar,
Beije meus olhos e me coloque para dormir

Oh-Oh-oh oh oh Oh-Oh-Oh-oh oh oh Oh-Oh-Oh-oh oh

Beije meus olhos e me coloque para dormir.

Isto é o que eu pensei,
Eu acho que você precisa de mim.
Isto é o que eu pensava,
Então acho que sou ingênuo.

Eu prometi a você um coração,
Você prometeu o guardar,
Beije meus olhos e me coloque para dormir.

Oh-Oh-oh oh oh Oh-Oh-Oh-oh oh oh Oh-Oh-Oh-oh oh

Beije meus olhos e me coloque para ... Dormir.

Se você quer alguma coisa tem que fazer sozinho


terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Na real...

Eu quero que você me diga que foi real
Eu quero que você me diga que não estou louco
Eu quero que você me diga que não foi uma mentira

Somos amigos mesmo?
Espere, "fomos"?
Eu quero ver seus cabelos dourados novamente como as primeiras coisas que eu via pela manhã
Eu quero ter essa certeza, meu amigo morto
Será que foi só imaginação?

Eu entendo sua morte e reação
Estava sozinho e você veio conversar
Não dá pra esconder sua aura de compaixão

A sua carta?
Eu nem sabia dela
Mas você me contou o último trecho
E vi que era verdade

Você não gosta da minha companhia
Duvidam de ti

Sua filha?
Eu pensava que se dava bem com a mãe
Mas você me contou que não era bem assim
Era bestial como eu sabia por ti
Mas mesmo assim ninguém acreditava

Eu não ligo
Desde que você prove que realmente isso tudo foi verdadeiro
Sua voz é bonita sim
Diverte-me

Tenha coragem para provar a verdade em seu coração falecido
Eu sei que você continua tendo
Seu humano nunca extinguiu

Eu quero que você olhe para mim com seus profundos olhos azuis
E diga que está tudo bem
Que eu soube confiar na pessoa certa

