"Acho que encontrei meu cachorro", pensei.
O cachorro estava se contorcendo na grama, rolando e tirando um pouco do mato, e eu não conseguia acreditar que aquele garoto carismático e doce do Sheldon fosse um lobisomem.
- SHELDON! - corri até ele.
- GRAUHN! - quase mordeu minha mão.
- Calma, Sheldon, sou eu, Diego! - forcei sua boca para se fechar com as minhas mãos até que ele se acalmasse.
- Diego... desculpe por quase te morder... não percebi que era você... Solte minha mandíbula.
- Okay. - obedeci. - Por que não me contou que era lobisomem? E por que não estou tão impressionado, mas sim desacreditado?
- Não era a hora. - sentou-se. - Deve ser porque você já sabia lá no fundo o que eu era.
- Mais alguém consegue ouvi-lo falar?
- Não. Nossa comunicação é por meio de um elo mental.
- Como assim?
- Isso é uma coisa que eu te explico depois.
- Por que não vem pra casa comigo?
- Porque Ben ainda está aí. Eu não posso ficar na mesma casa que ele sendo que ainda está no seu corpo.
- Por quê?
- Ele pode nos machucar, mas quando sai do teu corpo, fica fraco, demora bastante para recuperar o poder.
- E quando ele vai sair?
- Quando perceber que não pode fazer nada contigo enquanto estiver aí.
- Hm, espero que não demore para acontecer. - olhei para baixo. Sheldon encostou o focinho em minha bochecha e me cheirou. Em seguida, apoiou o queixo no meu ombro, talvez tentando dar apoio moral. - Por que ele quis que eu machucasse minha mãe?
- Ben quer te afastar das pessoas, quer te deixar sozinho, mesmo que tenha de usá-lo para eliminá-las... E seus pais... bem, seus pais são teu porto seguro. Agora que eles estão no hospital e você está sozinho em casa talvez seja perigoso.
- Hm... o que eu faço, então?
- Dorme na casa de um amigo. De preferência, numa casa cheia de gente.
- Okay. Outra coisa, e aquela espécie de bola elétrica que você usou para se separar do Ben?
- Isso eu só posso fazer nos sonhos, quando meus dons são fortalecidos. Você sabe que no reino das nuvens infantis tudo é possível.
- Reino das nuvens infantis?
- É uma forma de dizer Reino dos sonhos para mim.
- Interessante.
- Acho que deve ir embora agora.
- Tem razão. - concordei. - É perigoso ficar até tarde aqui.
- Uhum. - encostou o focinho no meu nariz. Os olhos dele pareciam abismos profundos, mas não tinham a malícia maligna dos de Ben, havia mais algo imponente, porém humilde. - até logo.
- Até logo. - levantei-me para pegar minhas coisas em casa e ir passar a noite na casa de Reita.
- Não, tudo bem, cara. Fica frio, pode dormir comigo...
- Seu gay! Eu não vou dormir, só passar a noite.
- Ah, tá bom. - deixou eu passar pela porta. - Bem, você sabe onde é meu quarto.
- Obrigado.
Uma hora depois, Reita estava dormindo igual uma pedra, mas eu não iria dormir, nem ao menos sentia sono.
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