terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Pesadelo

Hoje eu tive um pesadelo...
Um pesadelo em que uma maldição recaia sobre mim.
As pessoas - e eu principalmente - estavam correndo grande perigo. Algumas eram esmagadas por alguma caixa pesada, mas minha cabeça era a que mais valia.
Um aperto em meu peito fez-me acreditar que tudo aquilo era real, que aquilo iria me matar.
Tinha alguém me perseguindo, não me perseguindo de perseguir, mas me rodeando como se visse cada passo, cada respiração que eu dava, era horrível. Era como se acertasse a cabeça de cada pessoa tentando me rastrear, ou simplesmente só me causar mais pavor.
Estava de noite, e ninguém ali era meu conhecido.
Quando consegui acordar o maior alívio que eu consegui sentir até aquele momento da minha vida fluiu em meu peito. Aquilo fora somente um pesadelo.
Uma Dica: Não durma de peito para cima.

14º encontro com o medo


 Havia muitas coisas que eu queria perguntar, mas como Sheldon dizia, tudo tinha seu tempo.
 - Sheldon, quem eu deveria temer? - indaguei.
 - Além de Ben? Palhaços, Kuchisake-onna, espíritos mal-encarados... Uma série de coisas, mas caninos e répteis são uma bela aliança. Pra falar a verdade, você tem que enfrentar seus medos, pois eles te cegam na hora de agir.
 - Répteis? Estranho... Mas como sabe que eu tenho medo de palhaços?
 - Eu sei de tudo sobre você. Não viu o noticiário hoje?
 - Não.
 - Pois bem. Havia uma babá na cidade vizinha. Ela estava em serviço quando ligou para os patrões perguntando se poderia cobrir a estátua de palhaço pois a perturbava.
 - O que tem a ver?
 - Calma. Os pais disseram para ela levar as crianças para fora, pois não tinha nenhuma estátua de palhaço e que iriam chamar a polícia. Todavia, quando chegaram encontraram os três corpos assassinados e nenhuma estátua de palhaço.
 - Grunf... - senti os pelos da nuca se eriçarem. Tive vontade de trancar todas as janelas, portas e outras possíveis entradas de casa até aquele maníaco voltar para a cadeia.
 - Lembra da sua faca? Se estiver com ela nada vai te acontecer.
 - Da última vez eu levei uma mordida de zumbi e estava com ela em punhos.
 - Ah, mas você não tinha pegado o jeito.
 - Não tenho outra opção a não ser confiar em você. - então percebi. - ESPERA AÍ! NÃO ESTÁ PENSANDO QUE EU VOU FICAR NA RUA PROCURANDO ESSE MANÍACO, ESTÁ?

Uma hora depois...
 - Quero que saiba que estou me cagando de medo. - ditei a Sheldon.
Estávamos no meio da rua deserta, cada sombra me fazia prestar mais atenção e jogar a luz da pequena lanterna que trazia comigo.
 - Como você sabe que o palhaço vai aparecer por aqui? - indaguei, desconfiado.
 - Eu prevejo o futuro.
 - Por que não me contou?
 - Eu só consigo ver às vezes.
 - Então... Eu vou me dar bem com esse palhaço?
 - ... Não sei.
 - ARGH!
Após mais ou menos meia hora eu já estava de saco cheio de esperar.
 - Olha, eu cansei.
 - Espere. - o lobisomem puxou-me para mais perto. - Ouça!
O silêncio então fora interrrompido por uma risada típica de palhaços, fazendo meu sangue gelar, eu estava paralisado de medo.
Virei um pouco o rosto, e lá estava ele, um palhaço... com uma mão faltando...
 - Olá, garotinho... Kukuku... Seu rosto me é familiar... será que já nos vimos em algum espetáculo? - perguntou ele, sorrindo maníacamente.
Minha respiração estava pesada, mas boa parte do medo fora substituída pelo ódio. Ele era o psicopata que matara Luke.
 - Sim, receio que sim... - fitei-o com ódio enquanto se aproximava. Eu já botava a mão no bolso para segurar a faca.
 - Diego... acalme-se... - disse Sheldon atrás de mim. Eu havia esquecido de sua presença. - Quando ele atacar você revida.
 - Hm... - apenas murmurei.
 - Que tal um showzinho de mágica? - indagou ele, caminhando lentamente até mim. Percebi que ele estava escondendo algo em suas costas.
 - Você é um palhaço, não um mágico. - retruquei. Mesmo com todo aquele ódio, não conseguia raciocinar direito com a fobia me enchendo o saco de um lado. - O que você faz a esta hora da noite vestido assim?
 - Eu faço serviços especiais... - estava pouco menos de 2 metros de mim. - Está ofegante... Minha presença te alegra?
 - Não. Você é um assassino!
 - Kukuku - não pareceu surpreso. - eu ia te dar uma morte rápida e indolor, mas vejo que você é um garotinho insolente... - de repente sua expressão tornou-se demoníaca, e começou a avançar rapidamente.
 - AGORA DIEGO! - meu cachorro berrou para mim.
Mas a única coisa que eu consegui fazer foi segurar firme a faca no meu bolso, nada mais... Enquanto o palhaço avançava mais e mais... Eu estava desesperado por dentro, porém incapaz de agir.
 - DIEGO! - gritou Sheldon, quando o maníaco revelou um martelo atrás de si e levantou-o para me acertar.
Esperei pelo pior, mas um vulto negro indo em direção ao palhaço me despertou...
Meu cachorro fora arremeçado contra o asfalto e o psicopata correu para acertá-lo com o martelo em sua barriga, em seguida em seu quadril e depois mirou -apenas mirou- em seu crânio, virando o rosto para sorrir malignamente para mim.
A partir daí eu não poderia nem tinha coragem de ficar parado sem fazer nada. Tirei a faca do bolso, dei um impulso e só percebi o que iria fazer quando já tinha feito.
As tripas do palhaço agora estavam no chão. Minha faca nunca esteve tão suja de sangue.
Sheldon levantou-se do chão meio tonto devido às pancadas, mas ele era forte.
 - Não era isso que eu tinha em mente, mas... obrigado. - ditou ele.
Minha respiração ofegante foi se normalizando à medida que minhas pernas escorregavam para me sentar na calçada.
 - Você está me induzindo a matar pessoas. - disse eu, pondo a mão na cabeça.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Sufocado


Hoje estou me sentindo sufocado. Ontem, quando minha mãe estava falando ao celular com meu namorado, ela começou discutir sobre casamento. "Você vai ter que segurar esse mulherão. Estuda mais pra serem marido e mulher"... Eu resmunguei "Mulher onde?" E ela: "Sim, você é homem?", com uma voz raivosa. "Não..." Abaixei a cabeça, correndo para outro cômodo.
Agora o que eu mais quero é pessoas que entendam meu lado, que isso é insuportável para mim... Ser transgênero não é fácil. Um gay ou lésbica não sabe como é. Um psicólogo ou mesmo psiquiatra não sabe como é. Só nós sabemos.
Bem... Robert completa o que eu quero dizer... As pessoas nos julgam sem conhecer o Transtorno de verdade.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Acabado.