A morte


Not Afraid

Aquilo nas minhas mãos era sangue... Sangue!
Logo uma tonteira me fez cair, e tudo se apagou.
Acordei lentamente, como se ainda não tivesse acordado. Vi dois rostos próximos do meu, como se estivessem me esperando. Um era pálido, possuía olhos semelhantes a ônix, cabelos lisos um pouco ondulados e negros, curtos, só que mais compridos na frente para deixar poucas mechas na testa.
O outro era mais amorenado, olhos cor de chocolate, cabelos castanhos que se formavam em belos cachos nem grossos nem finos, estes caíam-lhe sobre os olhos. Ambos eram crianças de aparentemente 7 anos.
Sentei e os fitei. O de cabelos negros usava roupas inteiramente pretas. O amorenado usava calça jeans escura, camisa preta e tênis vermelho.
- Quem são vocês? - perguntei.
- Eu sou Ben. E esse é o Diogo. - respondeu o "gótico". - E você?
- Zero... Sued...
- Parece perdido. Não é daqui, né? - indagou Diogo.
- Acho que não... - falei, tentando levantar. Eles fizeram o mesmo.
Foi então que percebi. Minha estatura não estava como devia estar. Eu com certeza diminuí. Olhei para as minhas mãos, pareciam encolhidas.
- Alguém tem um espelho? - perguntei. Minha voz soava infantil, como aqueles seres que me faziam companhia.
- Eu tenho. - Ben tirou um espelho do casaco que usava.
Quase caí para trás, minha aparência era a mesma da de 8 anos atrás... Eu tenho certeza que fiz 15 ano passado... Acho que ainda não acordei.
Devolvi o espelho e olhei em volta: era um campo.
A grama alcançava meu tornozelo e o céu era de um azul bem vivo, o sol estava baixo.
- Venha conosco! Vamos pegar nossos bichos de estimação com o Palhaço Pedro.
- Opa, opa, eu não gosto de palhaços, não gosto mesmo. - ditei, tendo calafrios.
- Não tem problema, Pedro é bom e adora crianças. Ele é dono do pet shop. - argumentou Ben, sorrindo.
- Qualquer coisa saímos correndo. - ajudou Diogo, sorrindo da mesma maneira.
- Tudo bem. - suspirei. Eles conseguiam me passar segurança.
Seguimos por um caminho de terra até um pequeno estabelecimento. O ar cheirava a orvalho. Pela vitrine pude ver o palhaço anotar algumas coisas num bloco de notas. Diogo e Ben perceberam minha hesitação e puseram-se ao meu lado (Ben do esquerdo, Diogo do direito).
Entramos na loja e o palhaço olhou para nós.
- Ben, Diogo! Quem é seu amiguinho?
- Zero Sued. - respondeu Diogo, animado. - Onde estão?
- Aqui. - o palhaço pegou uma cobra preta e um pássaro vermelho de trás do balcão. Deu a cobra a Ben e o pássaro a Diogo. Ele me olhou bem e me entregou um coelho branco. - Você parece muito nervoso, Zero. - sorriu bondosamente. - Acho que o coelho combina com o senhor.
- Ah... Obrigado! - tentei retribuir o sorriso, mas este saiu torto demais para ser natural.
A cobra havia se enroscado na cintura de Ben, e o pássaro se mantia em pé no ombro de Diogo.
Nos viramos para ir embora, quando um outro palhaço, desta vez com aparência ameaçadora (peruca vermelha e dentes de tubarão), adentrou a loja com uma cesta coberta com um pano branco na mão.
Meus novos amigos prosseguiram e eu não quis ficar para trás. Quando nos aproximamos o bastante, o palhaço nos cumprimentou com um sorriso horrível, mostrava seus dentes amarelados de tubarão ameaçadoramente.
- Olá, crianças. - disse, com uma voz analasada. - Peguem, por favor. - tirou três pirulitos da cesta e nos entregando.
Fiquei com um vermelho, Diogo com verde e Ben com um azul. Agradecemos em coro e saímos da loja.
Afinal, palhaços não eram tão ruins assim... E o pirulito estava muito bom.
- Está escurecendo... - comentei, olhando para o céu.
- Hora de ir para casa. - disse Ben. - Aqui fica totalmente escuro à noite, uma cegueira. Por sorte, sabemos o caminho de casa sem nem mesmo precisar da visão.
No caminho terminamos os pirulitos e o céu já estava acizentado, e eu... Gradualmente ficando com medo.
- Podemos nos apressar? - indaguei, tremendo a voz sem querer. Coloquei meu coelho dentro da blusa. - O céu muda de cor muito rápido...
Os dois me deram as mãos, um de cada lado.
- Zero, a partir de agora você não vai enxergar nada devido a chegada da noite sem lua, então não solte nossa mão. E se soltar, guie-se pela nossa voz. Não vamos parar de cantar. - disse Diogo. - Acima de tudo, a escuridão não vai conseguir te machucar.
- Certo. - respondi, amedrontado, mas determinado. Aquelas duas pessoinhas me passavam uma imensa segurança.
E realmente não consegui enxergar mais nada: o breu tomava conta dos meus sentidos.
- Se essa rua, se essa rua fosse minha... - começaram a cantar uma música infantil. Pareciam anjos cantando. Relaxei e andei junto deles.
A escuridão parecia tão indefesa com eles por perto que poderia dançar... Não, seria inapropriado no momento.
Após curvas e caminhos diretos, topamos com uma grande casa. As luzes eram muito brilhantes.
- Chegamos. - disse Diogo.
Atravessamos o portão e entramos. Já sentia o aconchego. Tirei meu coelho do casaco e o olhei bem, era lindo e gordo. Aninhei-o no colo.
- Muito obrigado, acho que ninguém nunca foi tão bom comigo. - falei aos dois, que soltavam seus animais pela casa.
- Que isso, Zero-chan. - Ben deu tapinhas em meu ombro.
- Lembre-se: Sempre estaremos com você. Nunca deixará de ser nosso amigo. - completou Diogo.
- Nunca me esquecerei de vocês. - ditei, com os olhos úmidos. - Mas agora estou com sono...
- Você pode dormir no meu quarto. Suba as escadas e verá meu nome na primeira porta à direita.
- Ok. Boa noite.
- Boa noite. - responderam em coro.
Subi as escadas e entrei no quarto de Diogo. Logo caí na cama macia e adormeci.
Acordei abrindo lentamente os olhos. Ali percebi que não era o quarto de Diogo. Sentei na cama e vi Alice suspirar aliviada ao me ver acordado.
- Você me deu um susto! - ela disse, me abraçando. - Não pode sair desmaiando sempre que vê sangue...
- Você sabe que tenho medo...
- Eu cortei sem querer o dedo, mas foi uma coisinha de nada.
- Cadê? - perguntei, pegando suas mãos. Logo vi uma ferida, ainda escarlate. Não senti tonturas, nem vontade de vomitar, tampouco me paralisou.
- Você não tem mais medo? - ela indagou, franzindo a testa.
- Acho que não... - respondi confusamente.
- Isso é bom... Aliás, quando cheguei no quarto vi um coelho. Por que não me contou que tinha um?
- Como assim?
- Aqui. - ela pegou um coelho branco, lindo e gorducho do chão e colocou em meu colo.
- Er... Achei que tinha contado... - inventei uma desculpa.

