O vômito teimava em sair, eu estava doente. Minha temperatura elevou-se dois graus além do normal, e isso tudo com certeza teria a ver com Ben; mas... eu precisava ver aquele cachorro novamente, não importa como.
Esperei meus pais dormirem - mesmo com ordem de ficar na cama e não sair dela - para conseguir sair de casa. Peguei meu casaco preto, calcei meu tênis e saí em direção à praça.
Olhei no relógio de pulso, meia noite em ponto. O cão estava lá, rolando na grama.
- Sabia que viria. - ele disse, sem mexer a boca.
Perguntei-me se aquilo não passava de um sonho - ou no mínimo um pesadelo mal elaborado -.
- Hmm... - queria expressar meus sentimentos, mas algo me bloqueava - Oi.
- Hu hu... Ben não gosta de cães. Até a menção o desagrada, o faz saltar de medo.
- Por quê?
- Porque o cachorro simboliza o bem, a felicidade. O cachorro te protege do terror. Lembra do teu Golden Retriever?
- Como sabe?
- Eu sei de tudo sobre ti, meu caro Diego.
- Hmm... Luke... - lembrei. - Ele deu a vida para não deixar que aquele palhaço me pegasse.
O tal "palhaço" foi um maníaco que estava a solta na cidade. Ele se disfarçava de palhaço para se aproximar de crianças, e então, matá-las. Luke pareceu prever o perigo, e saltou nele antes que pudesse encostar em mim. Todavia, o cretino sacara uma faca, mas não sem antes ter a outra mão extremamente mutilada - esta teve que ser amputada depois -.
Agora não sei de quem devo ter mais medo, de Ben ou desse cachorro na minha frente.
- Ben vai ter que deixar o teu corpo mais cedo ou mais tarde.
- Como sabe de tudo isso? Me explica essa avalanche de acontecimentos! Eu não estou entendendo nada!
- Tudo começou com você querendo entender a própria mente, Ben então, foi descoberto. Tal como um ser maligno criado e formado dentro do hospedeiro, ele quer te aterrorizar, é como uma alma perturbada.
- Qual o motivo dele estar fazendo isso? - engoli em seco. - POR QUAL MOTIVO ELE NÃO ME MATA LOGO?
- Acalme-se, não o desperte. - postou-se entre quatro patas. - Ele só quer se divertir, e eu quero te ajudar. O escuro é a ausência de luz. Belo, não?
- É... Belo.
- Você ainda tem o que aprender...
- Quero saber quem é você de verdade. Um cachorro? Lobisomem? Lobo? Outra coisa? - franzi a testa, indo sentar em um banco: as náuseas estavam voltando.
- Muito em breve vai saber.
- Hm... Se por acaso Ben sair do meu corpo, o que eu faço? - peguei a lata de lixo ao lado do banco e vomitei dentro.
- Me procure. Leve-me contigo.
- Hum?
- O que seus pais achariam de você ter um cachorrinho novo?
- Huhu - ri com um pouco de humor pela primeira vez na semana. -, eles iriam gostar de saber que superei a morte de Luke.
- Ótimo. Agora... você deve voltar para casa.
- Ugh... tenho medo.
- Não tenha, vai sofrer com isso. Além disso, tem que dormir. - apoiou o queixo no meu joelho.
- Mas e o Ben? Ele vai me assombrar nos sonhos.
- Deixe pra ficar acordado na próxima. Ben vai querer conversar com você.
- E se por acaso ele me atacar?
- Eu irei me manifestar. Não se preocupe, mas não lhe asseguro 100% de segurança.
- Hm. Obrigado mesmo assim. - ditei, abraçando-o e afundando meus dedos em seus pelos longos do cangote.
- Ah, e tem mais uma coisa.
- O quê?
- Escreva a palavra "cachorro" em sua mão antes de dormir.
- Sim. - separei-me dele para ir embora. - Até logo.
O animal sentou-se nas patas traseiras e uivou. Seu uivo me relaxou por dentro, reduzindo minha aflição.
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