Era um homem, um homem acabado. Sua barba descia até a parte de cima de seu diafragma, seu cabelo estava grande, muito grande e parecia que não tomava banho há dias. Então pensei:
"Esse daí tá acabado..."
E ele olhou para a minha cara como se lesse meu pensamento. O que ele trazia consigo? Um carrinho cheio de cerveja, quase transbordando. Eu só fui ao super mercado comprar verduras, mas ele... Ele iria acabar ainda mais com a própria vida.
Quando ele se foi, pude respirar aliviada. Eu tive medo daquele homem, o que teria acontecido com ele? Será que eu devia ter falado com o cara?
 - Carol. - minha mãe me chamou. - Vamos?
 - Sim... - fui até ela.


13º encontro com o medo


Quando Sheldon acordou eu já tinha tomado o café da manhã, deixei frutas no quarto para ele.
 - Uaaa... Cadê seus pais? - perguntou ele, se espreguiçando quando chegou à cozinha.
 - Saíram. -respondi.
Eu estava esquisito, não me sentia bem nem mal, mas um pouco atordoado.
Eu passei a manhã no quarto com o Sheldon, brincando com bolinhas.
 - Afinal, sou um cachorro e tanto. - ditou ele, quando trouxe uma bolinha.
A paz naquele cômodo foi interrompida quando comecei a sentir uma espécie de chutes em meu estômago. Pensei que começaria um novo ciclo de dor e sofrimento, mas não, apenas uma sensação de vômito.
Caí de bruços no chão e vomitei sangue. Senti também, algo pesado na minha mente deixar meu corpo tornando-o mais leve. Vi uma fumaça verde saindo do sangue, o que alertou meu cachorro.
 - Ben saiu... e pela cor da fumaça ele deixou um presentinho pra você... - disse Sheldon, farejando o sangue. - Vamos sair esta noite. Chegou a hora de agir.
 - Não estou entendendo nada, aliás, não estou entendendo nada desde o início. - resmunguei, levantando. - Aonde vamos?
 - Você verá.
Vi um brilho enigmático nos olhos dele, o que me deu um pouco de calafrio.
Talvez agora que Ben saiu de meu corpo eu possa relaxar um pouco. Incrível, parece que meu coração está mais leve.

Já passava da meia noite, eu e Sheldon atravessávamos as ruas escuras sem o menor medo, ainda mais que eu não sabia onde estávamos indo.
 - AU AU, mais rápido, Diego! - ele disse, correndo.
 - Calma aí, você está com quatro patas e eu mal me locomovo bem com duas pernas.
Chegamos então ao portão de um cemitério.
 - Um cemitério? - indaguei. - Viemos fazer o quê aqui?
 - Eu enterrei algo por aqui e vai ser fundamental você tê-la, além do mais... Quero testar uma coisa.
 - Que coisa? - às vezes Sheldon conseguia me assustar mais que do que Ben.
 - É melhor não falar, senão vai querer desistir. - abriu o portão de ferro.
Eu caminhava atento para não tropeçar em nenhuma lápide, cemitérios não me davam medo, me davam paz.
 - Fique aqui um instante. - disse Sheldon, enquanto cavucava a terra.
Olhei para o lado, percebi uma lápide de mármore e alguns escritos emocionantes da namorada do falecido.
 - Ow, cara... Não era pra você ter morrido... você tinha uma família para formar... - sussurrei para o túmulo, como se ele pudesse me ouvir. - E vocês também... - olhei para mais duas lápides.
Depois de alguns segundos eu me arrependi de ter feito aquilo.
 - AAAAAAHH! - gritei ao ver ossos formando uma mão saindo da terra.
Atrás dele, as outras duas lápides também davam sinal de que seus donos "voltaram à vida".
 - SHELDON EU TE ODEIOOO! PEGA LOGO A PORCARIA QUE VOCÊ VEIO PEGAR! - eu gritei, enquanto corria dos três pelo cemitério.
 - AINDA NÃO ACHEI!
 - O QUÊ? VOCÊ NÃO SABE ONDE ESTÁ? TE ODEIOOO!
 - MAS EU SEI QUE ESTÁ EMBAIXO DA TERRA!
 - TEM ZUMBIS ATRÁS DE MIM, SEU IDIOTA!
Àquela altura  eu já tinha dado 5 voltas no cemitérios com zumbis na minha cola.
 - ACHEI! - berrou Sheldon ao longe.
 - AINDA BEM!
 - PEGUE! - correu até mim, com uma faca de dois gumes na boca. - Acabe com eles. - desapareceu.
 - QUE BOSTA! - parei de correr, virando para trás.
O primeiro zumbi avançou. Senti algo estranho emanando da faca, era como se eu tivesse nascido sabendo usá-la, era uma familiaridade imensa e assustadora.
Ele estendeu os braços para mim, eu os peguei e quebrei, jogando em qualquer lugar. Em seguida, esfaqueei sua cabeça, fazendo-o cair e desaparecer na terra.
O segundo veio mais rápido do que eu poderia prever, e isso me custou caro.
 - AAAAAAARRGH! - chutei sua barriga quando ele mordeu meu braço. - SHELDOOOOOON! - chamei enquanto atingia o "estômago" do segundo zumbi, que caiu no chão.
Senti meu braço perder a sensibilidade, vi a parte da mordida ficar preta. O terceiro e último zumbi já se aproximava faminto, vi Sheldon se aproximando na forma humana. Minha visão ficou turva, o lobisomem deu um jeito no zumbi com a minha faca.
Tudo aconteceu muito rápido, Sheldon logo voltou à forma de lobo e começou a lamber minha ferida. Então as coisas recomeçaram a serem normais.
 - Por que isso? - indaguei.
 - Minha saliva é curativa... Guardei a faca no seu bolso.
 - Por que você a enterrou no cemitério?
 - Porque é um local sagrado, se fosse em outro lugar não daria certo.
 - O que não daria certo?
 - A mágica. Se essa arma não tivesse o destino que teve, você não poderia ter matado nem o primeiro zumbi. Com essa faca você é capaz de enfrentar até o Ben.
 - Que... Mágico... - ditei, levantando-me para ir embora. - O que você queria ver?
 - Queria saber se Ben tivesse te dado esse dom.
 - Que dom?
 - Ressuscitar os mortos... HAHAHAHA.
 - Isso não tem graça, eu quase morri.
 - Bem, até agora você só consegue criar zumbis famintos por carne humana, hehe.
 - Argh, pare de rir.
 - Ok... Mas amanhã começa o trabalho duro. E você deve enfrentar as coisas que teme... senão poderá morrer.
 - Hm... - um calafrio instalou-se em toda minha nuca. O que mais de maluco aquele lobisomem iria impor?

Vampiros desprezíveis


Tem um vampiro na minha cama
Ele é tão perfeito que eu não consigo expulsá-lo
Ele deve ter me envenenado na noite passada
Ainda não lembro de nada
Só sei que há marcas em meu pescoço
 Só sei que meu coração disparou ao ver seu olhar

A luz do Sol matinal faz sua pele brilhar levemente
Seus olhos castanhos viraram verdes ao me encontrarem acordada
E eu acho que ele vai avançar

Eu fujo das suas garras
Ele mostra os caninos desejosos
Corremos pelo quarto
Tem um vampiro na minha cama
Ele é tão pirado que me encanta
Ele é tão amável que sua roupa manchada de sangue se torna agradável diante de meu medo

Deus, você existe?


