terça-feira, 28 de fevereiro de 2012
14º encontro com o medo
Havia muitas coisas que eu queria perguntar, mas como Sheldon dizia, tudo tinha seu tempo.
- Sheldon, quem eu deveria temer? - indaguei.
- Além de Ben? Palhaços, Kuchisake-onna, espíritos mal-encarados... Uma série de coisas, mas caninos e répteis são uma bela aliança. Pra falar a verdade, você tem que enfrentar seus medos, pois eles te cegam na hora de agir.
- Répteis? Estranho... Mas como sabe que eu tenho medo de palhaços?
- Eu sei de tudo sobre você. Não viu o noticiário hoje?
- Não.
- Pois bem. Havia uma babá na cidade vizinha. Ela estava em serviço quando ligou para os patrões perguntando se poderia cobrir a estátua de palhaço pois a perturbava.
- O que tem a ver?
- Calma. Os pais disseram para ela levar as crianças para fora, pois não tinha nenhuma estátua de palhaço e que iriam chamar a polícia. Todavia, quando chegaram encontraram os três corpos assassinados e nenhuma estátua de palhaço.
- Grunf... - senti os pelos da nuca se eriçarem. Tive vontade de trancar todas as janelas, portas e outras possíveis entradas de casa até aquele maníaco voltar para a cadeia.
- Lembra da sua faca? Se estiver com ela nada vai te acontecer.
- Da última vez eu levei uma mordida de zumbi e estava com ela em punhos.
- Ah, mas você não tinha pegado o jeito.
- Não tenho outra opção a não ser confiar em você. - então percebi. - ESPERA AÍ! NÃO ESTÁ PENSANDO QUE EU VOU FICAR NA RUA PROCURANDO ESSE MANÍACO, ESTÁ?
Uma hora depois...
- Quero que saiba que estou me cagando de medo. - ditei a Sheldon.
Estávamos no meio da rua deserta, cada sombra me fazia prestar mais atenção e jogar a luz da pequena lanterna que trazia comigo.
- Como você sabe que o palhaço vai aparecer por aqui? - indaguei, desconfiado.
- Eu prevejo o futuro.
- Por que não me contou?
- Eu só consigo ver às vezes.
- Então... Eu vou me dar bem com esse palhaço?
- ... Não sei.
- ARGH!
Após mais ou menos meia hora eu já estava de saco cheio de esperar.
- Olha, eu cansei.
- Espere. - o lobisomem puxou-me para mais perto. - Ouça!
O silêncio então fora interrrompido por uma risada típica de palhaços, fazendo meu sangue gelar, eu estava paralisado de medo.
Virei um pouco o rosto, e lá estava ele, um palhaço... com uma mão faltando...
- Olá, garotinho... Kukuku... Seu rosto me é familiar... será que já nos vimos em algum espetáculo? - perguntou ele, sorrindo maníacamente.
Minha respiração estava pesada, mas boa parte do medo fora substituída pelo ódio. Ele era o psicopata que matara Luke.
- Sim, receio que sim... - fitei-o com ódio enquanto se aproximava. Eu já botava a mão no bolso para segurar a faca.
- Diego... acalme-se... - disse Sheldon atrás de mim. Eu havia esquecido de sua presença. - Quando ele atacar você revida.
- Hm... - apenas murmurei.
- Que tal um showzinho de mágica? - indagou ele, caminhando lentamente até mim. Percebi que ele estava escondendo algo em suas costas.
- Você é um palhaço, não um mágico. - retruquei. Mesmo com todo aquele ódio, não conseguia raciocinar direito com a fobia me enchendo o saco de um lado. - O que você faz a esta hora da noite vestido assim?
- Eu faço serviços especiais... - estava pouco menos de 2 metros de mim. - Está ofegante... Minha presença te alegra?
- Não. Você é um assassino!
- Kukuku - não pareceu surpreso. - eu ia te dar uma morte rápida e indolor, mas vejo que você é um garotinho insolente... - de repente sua expressão tornou-se demoníaca, e começou a avançar rapidamente.
- AGORA DIEGO! - meu cachorro berrou para mim.
Mas a única coisa que eu consegui fazer foi segurar firme a faca no meu bolso, nada mais... Enquanto o palhaço avançava mais e mais... Eu estava desesperado por dentro, porém incapaz de agir.
- DIEGO! - gritou Sheldon, quando o maníaco revelou um martelo atrás de si e levantou-o para me acertar.
Esperei pelo pior, mas um vulto negro indo em direção ao palhaço me despertou...
Meu cachorro fora arremeçado contra o asfalto e o psicopata correu para acertá-lo com o martelo em sua barriga, em seguida em seu quadril e depois mirou -apenas mirou- em seu crânio, virando o rosto para sorrir malignamente para mim.
A partir daí eu não poderia nem tinha coragem de ficar parado sem fazer nada. Tirei a faca do bolso, dei um impulso e só percebi o que iria fazer quando já tinha feito.
As tripas do palhaço agora estavam no chão. Minha faca nunca esteve tão suja de sangue.
Sheldon levantou-se do chão meio tonto devido às pancadas, mas ele era forte.
- Não era isso que eu tinha em mente, mas... obrigado. - ditou ele.
Minha respiração ofegante foi se normalizando à medida que minhas pernas escorregavam para me sentar na calçada.
- Você está me induzindo a matar pessoas. - disse eu, pondo a mão na cabeça.
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