quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Sétimo encontro com o medo


Fiquei olhando a parede do quarto por quase três horas, pensamentos e mais pensamentos confusos enchiam minha mente de agonia. Eu precisava conversar com aquele lobisomem o mais rápido possível.
 Aproveitei que a chuva havia parado e saí de casa em direção à praça. Estava ansioso para ver o cachorro novamente.
 Quando cheguei, a decepção me fez contorcer o rosto.
 - Oi Diego. - alguém falou atrás de mim.
 - ARGH! - pulei de susto. - Sheldon...
Ele não estava mais com roupas de mendigo, na verdade, estava com roupas caras, o que teria acontecido?
 - Parece doente, o que houve? - sorriu docemente para mim. Sua voz não me era estranha.
 - Nada não, só um acidente doméstico com a minha mãe... - notei um corte em seu braço e pela sua aparência, era bem recente. - E isso? O que houve?
 - Acidente doméstico. - riu-se. - Está procurando alguma coisa?
 - Sim, meu cachorro.
 - Como ele é?
 - Ele é desta altura - marquei a estatura com a mão, me referindo ao meu quadril. -, tem pelos longos e negros, e seus olhos são pretos.
 - Qual o nome dele? - seu sorriso aumentou mais ainda.
 - Ehh... sabe, eu ainda nem dei um nome a ele. Faz pouco tempo que o ganhei. - sorri, desconsertado.
 - He he, ele não deve ter ido muito longe. A maioria dos cachorros gosta do matagal dessa praça.
 - Então você não o viu?
 - Não, mas tente procurá-lo à noite. Hoje tem lua cheia.
Sheldon passava uma tranquilidade intensa, era muito bom estar com ele.
 - Você vai a algum lugar? - indaguei.
 - Eu ia tomar sorvete. Quer ir junto?
 - Sim! - bati palmas de satisfação.
Caminhamos lado a lado, conversando sobre a vida, mesmo que ele contasse muito pouco da dele.
 - Quero um de chiclete. - pedi ao atendente da sorveteria.
 - Menta. - pediu Sheldon. - Diga-me, Diego. - voltou-se para mim, depois de pagar. - O que aconteceu com a sua mãe?
 - Bem, ela estava cozinhando e de repente se cortou com a faca.
 - ... - analisou meu rosto. - Huhu, você mente muito bem. - pegou nossos sorvetes.
 - Obrigado, eu acho. E o SEU corte?
 - Bom... eu estava brincando com facas...
 - Como assim?
 - Literalmente eu estava brincando com facas.
 - Ficou louco? Poderia ter te ferido gravemente!
 - Hu hu, não ligo pra isso.
 - Hmm...
Depois de algumas horas conversando com Sheldon anunciei que tinha que voltar para casa.
 - Até logo, então. Cuidado quando vier à praça no sereno.
 - Pode deixar. - fui andando.
Aquela manhã foi iluminada, eu consegui esquecer dos problemas por uns bons momentos e substituí-los por descontração.
Quando cheguei em casa, percebi que tinha um bilhete em cima da mesa.
 "Diego, deixei lasanha pronta pra você no forno. Tive que vir aqui para pegar umas coisas, mas tenho que ficar com a sua mãe. Se comporte, voltaremos em breve." - era a caligrafia impecável do meu pai.
 Almocei com o computador do lado, baixei uns livros para passar o tempo naquele primeiro mês de férias escolares.
Decidi então, contatar Lisa Arcanine, minha vizinha. Ficamos ao telefone até anoitecer, ela me contava o que tinha acontecido no último final de semana, quando foi para a fazenda do tio.
Tomei um banho, coloquei roupas pesadas e saí de casa. Meu destino obviamente era a praça.
Senti calafrios cada vez maiores enquanto me aproximava de lá. Pelos meus instintos, olhei e analisei cada parte da rua, até que me assustei com a figura de Sheldon agachado na grama.
Olhei para trás, vendo se não tinha ninguém observando, mas quando voltei a atenção à Sheldon, a única coisa que estava lá era... o cachorro.

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