Acho que Deus  não existe, pois se existisse eu não estaria aprisionado em um corpo feminino, ele não seria tão maligno.
Hoje senti dores pela manhã, depois senti-me molhado... Era o começo de uma menstruação.
Quando peguei no absorvente uma tristeza devastadora aflorou-se dentro de mim. E o que eu fiz? Chorei... como qualquer outra pessoa que está sofrendo.
Agora com isso, estou confuso quanto ao meu gênero, sinto que não pertenço a nem um nem outro. Garotos não menstruam e garotas não querem ter um pênis.
Enquanto a menstruação não para, não sei o que fazer.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

12º encontro com o medo


Creio que lá pelas sete horas da manhã eu ouvi meus pais chegando em casa.
 - Au! Vou ser o melhor cachorro do mundo! - exclamou Sheldon, agitando a cauda e arranhando a porta do meu quarto, pedindo para eu abrir.
Ele desceu as escadas latindo baixo, mamãe exclamou um "quem é esse?" e papai explicou que eu tinha "adotado-o". Fui até eles segundos depois e Sheldon já lambia o rosto de minha mãe.
 - Quem é esse? - ela perguntou com um sorriso.
 - É o Sheldon. - respondi.
 - Diego, leve as malas para o nosso quarto, por favor. - pediu meu pai.
 - Sim. - assenti, pegando a mala azul e subindo as escadas enquanto meu cachorro se engraçava com meus pais.

Com minha família em casa eu não sabia se ficava com medo de Ben aprontar alguma ou seguro, por ter pessoas de confiança comigo.
 - Relaxa, Diego. Por que não dorme um pouco? - indagou Sheldon.
 - Eu não quero dormir.
Na verdade eu queria, mas nem que estivesse caindo de sono  eu iria adormecer.
 - Quando os pais de Lisa chegam? - indagou-me.
 - Amanhã de manhã. - respondi, um pouco preocupado com a garota.
Noite passada escolhi marcar o local do corpo de Max com crisântemos e joguei as cinzas do homem no lixo.
 - Diego, vai dormir! Seus olhos já estão rodeados de olheiras!
 - As suas são mais profundas, além de você ter um corpo magricela.
 - Comigo é diferente. - pulou na cama e depois em cima de mim, com a língua arfante para fora. - Além disso, eu sou um cachorro e tanto.
 - Hahaha, comigo essa desculpa não cola! Pode dar certo com meus pais, mas comigo não!
 - Owwn... - abaixou as orelhas. - AU AU AU! - latiu. - Hora da comida!
 - Está com fome?
 - Uhum!
 - Vamos sair para comer?
 - SIM! ARF ARF! - levantou as orelhas e balançou a cauda, pulando para o chão.

A propósito, este dia ocorreu estranhamente bem, eu e Sheldon(na forma humana) passeamos no parque, tomamos sorvete e visitamos Lisa na casa de Reita, ela estava muito melhor lá do que ficar em casa e relembrar todo o ocorrido.
Passei mais uma noite em claro, com meu cachorro dormindo ora em sua caminha, ora em baixo da minha cama, ora junto comigo.
 - Diego, vamos dormir... - ele implorava com os olhos vermelhos de cançaso.
 - Não, não se preocupe comigo. Volte a dormir. - eu dizia.
Então ele voltava a dormir sem insistir, já que sabia que eu não voltava atrás com as minhas decisões.
 "Diego, Diego... liberte-se para mim..."

11º encontro com o medo


Mandei Lisa para a casa de Reita enquanto eu e Sheldon (na forma humana) cuidávamos para não deixar rastros do que acontecera na noite passada.
 - Vamos cremar logo, o corpo está começando a feder. - disse Sheldon.
 - Sim. Leve o cara para o quintal, eu irei cuidar do Max. - ordenei.
Fui até o banheiro, onde me virei para tirar o cachorro de Lisa da banheira.

 - Você demorou tanto que pude cavar uma cova em minha forma de lobo. - reclamou Sheldon.
 - Ah, claro! Você não teve que carregar um cachorro com a garganta cortada até o quintal e depois limpar o sangue da banheira e do resto da casa! - retruquei.
 - Tá, tá... Vamos concluir então. - pegou o corpo de Max e o colocou com cuidado no buraco. Ele pegou uma pá e começou a recolocar a terra.
  Eu joguei álcool no corpo do loiro, e, em seguida acendi um fósforo e taquei-o no cadáver.
Sentei na escada da varanda fitando o fogo crepitar calmamente. De repente uma dor latente apoderou-se de meu cérebro, deixando-me sem os sentidos. Fui forçado a deitar.
 - DIEGO! - Sheldon soltou a pá ao me ver nesse estado, correndo até mim.
Eu mal conseguia ver - minha visão ficara turva -, e eu quase não tinha audição - só ouvia meu gritos em primeiro plano.
Por uns segundos, senti algo se apoderando de minha mente. Nunca havia estado tão desesperado quanto neste momento, em que sentia-me possuído por algo e não podia fazer nada por estar sentindo uma dor excruciante. Minha visão foi ficando avermelhada, como se meus olhos fossem ficando injetados de sangue, então não respondia mais pelos meus atos depois disso. Não que eu quisesse, pois eu não ousaria me levantar nesse estado, mas porque algo - que não duvido que seja Ben - apoderou-se de mim como a peste negra na idade média.
Eu já estou impaciente com esse monstro, não vou deixá-lo possuir meu corpo assim tão fácil!
Ben me fez levantar e forçar um sorriso malígno para Sheldon, que logo percebeu:
 - SAIA DAÍ, BENNETT! - ele berrou, o monstro agitou-se dentro de mim com raiva e desfez o sorriso. - O CORPO DELE NÃO É SEU! DIEGO, - me chamou. - LEMBRE-SE DE QUEM VOCÊ É, PONHA BEN EM SEU DEVIDO LUGAR!
"Eu sou Diego Bartolomeu Sunflora, estudante, cabelos negros, olhos castanhos, moro em Lestate City e um monstro não vai se apoderar de mim fácil" Com dificuldade pedi mentalmente: "Eu quero me encontrar com você".
Então o lugar onde eu estava mudou; era agora uma visão do inferno, chão vulcânico e fogo em volta. Ben encontrava-se parado a uns 3 metros na minha frente.
 - BEN, EU ORDENO QUE SAIA DA MINHA MENTE! - gritei.
 - NÃO, EU NÃO VOU DEIXÁ-LO!
 - ENTÃO PARE DE ME PERTURBAR! - fechei os punhos.
 - NÃO FALE ASSIM COMIGO!
 - EU FALO COMO EU QUISER COM QUEM FAZ PARTE DA MINHA FANTASIA E ISSO INCLUI VOCÊ!
 - Hu hu hu, vejo que aquele lobisomem está te ensinando algumas coisas. Eu sei que você ainda tem medo de mim, quando me encontra sente que está cara a cara com a coisa que mais teme.
 -  CALA A BOCA! VOCÊ NÃO TEM PODER SOBRE MIM DENTRO DO MEU CORPO!
De repente o fogo antes vermelho tornou-se azul.
 - Hm... Aquele idiota está fazendo macumba pra te acordar... parece que nosso tempo está acabando... Sairei muito em breve, me aguarde... - disse Ben, e sua imagem começou a dissipar-se.
Abri os olhos e vi o rosto de Sheldon a centímetros do meu.
 - O que aconteceu? - indaguei.
 - Você foi... possuído pelo Ben... - levantou-se. - Sua pupila tomou a forma de fenda e seus olhos ficaram injetados de sangue como uma cobra demônio, foi muito estranho. Então de repente você apagou, eu te peguei antes que caísse no chão e comecei a fazer umas técnicas secretas...
 - Técnicas secretas? Isso é meio clichê...
 - Não dá pra chamar de outra coisa, senão a verdade seria revelada.
 - Okay, já entendi. Hm... Ben me disse que sairá do meu corpo muito em breve.
 - Espero que seja verdade.
 - Eu também. Ser possuído por uma coisa que tentou matar minha mãe não é nem um pouco agradável. Hey, você não disse que só poderia ir pra casa comigo quando o monstro saísse?
 - Não se preocupe, ele já não presta mais atenção em mim, mas isso vai recomeçar quando sair.
Então terminamos de cuidar dos corpos até o raiar do Sol.