Lilium


Lilium

Os iusti meditabitur sapietiam
Et lingua eius loquetur indicium

Beatus vir qui surffet tentationem
Quoniqm cum probates fuerit accipient coronam vitae

Kyrie, fons bonitatis
Kyrie, ignis divine, eleison

Oh quam sancta
Quam serena
Quam benigma
Quam amoena
Esse virgo creditur

Oh quam sancta
Quam serena
Quam benigma
Quam amoena
Oh castitatis lilium

Lírio

A boca do justo se prepara para falar sobre sabedoria,
E sua língua proclamará o julgamento.

Bem Aventurado o homem que suporta a tentação
Pois quando for reconhecido como bom,receberá a coroa da vida.

Senhor, chama divina, tenha Piedade.

Oh, quão santa! Quão serena!
Quão benigna! Quão sorridente!
Oh! Lírio de castidade!

domingo, 6 de janeiro de 2013

Quem dera...

Quem dera que se preocupassem com suas próprias vidas
Quem dera que não me encaixassem numa apertada jaula
Onde cresce a mais alta desilusão de ódio

Com um sorriso cínico e hipócrita
Eu sei quando você se esconde
Em seu próprio mundo perfeito
Mas o meu não é perfeito

Eu sei que estou sendo perseguido até meus pesadelos
Paranóico, esquisito
Não consigo escapar
Até encontrar o basilisco
O basilisco e aquele guerreiro
Bravo guerreiro

O basilisco protegeu o meu mundo
O bravo guerreiro o fez
A cada naipe flechado
O bosque se abre cada vez mais
E uma vez que se entra
Talvez saia vivo

Acatado pela raiva
Destruído pela proteção errada
O bravo guerreiro se pôs a tentar controlar
Mas o basilisco chegara primeiro
Fechando-se numa breve prisão atrás das árvores
Graças a quem devia ser unido
Continuamos a andar atrofiados

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Much Funny

Essa casa tem 7 mil fechos
Aqui estou perdido
Bem enlouquecido
Ardendo de febre
O amanhã não acontece
Much funny

Sou tão feliz aqui
Que poderia rasgar minha boca num sorriso
Com uma faca cega
Sem sentir a dor

Que lindo, uma borboleta passando
Não vou persegui-la
Mas eu bem que queria ser ela

Aqui estou doente
Mas ninguém quer saber
Ninguém quer me ajudar por aqui
Um círculo de hipocrisia

Eu queria andar sozinho
Ou mesmo acompanhado
Mas eu queria sair pelo menos um pouco

Camas cheias de sangue
Asfixia engajada... Na minha cabeça
Sonhando encontro um lugar
Ah, queridos sonhos

Sorria! Sorria!
Estamos te monitorando e manipulando
É tão engraçado! É para o seu próprio bem!

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

John...

Enquanto estava com você
Eu sabia quem eu era
Me sentia a pessoa mais amada do mundo
Num recanto infantil de sorrisos

E eu me pergunto como posso te amar tanto
Eu prefiro sofrer a te ver magoado
Apenas me diga pela última vez que me ama
E me dê um simples abraço
Um simples abraço para aquecer
E relembrar os momentos mais felizes que já tive

Apenas se lembre que lhe dei todo o meu amor
Mas nenhum perigo vai lhe atingir se estiver longe de mim
Tome cuidado consigo mesmo
Eu disse que queria te proteger
É o que estou fazendo
Onde estão seus olhos verdes agora?
Têm que brilhar para outra pessoa

Você está livre de um monstro
Um monstro que queria te matar
Aproveite, meu amor
Você tem que ser feliz
Vá atrás dos seus sonhos

Minhas bochechas?
Sentem falta do seu toque
Ah, não ligue para as lágrimas escorrendo por elas
Estou feliz por te ver bem