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

10º Encontro com o medo


A noite chegara, eu não conseguia ficar preso em casa depois do que acontecera, então eu e Sheldon(na forma de lobo) fomos para o quintal.
 - Sheldon, você faz parte da cabeça de alguém como Ben faz da minha?
 - Sim... mas não é hora de tratar disso. É algo que eu devo te falar depois.
 - Quero que me fale agora.
 - AAAAAAAAAAAH! - uma voz aguda e feminina veio da casa vizinha chamando nossa atenção.
 - É Lisa, minha vizinha. Os pais dela viajaram e ela está sozinha em casa. - ditei a Sheldon.
 - AU! Vamos até lá! - levantou-se, eu o imitei.
Atravessei minha casa correndo, com meu cachorro ao lado.
Cheguei à porta, que estava escancarada.
 - Tem algo errado, Sheldon. - sussurrei.
 - Hm, tem alguém chorando no andar de cima. - sussurrou mentalmente de volta, como se alguém pudesse nos ouvir. - É um choro feminino, deve ser ela. - então percebi que ele tinha os sentidos aguçados. Subimos as escadas silenciosamente.
Lisa estava jogada no chão do quarto, com as mãos amarradas e uma mordaça na boca que eu não demorei em tirar.
 - O que houve, Lisa? - indaguei, baixo.
 - Vai embora. - respondeu, respirando pesada e agonizantemente. Seu desespero estampava seu rosto em letras garrafais, tive uma vontade imensa de tirá-la logo do sufoco, mesmo que não soubesse qual era.
 - Diego... - ouvi a voz de Sheldon. Pelo tom aterrorizante, estaria em posição de ataque. Virei-me, eu tinha acertado.
O lobisomem estava na mesma forma de quando o encontrei pela primeira vez, só que mais ameaçador, como se quisesse proteger algo muito valioso... no caso eu e Lisa.
 - Diego, ele está no banheiro... ele matou o cachorro de Lisa... está armado... faca... vamos nessa. - esperou eu me aproximar para avançar no mesmo passo.
Olhei para dentro do banheiro, um homem de porte atlético vestido de branco com as roupas manchadas de sangue. Ele estava virado de costas para mim, ocupado com alguma coisa dentro da banheira.
Um brilho metálico no cesto perto da porta chamou minha atenção, era uma faca de cozinha.
 - Eu o empurro e você o ataca. - falou o cachorro para mim, mentalmente.
Ele deu um impulso e cravou os dentes no pescoço do homem, que desvencilhou-se com dificuldade.
 - MAS O QUÊ? - analisou nós dois. - Ku ku ku, vejamos só... - seus olhos eram azuis, e seus cabelos, loiros oxigenados. - O garotinho indefeso e um cachorro metido a valentão... - antes de nos dar chance de tomar quaisquer reação, puxou outra faca de não sei onde e avançou em mim.
Com agilidade, rolamos no chão, eu com a faca de cozinha, ele com uma faca de dois gumes. Paramos com ele em cima, forçando a arma para ir de encontro ao meu pescoço com a intervenção das minhas duas mãos, já que ele era muito mais forte que eu. Empurrei-o para onde desse, e então fiquei em cima. Com a mão livre e raciocínio rápido, consegui tirar a faca da mão do loiro, que ao que era evidente, o que tinha de músculos não tinha de cérebro muito menos experiência no que estava fazendo... Ou talvez não... Ele pegou a minha faca pela lâmina, o que fez um pouco de sangue jorrar em sua camisa, mas com a minha outra mão no chão tive impulso o suficiente para levantar antes que fosse esfaqueado.
O homem levantou-se também, com um brilho assassino nos olhos. Onde estaria Sheldon?
Bom, eu não sabia onde meu cachorro estava, mas sei onde Lisa está, e fiquei muito aliviado com isso.
Ela tacou uma cadeira de ferro na cabeça do loiro, que ao cair afastei-me. Vi a faca de dois gumes no chão e um impulso tomou conta de mim. Sem pensar, peguei-a e cravei nas costas dele, perfurando possívelmente o pulmão, depois a tirei e coloquei novamente em sua nuca.
 - Chega, Diego. Basta. - Lisa ditou-me, tentando me acalmar. Sua face estava úmida, como se tivesse chorado muito.
 - Conhece ele? - perguntei, controlando a respiração.
 - Meu ex... não aceitou a separação... - caiu de joelhos no chão. Eu fui ver o que era, ela havia começado a chorar. - Meu cachorro... Ele cortou a garganta do meu cachorro... Eu o vi fazendo isso... Max quis me proteger...
 - Você... quer ficar na casa de um amigo meu até seus pais chegarem? Eu e o Sheldon cuidaremos disso tudo.
 - Sim... - me olhou com um brilho nos olhos. - Obrigada, Diego... Muito obrigada... - puxou-me para um abraço, eu correspondi. - Seu cachorro é esperto, me desamarrou e indicou a cadeira.
"Diego, venha até aqui." - era a voz de Sheldon vindo do banheiro.
 - Eu já venho. - falei, desvencilhando-me dela.
 - Tá... Mas eu quero que você enterre o corpo do Max no quintal da casa, okay?
 - Claro, cuidarei de tudo. - fui até meu cachorro.
Ele me indicou para olhar na banheira, e eu o fiz. O cão de Lisa estava coberto e rodeado de sangue que não parava de jorrar de sua jugular.
 - Não vou deixar ela ver isso. - decidi. Sheldon assentiu.

9º Encontro com o medo


 Fui embora da casa de Reita fazia uns minutos, agora eu caminhava até a praça.
 - DIEGO! - a voz de Sheldon me fez pular de susto.
 - SHELDON! PARE DE ME ASSUSTAR!
Ele estava agora com uma camisa gola v preta, calça skinny e tênis All Star preto.
 - Hu hu hu, desculpe. Sente-se. - sentou numa ponta do banco, eu sentei na outra. - Você tem que pegar a faca que Ben usou para machucar sua mãe.
 - O quê? Por quê? - o desespero se fez presente em minha voz.
 - Vamos precisar dela.
 - Quando?
 - Em breve. Acredite, é fundamental que a tenhamos.
 - Hhhmm... - resmunguei de aflição. Não queria ter que enfrentar Ben novamente depois dele quase ter matado minha mãe.
 - Ei, você vai ficar bem.
 - Falando em faca esse seu corte foi feito pelo monstro, não foi?
 - Uhum. - confirmou. - Vamos para sua casa iniciar o processo.
 - Pro-processo? - gaguejei.
 - Sim. Temos que ir pegar a arma o mais rápido possível.
 - Ugh... acho que vou vomitar...
 - Não vomite agora.

Quando chegamos em casa, Sheldon me fez deitar no tapete da sala.
 - É o seguinte, você só terá 2 minutos para pegar o instrumento, passado o tempo, te puxarei de volta à realidade.
 - Okay.
Ele massageou minha barriga e eu caí no sono.
Lá estava eu novamente naquela sala branca coberta de sangue, que àquela altura já me causava arrepios nos pelos da nuca.
Olhei para o lado, a maca com o corpo de minha mãe ainda estava lá, e a maldita faca também. Ben não dava sinais de estar no local, mas eu não pensei muito, talvez tivesse somente mais um minuto.
Puxei-a do ombro do corpo, limpando o sangue em seu vestido.
 - DIEGO! - minhas pernas tremeram ao escutar o berro com a voz do monstro. Ele abrira a porta, viu o que eu estava fazendo e avançou.
Não conseguia fugir, eu não teria chance alguma naquele cubículo. Que coisa linda, preso em minha própria cabeça. Todavia, senti que acordava uma segunda vez, e o alívio veio intensiva e exaustivamente quando o tom de voz doce de Sheldon falou que estava tudo bem.
 - Tudo bem agora, descanse. - falou.
Eu segurava a faca de dois gumes na mão esquerda, mas o lobisomem a pegou.
 - O que vai fazer? - perguntei.
 - Uma coisa. - falou, levantando-se. - Eu já volto. - saiu de casa.
Após ele ter saído, senti algo vibrando em meu bolso, era o celular.
 - Alô. - atendi.
 - Diego, é o papai. Quero te avisar que sua mãe está começando a se recuperar rápido...
 - Como assim?
 - Também é um mistério para os médicos. Antes de alguns minutos atrás não havia nada que fizesse efeito em Lílian, a ferida continuava como estava e é bem profunda.
 - Hm... quando chegam?
 - Se tudo correr bem, hoje à noite ou amanhã, mas eu te aviso.
 - Mande um beijo pra mamãe.
 - Sim.
 - Pai.
 - Que foi?
 - Eu trouxe um cachorro pra casa... tem problema?
 - Se você cuidar dele, tudo bem.
 - Obrigado.
 - De nada. Tchau.
 - Tchau. - desliguei.
Logo após desligar, uma dor excruciante tomou meu peito.
 - AAAAAAAAAARGH - levei as mãos ao coração, debatendo-me com a dor latejante que subia ao cérebro e teimava em rachá-lo.
 Por mais que tentasse, não conseguia me acalmar ou pedir ajuda, eu não conseguia nem raciocinar direito.
 - DIEGO! - Sheldon veio na forma de lobo. - Calma! - COMO SE FOSSE FÁCIL! - Ben, pare de machucá-lo! LEMBRE QUE SE VOCÊ MACHUCÁ-LO EU TE CAÇAREI MESMO QUE SEJA NO QUINTO DOS INFERNOS, SEU RATO!
Então de repente a dor cessou. Abracei "meu cachorro" em forma de agradecimento. Sentia-me fraco, minha cabeça ainda doía um pouco.
 - O que aconteceu? - indaguei.
 - Ben quer sair.
 - Bem que ele podia fazer isso de uma forma mais... sutil.
 - Bem improvável. Outra coisa.
 - O quê?
 - Cuidado com ratos.

Carrinhos


Como descobri ser Transgênere:
Desde o nascimento incorporo-me num perfil masculino. Bonecas? Não, mas carrinhos sim davam uma brincadeira legal.
Não via motivos para contar aos pais, eles reclamariam de um jeito ou de outro, e como minha cabeça estava confusa quanto a essa colocação sexual achava mesmo que era besteira... Besteira até eu ver o documentário "O menino que nasceu menina" no Discovery Home & Health. Conta a história de Jon, que nasceu como Natasha e seus primeiros três meses de transformação numa puberdade masculina. Mesmo com a gozação dos colegas -frequenta a mesma escola de antes -, ele consegue seguir em frente com o apoio da mãe.
Após assisti-lo, percebi que não me arrependeria ao fazer a Readequação de sexo e que o início de uma adolescência do sexo oposto ao de nascimento seria a realização de um sonho.
Ser transgênero não significa ser homossexual


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Oitavo encontro com o medo



"Acho que encontrei meu cachorro", pensei.
O cachorro estava se contorcendo na grama, rolando e tirando um pouco do mato, e eu não conseguia acreditar que aquele garoto carismático e doce do Sheldon fosse um lobisomem.
 - SHELDON! - corri até ele.
 - GRAUHN! - quase mordeu minha mão.
 - Calma, Sheldon, sou eu, Diego! - forcei sua boca para se fechar com as minhas mãos até que ele se acalmasse.
 - Diego... desculpe por quase te morder... não percebi que era você... Solte minha mandíbula.
 - Okay. - obedeci. - Por que não me contou que era lobisomem? E por que não estou tão impressionado, mas sim desacreditado?
 - Não era a hora. - sentou-se. - Deve ser porque você já sabia lá no fundo o que eu era.
 - Mais alguém consegue ouvi-lo falar?
 - Não. Nossa comunicação é por meio de um elo mental.
 - Como assim?
 - Isso é uma coisa que eu te explico depois.
 - Por que não vem pra casa comigo?
 - Porque Ben ainda está aí. Eu não posso ficar na mesma casa que ele sendo que ainda está no seu corpo.
 - Por quê?
 - Ele pode nos machucar, mas quando sai do teu corpo, fica fraco, demora bastante para recuperar o poder.
 - E quando ele vai sair?
 - Quando perceber que não pode fazer nada contigo enquanto estiver aí.
 - Hm, espero que não demore para acontecer. - olhei para baixo. Sheldon encostou o focinho em minha bochecha e me cheirou. Em seguida, apoiou o queixo no meu ombro, talvez tentando dar apoio moral. - Por que ele quis que eu machucasse minha mãe?
 - Ben quer te afastar das pessoas, quer te deixar sozinho, mesmo que tenha de usá-lo para eliminá-las... E seus pais... bem, seus pais são teu porto seguro. Agora que eles estão no hospital e você está sozinho em casa talvez seja perigoso.
 - Hm... o que eu faço, então?
 - Dorme na casa de um amigo. De preferência, numa casa cheia de gente.
 - Okay. Outra coisa, e aquela espécie de bola elétrica que você usou para se separar do Ben?
 - Isso eu só posso fazer nos sonhos, quando meus dons são fortalecidos. Você sabe que no reino das nuvens infantis tudo é possível.
 - Reino das nuvens infantis?
 - É uma forma de dizer Reino dos sonhos para mim.
 - Interessante.
 - Acho que deve ir embora agora.
 - Tem razão. - concordei. - É perigoso ficar até tarde aqui.
 - Uhum. - encostou o focinho no meu nariz. Os olhos dele pareciam abismos profundos, mas não tinham a malícia maligna dos de Ben, havia mais algo imponente, porém humilde. - até logo.
 - Até logo. - levantei-me para pegar minhas coisas em casa e ir passar a noite na casa de Reita.

 - Não, tudo bem, cara. Fica frio, pode dormir comigo...
 - Seu gay! Eu não vou dormir, só passar a noite.
 - Ah, tá bom. - deixou eu passar pela porta. - Bem, você sabe onde é meu quarto.
 - Obrigado.
Uma hora depois, Reita estava dormindo igual uma pedra, mas eu não iria dormir, nem ao menos sentia sono.

Sétimo encontro com o medo


Fiquei olhando a parede do quarto por quase três horas, pensamentos e mais pensamentos confusos enchiam minha mente de agonia. Eu precisava conversar com aquele lobisomem o mais rápido possível.
 Aproveitei que a chuva havia parado e saí de casa em direção à praça. Estava ansioso para ver o cachorro novamente.
 Quando cheguei, a decepção me fez contorcer o rosto.
 - Oi Diego. - alguém falou atrás de mim.
 - ARGH! - pulei de susto. - Sheldon...
Ele não estava mais com roupas de mendigo, na verdade, estava com roupas caras, o que teria acontecido?
 - Parece doente, o que houve? - sorriu docemente para mim. Sua voz não me era estranha.
 - Nada não, só um acidente doméstico com a minha mãe... - notei um corte em seu braço e pela sua aparência, era bem recente. - E isso? O que houve?
 - Acidente doméstico. - riu-se. - Está procurando alguma coisa?
 - Sim, meu cachorro.
 - Como ele é?
 - Ele é desta altura - marquei a estatura com a mão, me referindo ao meu quadril. -, tem pelos longos e negros, e seus olhos são pretos.
 - Qual o nome dele? - seu sorriso aumentou mais ainda.
 - Ehh... sabe, eu ainda nem dei um nome a ele. Faz pouco tempo que o ganhei. - sorri, desconsertado.
 - He he, ele não deve ter ido muito longe. A maioria dos cachorros gosta do matagal dessa praça.
 - Então você não o viu?
 - Não, mas tente procurá-lo à noite. Hoje tem lua cheia.
Sheldon passava uma tranquilidade intensa, era muito bom estar com ele.
 - Você vai a algum lugar? - indaguei.
 - Eu ia tomar sorvete. Quer ir junto?
 - Sim! - bati palmas de satisfação.
Caminhamos lado a lado, conversando sobre a vida, mesmo que ele contasse muito pouco da dele.
 - Quero um de chiclete. - pedi ao atendente da sorveteria.
 - Menta. - pediu Sheldon. - Diga-me, Diego. - voltou-se para mim, depois de pagar. - O que aconteceu com a sua mãe?
 - Bem, ela estava cozinhando e de repente se cortou com a faca.
 - ... - analisou meu rosto. - Huhu, você mente muito bem. - pegou nossos sorvetes.
 - Obrigado, eu acho. E o SEU corte?
 - Bom... eu estava brincando com facas...
 - Como assim?
 - Literalmente eu estava brincando com facas.
 - Ficou louco? Poderia ter te ferido gravemente!
 - Hu hu, não ligo pra isso.
 - Hmm...
Depois de algumas horas conversando com Sheldon anunciei que tinha que voltar para casa.
 - Até logo, então. Cuidado quando vier à praça no sereno.
 - Pode deixar. - fui andando.
Aquela manhã foi iluminada, eu consegui esquecer dos problemas por uns bons momentos e substituí-los por descontração.
Quando cheguei em casa, percebi que tinha um bilhete em cima da mesa.
 "Diego, deixei lasanha pronta pra você no forno. Tive que vir aqui para pegar umas coisas, mas tenho que ficar com a sua mãe. Se comporte, voltaremos em breve." - era a caligrafia impecável do meu pai.
 Almocei com o computador do lado, baixei uns livros para passar o tempo naquele primeiro mês de férias escolares.
Decidi então, contatar Lisa Arcanine, minha vizinha. Ficamos ao telefone até anoitecer, ela me contava o que tinha acontecido no último final de semana, quando foi para a fazenda do tio.
Tomei um banho, coloquei roupas pesadas e saí de casa. Meu destino obviamente era a praça.
Senti calafrios cada vez maiores enquanto me aproximava de lá. Pelos meus instintos, olhei e analisei cada parte da rua, até que me assustei com a figura de Sheldon agachado na grama.
Olhei para trás, vendo se não tinha ninguém observando, mas quando voltei a atenção à Sheldon, a única coisa que estava lá era... o cachorro.

Sexto encontro com o medo


Escrevi a palavra "cachorro" na palma da minha mão direita com caneta esferográfica antes de ir me deitar. Desde antes de ontem, caio no sono com facilidade, era só fechar os olhos e dormir.
 Encontrei-me diante do mesmo ambiente do primeiro sonho. Uma sala branca, mas com supostamente manchas de sangue. No meio, havia uma mesa e duas cadeiras em cada ponta.
 - Ben? - chamei, sentando-me na cadeira mais próxima.
 - Diego. - surgiu de uma porta ao lado, que logo desapareceu.
Esperei ele sentar, mantendo a expressão sem emoção alguma.
 - O senhor quer falar comigo? - indaguei.
 - Pare com isso, você continua fraco.
 - Desculpe, mas não consigo entender o que você quer passar.
 - Aquele maldito lobisomem não te disse nada? - então ele era um lobisomem?
 - Não. - menti, tendo o cuidado para não me entregar. Àquela altura eu já estava ficando nervoso demais.
 - Hu hu hu... - sorriu um meio sorriso. - Você tem que depender de si mesmo, não pense nas outras pessoas, atropele-as e depois esmague-as. - uma faca surgiu na mesa. - Vê isso? Hu hu hu... Agora olhe para o lado.
Obedeci, infelizmente obedeci. Na parede, a figura de minha mãe jazia em cima de uma maca. Sua pele estava arroxeada, seus olhos estavam fechados. Vestia um vestido longo de seda branco.
 - Mãe... - sussurrei para mim.
 - Isto é um sonho. - roubou minha atenção para ele. - Mostre que pode fazer as coisas direito. - sorriu.
 - Eu não vou esfaquear a minha própria mãe.
 - Isso é um sonho, não vai poder machucá-la.
Havia algo estranho nos olhos vermelhos de Ben, algo malicioso ou coisa parecida.
 - Não.
 - Gggrr, sabia que você era um humano medíocre e fraco. - pegou a faca e foi em direção à figura de mamãe.
Instintivamente pulei em cima de Ben, que começou a se agitar perigosamente, até que percebeu que tinha uma arma em punhos. Antes que uma tragédia acontecesse, mostrei minha mão direita aos seus olhos.
 - CACHORRO? - vociferou, enquanto caminhava para mais perto da maca. Ele se agitava como nunca. - GGGGGGGGRRRRRRRRRR... - levantou o braço para acertar algo que eu não sabia o certo: ou eu ou minha mãe. Mas quando olhei mais pra frente, em cima do corpo, "aquele lobisomem" se postava em ataque.
 - DEIXA O DIEGO EM PAZ! - pulou em cima de Ben.
Agora, se não fosse trágico, seria cômico. Eu atrás e o cachorro na frente do monstro, tentando impedí-lo de fazer alguma besteira.
 - NÃO! - era a voz do lobo.
Ben conseguiu me desprender, eu corri para ver mamãe... o monstro conseguiu ferí-la no ombro. "Isto é só um sonho", pensei, tentando me aliviar.
 - VAI EMBORA, DIEGO! - o cachorro berrou, fez uma espécie de bola elétrica na boca e soltou em Ben, fazendo-o voar longe.
Então acordei.
 - AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHHHHHHHH - era a voz de mamãe.
 Corri para o quarto de meus pais.
 - LÍLIAM! - meu pai acordara num pulo.
Ela sangrava muito no ombro e soluçava bastante também. Sua pele não estava arroxeada, mas bastante pálida.
 - DIEGO, CHAME UMA AMBULÂNCIA!

Ben tinha me enganado... Ele quase me fez ferir minha própria mãe... Ele é um monstro... E eu não posso deixá-lo tomar conta de mim...
Chovia lá fora, e não passava das 5 horas da madrugada. Meus pais estão no hospital agora, não sei como mamãe está.
Depois de tudo o que aconteceu, eu desisto de dormir. Olhei para a minha mão, a tinta da caneta havia desaparecido. Como será que o  lobisomem está agora?

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Quinto encontro com o medo


O vômito teimava em sair, eu estava doente. Minha temperatura elevou-se dois graus além do normal,  e isso tudo com certeza teria a ver com Ben; mas... eu precisava ver aquele cachorro novamente, não importa como.
Esperei meus pais dormirem - mesmo com ordem de ficar na cama e não sair dela - para conseguir sair de casa. Peguei meu casaco preto, calcei meu tênis e saí em direção à praça.
Olhei no relógio de pulso, meia noite em ponto. O cão estava lá, rolando na grama.
 - Sabia que viria. - ele disse, sem mexer a boca.
Perguntei-me se aquilo não passava de um sonho - ou no mínimo um pesadelo mal elaborado -.
 - Hmm... - queria expressar meus sentimentos, mas algo me bloqueava - Oi.
 - Hu hu... Ben não gosta de cães. Até a menção o desagrada, o faz saltar de medo.
 - Por quê?
 - Porque o cachorro simboliza o bem, a felicidade. O cachorro te protege do terror. Lembra do teu Golden Retriever?
 - Como sabe?
 - Eu sei de tudo sobre ti, meu caro Diego.
 - Hmm... Luke... - lembrei. - Ele deu a vida para não deixar que aquele palhaço me pegasse.
O tal "palhaço" foi um maníaco que estava a solta na cidade. Ele se disfarçava de palhaço para se aproximar de crianças, e então, matá-las. Luke pareceu prever o perigo, e saltou nele antes que pudesse encostar em mim. Todavia, o cretino sacara uma faca, mas não sem antes ter a outra mão extremamente mutilada - esta teve que ser amputada depois -.
Agora não sei de quem devo ter mais medo, de Ben ou desse cachorro na minha frente.
 - Ben vai ter que deixar o teu corpo mais cedo ou mais tarde.
 - Como sabe de tudo isso? Me explica essa avalanche de acontecimentos! Eu não estou entendendo nada!
 - Tudo começou com você querendo entender a própria mente, Ben então, foi descoberto. Tal como um ser maligno criado e formado dentro do hospedeiro, ele quer te aterrorizar, é como uma alma perturbada.
 - Qual o motivo dele estar fazendo isso? - engoli em seco. - POR QUAL MOTIVO ELE NÃO ME MATA LOGO?
 - Acalme-se, não o desperte. - postou-se entre quatro patas. - Ele só quer se divertir, e eu quero te ajudar. O escuro é a ausência de luz. Belo, não?
 - É... Belo.
 - Você ainda tem o que aprender...
 - Quero saber quem é você de verdade. Um cachorro? Lobisomem? Lobo? Outra coisa? - franzi a testa, indo sentar em um banco: as náuseas estavam voltando.
 - Muito em breve vai saber.
 - Hm... Se por acaso Ben sair do meu corpo, o que eu faço? - peguei a lata de lixo ao lado do banco e vomitei dentro.
 - Me procure. Leve-me contigo.
 - Hum?
 - O que seus pais achariam de você ter um cachorrinho novo?
 - Huhu - ri com um pouco de humor pela primeira vez na semana. -, eles iriam gostar de saber que superei a morte de Luke.
 - Ótimo. Agora... você deve voltar para casa.
 - Ugh... tenho medo.
 - Não tenha, vai sofrer com isso. Além disso, tem que dormir. - apoiou o queixo no meu joelho.
 - Mas e o Ben? Ele vai me assombrar nos sonhos.
 - Deixe pra ficar acordado na próxima. Ben vai querer conversar com você.
 - E se por acaso ele me atacar?
 - Eu irei me manifestar. Não se preocupe, mas não lhe asseguro 100% de segurança.
 - Hm. Obrigado mesmo assim. - ditei, abraçando-o e afundando meus dedos em seus pelos longos do cangote.
 - Ah, e tem mais uma coisa.
 - O quê?
 - Escreva a palavra "cachorro" em sua mão antes de dormir.
 - Sim. - separei-me dele para ir embora. - Até logo.
O animal sentou-se nas patas traseiras e uivou. Seu uivo me relaxou por dentro, reduzindo minha aflição.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Quarto Encontro com o medo


Corri para casa, sem olhar para trás. Agora o medo desabava em meu ventre e se espalhava por todo o meu corpo. Quando percebi, já tinha chegado à porta de casa. Mamãe estava chorando.
 - DIEGO! SABE QUE HORAS SÃO? - meu pai vociferou.
 - Hm...
 - É QUASE DUAS HORAS DA MADRUGADA! SUA MÃE ESTAVA MORRENDO DE PREOCUPAÇÃO! E SE TIVESSE ACONTECIDO ALGO A VOCÊ?
 - ...
 - ESTÁ DE CASTIGO, NÃO VAI SAIR DE CASA POR UM MÊS!
O bom do meu pai era que ele não alongava as discussões, e por sorte, mamãe não se manifestou, senão estaria levando sermão até o raiar do Sol.
Meu pai tinha razão, eu não devia ter ficado até mais tarde na rua, e poderia mesmo ter acontecido algo comigo.
Quando cheguei ao meu quarto, uma sensação estranha de sono apoderou-se de mim, então caí deitado na cama, adormecendo.

Aquele lugar era totalmente diferente ao sonho anterior. Era um campo, um campo em que a grama e o céu azul eram infinitos. Antes de me perguntar qualquer coisa, um vulto negro pulou da parte mais alta da mata, era aquele cachorro novamente.
 - Diego, eu estou aqui para te acompanhar, não tenha medo, sou teu aliado. - sentou-se em suas patas traseiras.
Sim, era muito estranho um animal falar, mas como eu estava sonhando...
 - Quem é você? - perguntei.
 - Um amigo. Já nos apresentamos.
 - Por que estou aqui? Onde está o Ben?
 - Ssshhh! Não acorde-o! Levei um tempo pra fazer o seu medo se dissipar pelo menos por um instante.
 - Como? Me explique.
 - Me infiltrei na sua mente e causei o adormecimento do monstro.
 - O que é você, afinal?
 - Não importa, temos pouco tempo aqui. Ben pode se infiltrar em qualquer coisa, desde possuir humanos até objetos inanimados.
 - Quem especificamente é o Ben?
 - Ele nasceu do medo. Um espírito em potencial, não consigo explicar.
 - Ele pode me matar?
 - Sim, mas... Ele é possessivo em relação a você.
 - Como assim?
 - Vai te querer só pra ele.
 - Okay, não estou entendendo mais nada.
O cachorro rolou na grama, talvez tentando se aliviar da minha burrice.
 - Enfrente seus medos. - apenas disse, rolando mais um pouco.
Eu iria argumentar, mas de repente o céu ficou negro.
 - Ele acordou. - o animal ficou de pé, fitando o horizonte. - Feche os olhos.
Obedeci.
Então acordei. Era como se eu tivesse levado um choque.

Terceiro encontro com o medo


Decidi ficar mais um pouco pela rua, aspirando suavemente o ar puro, já que Lestate City não tinha muita poluição.
O céu começou a escurecer, um vento gélido atravessou minha espinha: eu não queria dormir, não queria enfrentar Ben novamente tão cedo. A Lua apresentava-se cheia naquela primavera, as sombras ficavam mais longas e junto com isso, um pouco de sono. Caminhei até a praça do matagal, sentei-me num banco e observei o Sol desaparecendo no horizonte. O frio começou a se instalar, mesmo que eu tivesse saído de casa com jaqueta e tudo.
Estiquei as pernas e bocejei; a noite havia caído. Mas de repente, não sei o que era, um lobo, um cachorro abandonado, um lobisomem, apareceu do nada. Ele tinha uma estatura grande, seus pelos combinavam com seus olhos... negros como o abismo fundo. Sua postura era de ataque, como se fosse pular em alguém a qualquer momento.
Eu não sabia o que fazer, será que fugia ou ficava para descobrir realmente o que aquilo era? Bem... mesmo que quisesse fugir, as únicas ações que eu conseguia fazer era pensar e respirar. Então as palavras daquele suposto mendigo chamado Sheldon Moon Wolf penetraram novamente em minha cabeça: "Não importa onde esteja, teus maiores medos vão te perseguir, pois eles se alimentam do teu terror, e é bom estar pronto para enfrentá-los".
Com força de vontade e muito amendrontado, estufei meu peito e levantei do banco, tentando parecer mais ameaçador do que a criatura. Naquele momento eu não pensei, não liguei para os caninos do cachorro saltando para fora da boca, só me concentrei em não expressar quaisquer sentimentos além de desprezo... ou curiosidade no máximo. Estava decidido em batalhar contra meus medos, sejam eles reais ou abstratos em potencial.
Soltei a respiração em um suspiro silencioso, estufei o peito mais uma vez, e com uma voz alta o suficiente para o animal ouvir eu falei: "Não tenho medo de você".
Ele então saiu da postura de ataque e uivou para a Lua, como se comemorasse algo. Daí correu para a rua, desaparecendo na noite.

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Segundo encontro com o medo


O medo me perseguiu não só em sonho, mas também na realidade. Descobri que ele se chamava Ben e me rondava desde o nascimento por ser meu lado negro; ele sabia de tudo, até dos meus segredos mais bem guardados que eu nunca havia contado pra ninguém. Ben muito provavelmente estaria me observando naquele momento.
Sufocado em casa, saí para tomar um ar.
 - Diego, aonde vai? - minha mãe perguntou.
 - Vou caminhar.
 - Não chegue tarde.
 - Pode deixar.
Cheguei até a praça, se aquilo pudesse ser chamado de praça. Lá a grama era alta, as árvores davam sombra para quem ficasse embaixo e um verdadeiro matagal residia livremente lá atrás. Eu então, vi um homem... Um homem anoréxico que aparentava ser um mendigo. Sua pele era incrívelmente pálida, seus cabelos e olhos, extremamente negros como o abismo fundo. Suas roupas estavam rasgadas e estava descalço. Sua aparência era de muito, muito cançaso.
 - Qual o seu nome? - ele veio me perguntar. Olheiras profundas rodeavam seus olhos.
 - Diego Bartolomeu... - respondi, confuso.
 - Hu hu... Sheldon... Moon... Wolf... - farejou o ar de forma estranha. - Não importa onde esteja, teus maiores medos vão te perseguir, pois eles se alimentam do teu terror, e é bom estar pronto para enfrentá-los. - correu para o matagal como se nunca tivesse falado comigo.
Todo aquele pesadelo começou quando eu resolvi enfrentar o que me aflingia. Tentei conversar com o "eu" mais amendrontador antes de dormir, e fui teletransportado - através do sono - mentalmente para uma salinha branca, onde pela janela eu podia ver que chovia sangue. Então Ben apareceu. E eu quis conversar com ele.

Primeiro encontro com o medo


Eu estava vendo aquele monstro asqueroso que rondava meus sonhos de forma insaciável. Ele me dava medo, mas minha voz não se incomodava de se comunicar direito. Seu hálito quente batia em meu rosto como um chicote, brandindo fogo pelas narinas.
 - Então, Diego. Sabe o motivo de estar aqui? - perguntou, sentando-se na cadeira branca manchada de sangue.
 - Talvez... falar de meus problemas? - tentava medir as palavras antes de dizê-las. - Por favor, eu só queria conversar.
 - Grunf... - soltou um resmungo estressado. - Você pensa que os humanos do seu mundinho medíocre vão querer conversar? Cada vida é preciosa, mas poucos fazem valer.
 - O que o senhor quer dizer?
 - Quero dizer que você é fraco. Se quiser só conversar com os outros eles vão te apedrejar.
 - Do que você está falando? - indaguei suavemente, mesmo que estivesse começando a me desesperar.
De repente, chamas surgiram ao nosso redor e o monstro sorriu, mostrando seus dentes afiados.
 - Você já vai saber.
E nesse momento, eu acordei. Atordoado, era verdade, mas não se comparava à mancha de sangue que havia em meu peito.

Divisão

Ah, minha vida, né? Pois bem, é normal pra alguém da minha idade, estudo, durmo, como, durmo, uso a internet, escrevo, durmo, namoro e já disse durmo? Ok, parece que sou vítima da Síndrome da fadiga crônica, mas é só sono normal de adolescente preguiçoso.
Escola é um terror para qualquer aluno, principalmente pra mim, que fico tipo "FFFUUUUUUU" quando o professor resolve dividir a turma em meninos e meninas. Eu fico MUITO, MAS MUITO FULO DA VIDA com isso.
Bom, isso não é problema só meu, outros transgêneros também passam por isso. Chato é que se você reclamar a sala inteira fica em silêncio e novamente "FUUUUUUUUUUUUUUUUUUU". Se bem que eu sempre dou um jeito de passar pro outro lado.


domingo, 12 de fevereiro de 2012

Liberdade de ser


Entre as nuvens,
Tudo muito silencioso
A liberdade passa por meus braços
Bagunça meu cabelo
Apazigua minha alma

Azul céu
Amarelo sol
De repente
Negro céu
Branco Lua
Vermelho ódio
E o voo ainda me é capaz...
Numa doentia fuga

O que é?


Transgenerismo, Disforia de gênero, Distúrbio de Identidade de gênero, Transexualidade. São vários nomes para apenas um distúrbio. É quando uma pessoa nasce se identificando com o sexo oposto.
E por que eu chamo esta espelunca de "O Sorteado"? Simples, em cada 30 mil nascimentos de meninos, 1 sofrerá com um excesso de estrogênio no útero e/ou carrega o gene (ou a combinação de genes) que resultará no Transtorno de Disforia de gênero. Já com as garotas é bem diferente... Em cada 100 mil nascimentos de meninas, 1 será disfórica, ou seja, fui "a Sorteada" entre 100 mil garotinhas choronas.
O transgênero nasce com dois sexos, um psicológico e outro físico, sendo assim, um hermafroditismo meio complexo para quem não quer entender.
Sou meio pra baixo, ainda mais por causa da minha mãe, que não entende e não quer entender pelo o que eu estou passando. Tá ok, tenho 13 anos, uma idade muito nova para decidir as coisas que têm ou não, mas desde sempre sou assim. Ser um garoto é ser eu mesmo.